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CRÍTICA: WATCHMEN / Quem vai vigiar o herói azul gigante nu?
Lolinha se apresentando pra missão do título acima. Antes do filme começar, fiquei jogando conversa fora com o maridão, que confessou não saber nada de Watchmen, a história em quadrinhos, perdão, a graphic novel de Alan Moore, que é considerada literatura do mais alto nível. Eu disse que só conhecia o básico, aquele slogan de “Quem vigia os Vigilantes?”. E o maridão, surpreso, perguntou: “Ah, então Watchmen é Vigilantes? É esse watch de vigiar?”. Eu: “Sim, por que? Você pensou que fosse watch de relógio?”. Frente à resposta afirmativa, eu me senti uma expert no assunto, comparativamente falando, porque estava indo ver Watchmen já sabendo não se tratar dos destemidos Homens-Relógio. Mas, durante o filme, toda vez que alguém falava de tempo ou relógio eu apertava a mão do maridão e me perguntava se ele não tinha razão. Nah - eu é que estava certa, pra variar. Ele odiou tanto a aventura que a comparou a Os Vingadores (aquela tragédia com o Sean Connery comandando uma legião de ursinhos carinhosos). Eu até que gostei bastante. Tudo bem, Watchmen podia e devia ser mais curto. Talvez devessem lançar um filme com quinze horas pros fãs da graphic novel, e um com duas pra quem só quer ver o troço no cinema, sem precisar se filiar a um clube pra isso. Do jeito que ficou, tem exposição de mais pra quem não é iniciado, o que mesmo assim deixa os personagens no ar (não literalmente falando). E há também excesso de supers. O início, ainda nos créditos, com aquelas poses, é bem estranho. E demora um tantão pro filme começar, eu acho. Mas tá cheio de coisas legais. Gostei do universo paralelo criado. Não estamos em 2009, nem tampouco nos anos 80. Estamos numa década de 80 em que o Nixon, o presidente mais corrupto que os EUA tiveram, o único que teve que renunciar, está no poder há cinco mandatos, porque “é melhor que os comunistas”. Os soviéticos existem, e a ameaça nuclear paira sobre a Terra. E há vários super-heróis aposentados. Enfim, um mundo em que os EUA ganharam a Guerra do Vietnã. Mas a que a que custo? Precisaram mandar um mega super duper herói pra lá, porque os soldadinhos americanos não dariam conta. E o preço da eterna vigilância é o Nixon mandar pra sempre. O maridão sentiu falta de um super-vilão (fora o Nixon). E precisa? Você tem um super, o Comediante, que mata manifestantes pacifistas, mulheres grávidas, e parece sentir um prazer todo perverso por espancar (e estuprar) mulheres. Você tem outro, o Rorschach (levo dez minutos pra escrever o nome dele), que é um verdadeiro vigilante, do tipo que odeia liberais porque não acredita no princípio de “todo mundo é inocente até ser julgado culpado”. E ainda tem um outro, um gigante azul que brilha no escuro, que é uma máquina mortífera de guerra, explodindo malditos vietcongues com um gesto. Esse, mais conhecido como Dr. Manhattan, anda nu em várias cenas. Apesar disso, achei muito difícil olhar pra ele. Tenho aflição com gente sem pupilas. Não entendi bem o que o Batman tá fazendo no filme. Hã? Como assim? Não é o Batman? Mas é o uniforme dele! Tá, é o Corujão, não sei o nome real. Só sei que ele é interpretado pelo Patrick Wilson e que eu gosto muito que o Patrick mostre seu belo bumbum em tudo quanto é filme (aqui, em Pecados Íntimos, em O Vizinho, esqueci se em Menina Má.com também?) e que eu acho o Patrick lindo mesmo com penteado de nerd. Ele acaba fazendo par com a Espectra, que ganhou o meu prestigiado prêmio de Fantasia Mais Horrenda Já Vista num Filme de Super-Herói. E a Espectrinha não tem uma vida sexual fácil, coitada. Quando um dos supers vai transar com ela, ele broxa e não consegue. O fetichista só consegue depois de se vestir de super, e aí a trilha sonora toca “Aleluia”. Olha, não tem como isso não ser propositalmente sarcástico. Eu gostei. Mas até a broxada é melhor que uma cena de sexo que vem antes, em que o Dr. Manhattan se desdobra em três homens grandões azuis para satisfazer Espectra. O problema é que ele continua consertando sua maquininha ao invés de estar presente no ato, mas jura estar prestando atenção (Homens azuis! Humpf! São todos iguais!). Espectra fica cheateada, compreensivelmente. Ela compara sexo com o doutor com “chupar uma pilha”. Tá, mas esses são os "good guys”, ok? Há um diálogo intrigante, em que um super pergunta, abalado, “O que aconteceu com o sonho americano?”, e o Comediante, um demente, responde: “Este é o sonho americano”. E é mesmo. É o sonho da super potência com poderes absolutos, sem ninguém para pará-la. O Comediante também tenta estuprar uma super-heroína, numa cena forte. Não achei a cena machista, mas vi machismo no fato da mulher se interessar pelo agressor anos depois. E não sei, não dá pra confundir as coisas. O personagem do Comediante é absolutamente misógino e repelente, mas o filme não o glorifica. Watchmen é só um pouco machista, a meu ver, porque os heróis homens podem envelhecer e continuar combatendo, enquanto as mulheres ou viram alcóolatras, e são substituídas pelas filhas, ou morrem. Os “vilões”, que não são páreo pros heróis, são asiáticos, negros, gordos e anões. E os heróis são todos brancos (quer dizer, tirando aquele que é azul). Ainda que alguns de nossos heróis não sejam modelos de comportamento, pelo menos eles são super. Porque não vem dizer pra mim que eles não têm super poderes. Sinto muito, qualquer pessoa desarmada que luta contra vinte carinhas de uma vez e consegue quebrar ossos e neutralizá-los, no meu livrinho é um super-herói. Entendo a ideologia por trás disso de dizer que o super não tem super poderes: é pro garoto na academia de musculação treinar até não poder mais, pra pensar que ele também, com seu esforço, poderá enfrentar sozinho um batalhão. É a ética protestante de que o trabalho enobrece o homem. Eu não caio. O maridão se redimiu um tiquinho ao sair do cinema e avisar que o herói de nome que levo dez minutos pra escrever tem essa alcunha por causa do teste de (dez minutos depois...) Rorschach. Há uma longa cena de flashback usando esses borrões. Mas por que a máscara com borrões do herói fica mudando de manchinhas? Posso chamá-la de Mancha Negra? No meu livrinho essa é uma máscara super poderosa. Escrevo mais uns pontinhos sobre Watchmen neste post, porque isso daqui já tá mais interminável que o próprio filme.
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