Por Altamiro BorgesJosias de Souza relata em seu blog: “Nesta terça (23), após fazer uma palestra a empresários, FHC conversou rapidamente com os repórteres. Falou sobre corrupção. Sem citar o nome de Lula, o grão-tucano responsabilizou-o pela sistematização dos malfeitos: ‘[É preciso] acabar com a corrupção sistêmica que, na verdade, foi o que foi sendo consolidado no governo anterior [de Lula]’”.
Sobre a presidenta Dilma, FHC evitou repetir as bajulações dos últimos dias. Disse, apenas, que mantém com ela “uma relação de respeito mútuo, só isso. Uma relação civilizada, como tem que ser. Acho que é uma coisa normal”. Ao atacar o "governo anterior", porém, FHC deixou implícita a crítica a atual ocupante do Palácio do Planalto, que foi peça-chave na gestão do ex-presidente Lula.
Os ingênuos do PlanaltoNo que se refere às bravatas de FHC contra a corrupção, até o blogueiro da Folha, admirador dos tucanos, foi forçado a relativizá-las. Ele lembrou que “nos seus dois reinados, também vigorou o regime de toma-lá-dá-cá que fomenta a cleptocracia brasileira. Recorde-se que, sob FHC, Jader Barbalho mandou e, sobretudo, desmandou na $udam. Renan Calheiros foi ministro da Justiça”.
O que chamou a atenção na entrevista, portanto, foi o ativismo do ex-presidente contra o “governo anterior”. Alguns ingênuos que habitam o Palácio do Planalto até andavam elogiando FHC, afirmando que ele estava se afastando do oposicionismo raivoso do rejeitado José Serra e adotando um comportamento mais civilizado. A entrevista desmente esta leitura infantil, bucólica.
Chefão do bloco neoliberalFHC é o chefão de um bloco de forças que foi afastado do governo central. Além do preconceito de classe contra o operário Lula, ele encabeçou a ofensiva neoliberal no país, que resultou no desmonte do Estado (privatizações), da nação (o projeto neocolonial da Alca seria o ápice do seu entreguismo) e do trabalho (com recorde de desemprego e flexibilização das leis trabalhistas).
FHC nunca renegou estas teses e nem as frações da classe burguesa que lucraram com elas. Por isso, ele fica tão irritado quando alguém critica a “herança maldita” do seu triste reinado. Lula, com todas as contradições da sua política conciliatória, representou uma ruptura "suave" com esse projeto. Dilma, que ocupou postos chaves no seu governo, representa a continuidade dessas mudanças.
Objetivos do grão-tucanoNão há possibilidade de “namorico” estável e civilizado entre FHC e Dilma. Os projetos são diferentes, os interesses em jogo são distintos, os blocos de poder são dispares. Com o ostensivo apoio à badalada “faxina” da presidenta Dilma, FHC faz jogo de cena. Ele tenta ganhar tempo para recompor a oposição de direita, que está dividida e sem rumo. FHC é traíra, é bom não subestimá-lo.
Seu discurso moralista e udenista contra a corrupção visa, entre outras coisas, desgastar a imagem do atual governo; colocar uma cunha entre Dilma, a “gerentona” ética, e Lula, o “populista conivente com o fisiologismo”; paralisar a administração federal; e implodir a base de sustentação do governo no parlamento. O jogo é calculado e está em curso acelerado. Não há surpresas!
Carta de Dilma a FHCO que causa surpresa é a postura dos tais estrategistas do Palácio do Planalto. Talvez para agradar as camadas médias, sempre tão influenciáveis pela retórica udenista, eles decidiram eleger a “faxina” como prioridade do governo. Também optaram por criar um clima de “namorico” com os principais inimigos do projeto representado por Lula – como os barões da mídia e o próprio FHC.
A carta enviada por Dilma por ocasião do aniversário de 80 anos de FHC foi, talvez, a principal peça da estratégia de “paz e amor”. A presidenta bajulou o ex-presidente – “acadêmico inovador”, “político habilidoso”, “democrata” - e fez rasgados elogios ao seu governo – “que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”. O egocêntrico FHC gozou e a mídia demotucana soltou rojões. Já a base de apoio do governo ficou atônita. Quem ganhou com esta jogada típica de marqueteiro?
Estratégica política desastrosaSérgio Fausto, diretor do Instituto FHC, afirmou no Estadão (30/7) que a carta teve “importância histórica e significação política, na medida em que desdiz a cantilinária lulopetista sobre a ‘herança maldita’”. Editorial da Folha aplaudiu a presidenta “estadista”, diferente do “agressivo” Lula. Até o Valor, mais comedido, afirmou que “gestos de Dilma para o PSDB ajudam a distensão política”.
Do que adiantou esta “trégua”? Para que serviu tamanha despolitização da sociedade brasileira? No que isto ajudou a militância a enfrentar os momentos de dificuldades do governo Dilma? A resposta a estas perguntas é simples: a estratégia marqueteira do “namorico” só ajudou os inimigos. Agora, FHC, o traíra, está mais afiado do que nunca. Ele ataca a “corrupção sistêmica”, visando atingir Lula e, principalmente, Dilma. Já o governo encontra-se acuado, sendo pautado pela mídia demotucana.
Por Altamiro Borges Um dia antes da queda do ministro Orlando Silva, alvo da cruel artilharia da mídia demotucana e dos ataques histéricos de líderes do PSDB e do DEM, Dilma Rousseff recebeu Fernando Henrique Cardoso para um jantar de gala em Brasília....
Por Altamiro Borges A corrupção é uma praga que prejudica principalmente o trabalhador – que paga impostos e que mais necessita que este dinheiro seja revertido em escolas, hospitais, transporte, etc. Qualquer desvio dos recursos públicos deve ser...
Por Altamiro Borges Testando o clima político, a mídia demotucana tem atiçado os seus leitores, telespectadores e ouvintes para sentir se há condições para a convocação de protestos de rua contra o governo Dilma. O mote dos filhotes de Murdoch...
Por Altamiro Borges A saída de Antonio Palocci, anunciada numa nota lacônica na tarde de ontem, já era esperada. A sua permanência no mais alto posto do governo, apesar da decisão do procurador-geral que o inocentou, era insustentável. A cada dia...
Por Altamiro Borges Durante quase cinco meses, a mídia demotucana deu uma trégua para Dilma Rousseff. Na campanha do ano passado, a imprensa insinuava que ela era um “poste”. Depois de eleita, passou a tratá-la como “estadista”, tentando cavar...