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Crítica desmemoriada à política econômica - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 30/09
Fundação Perseu Abramo, braço do PT, culpa ajuste por uma recessão que já havia sido contratada, e propõe mudanças suicidas na condução da economia
Em matéria de política econômica, o PT costuma criticar o segundo governo Dilma pelos seus méritos, sem qualquer referência aos equívocos. A mais recente prova deste cacoete é o primeiro volume do documento ?Por um Brasil justo e democrático?, divulgado segunda-feira pela Fundação Perseu Abramo, braço do partido, com declarações no mínimo polêmicas do presidente da fundação, Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Luiz Gonzaga Belluzzo, interlocutor constante de Dilma ? pelo menos foi.
O documento tem como alvo óbvio a política ?neoliberal? de ajuste da economia. Quanto ao erro de Dilma querer insistir na ressurreição da CPMF, nenhuma palavra. O texto-manifesto da Perseu Abramo reproduz a ideia de que a política monetária (juros) apertada e a intenção de se fazer cortes em gastos são uma ?irresponsabilidade?, porque desconstroem o modelo ?socialmente inclusivo implantado nos últimos anos? (leia-se, Lula), ao aprofundar a queda do nível de atividade econômica.
Em sentido diametralmente oposto ao da política de ajuste, o texto prega o corte dos juros na base da canetada e a desmontagem da meta de superávit primário ? pela retirada dos investimentos do seu cálculo. O resultado seria infalível: descontrole da inflação, explosão do dólar, o que realimentará a inflação numa espiral rumo ao descontrole. E mais recessão. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o inimigo a ser abatido, não se referiu diretamente ao documento. Apenas repetiu o que tem dito: o ajuste fiscal é imprescindível porque abre espaço para a queda natural dos juros. O que ele chama de ?plano do 1, 2, 3?.
Mas como as críticas lulopetistas estão embebidas em ideologia, ramo religioso da política, o argumento mais bem fundamentado é incapaz de convencer os sacerdotes do ?desenvolvimentismo?. Não importa sequer que a recessão em andamento tenha sido plantada no primeiro governo Dilma, quando políticas heterodoxas ao gosto da Perseu Abramo foram executadas. É falso culpar o ajuste pela recessão. Ela já estava contratada pelos equívocos cometidos em Dilma 1. Eis a evolução do PIB em cada um dos quatro trimestres do ano passado: - 0,7%, -1,9%, 0,1% e zero.
Os redatores do texto de crítica ao governo não se recordam desses números. Eles mostram a economia já em desaceleração, apesar de toda a expansão de despesas ? maquiadas pela contabilidade criativa ?, incentivos creditícios a empresas escolhidas pelo Planalto etc. Foi assim que as contas públicas explodiram ? 8% do PIB de déficit, disparada da dívida pública rumo a 70% do PIB ?, e daí a necessidade do ajuste. Sem ele, não se restaura a confiança na estabilidade, os investimentos não voltam, tampouco o crescimento.
O sentido da proposta de se retomar a política do novo ?marco macroeconômico", que levou à crise, é resumido na imagem surrada: apagar a fogueira com gasolina.
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