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CRÍTICA: VÔO NOTURNO / Suspense pé no chão nas alturas
“Vôo Noturno” é um filminho B, simples mas eficaz. O problema é que no dia seguinte a gente não se lembra que foi ao cinema. Aliás, eu preferiria ter ido à sessão sem saber nadica de nada, sem ter visto o trailer. Se você é como eu, não leia este texto até depois, tá? A primeira meia hora, quando a gente ainda não conhece as intenções do Cillian Murphy, é a melhor. Pensei direto na musiquinha do medo de avião, em que eu segurei pela primeira vez a sua mão. Daí ele revela pra Rachel McAdams que é um terrorista e que o pai dela vai morrer se ela não ligar pro hotel onde trabalha e mudar um hóspede de quarto. Tudo isso dentro de um avião. Boa parte do tempo a gente fica grudada observando essas duas almas em close, e não acontece grande coisa, o que é ótimo. Até seu terço final, “Vôo” é um suspense minimalista, e também uma experiência nova pro Wes Craven, mestre do horror, criador do Freddy Krueger e diretor de “Pânico”. Sabe quem é. Soa incrível dizer que o filme oferece troços do dia a dia (ninguém derruba o avião, por exemplo), porque no meu cotidiano eu consigo passar várias semanas sem que apareça um terrorista me ameaçando de morte e sem presenciar uma traqueotomia realizada sem anestesia. Mas “Vôo”, comparado a outros produtos hollywoodianos, é bem pé no chão, apesar de se passar nas alturas. O suspense funciona pelo carisma dos dois atores. O Cillian é aquele um que roubava a cena em “Batman Begins” como o Espantalho. Ele também era o bonzinho de “Extermínio”, não que eu me lembre qualquer coisa desse filme inglês. Com seus olhos azuis gelados, o Cillian tá fadado a ser vilão. A Rachel é canadense e fez “Garotas Malvadas” e “Penetras Bons de Bico”. Logo logo ela vai estar substituindo a Julia Roberts no estrelato.
Agora vamos aos fatos totalmente inverossímeis. Imagine que você precise dar dois telefonemas importantíssimos, um pra advertir alguém que você ama e outro pra advertir um cliente. Pra quem você ligaria antes? Deixa eu ajudar. O cliente é americano. Não é suficiente? O cliente é Secretário de Defesa dos EUA. Pô, quem disser que ligaria primeiro pro cliente é um mentiroso desgraçado! Outra surpresa é que no filme há várias cabeçadas. Um usa a cabeça como arma pra bater no outro, entende? Na vida real, mesmo quando a gente bate cabeça bem fraquinho, sem querer, já dói um tempão e deixa galo. Aqui não. E devo confessar que não entendi a posição da Rachel no hotel. Ela é recepcionista ou gerente? Não que eu tenha alguma experiência nisso, mas pensava que um super hotel cinco estrelas tivesse mais de duas funcionárias. Bom, de verdade, o suspense maior pra mim foi imaginar quando os passageiros atrás deles iriam dizer: olha, dá pra ameaçar a moça mais baixinho? Tô escutando tudo e tentando dormir.
Tem ainda um outro probleminha. Suponho que, após o plano todo dar certo (não que haja a menor possibilidade, você sabe como essas tramas são previsíveis), o Cillian teria que matar a Rachel, porque ela poderia identificá-lo. E aí teria que matar todos os passageiros que os viram juntos, não? Ia ser a maior chacina. Mas deixa pra lá. O detalhe legal é quando o psicopata diz pra moça que estudou o comportamento dela durante meses, e que ela mentiu sobre seu drink favorito. Ou seja, ela já mentia antes do bafão todo. No fim, em que um dos personagens tenta acertar o outro com um taco, e bate, bate, bate e erra, tive mais um deja-vu. O maridão havia protagonizado a mesma cena com uma vassoura e um ratinho poucas horas antes. Deu dez a zero pro rato.
Não posso reclamar de “Vôo”, já que depois de sofrer com “Ameaça Invisível”, ver um filminho envolvendo aviação comercial é um alívio. O próximo a chegar será “Plano de Vôo”, com a Jodie Foster. A história parece mais interessante – será a filhinha dela que irá desaparecer em pleno vôo. Não sei quanto a você, mas pessoalmente me preocupo mais com uma criança em perigo do que com um Secretário de Defesa morto.
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