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CURSINHO DE PRECONCEITO EM FORMA DE PIADA
Sobre piadas preconceituosas nos cursinhos (e o combate a elas), surgiram muitos comentários interessantíssimos:
"No ensino médio, eu tive um professor de história que era excelente. Engraçado, divertido, sabia prender nossa atenção e... pasmem! Não fazia piadas preconceituosas. Meldels, como pode alguém conseguir ser divertido e engraçado sem apelar pra piadinhas racistas/ homofóbicas/ machistas/ whatever? Ele conseguia. É uma questão de usar inteligência, criatividade, de saber inovar e pensar em formas diferentes de fazer humor. Tem que usar a cabeça, os neurônios, raciocinar. Quem não tem nada disso, apela pra essas piadinhas idiotas porque são mais fáceis. Agora vai aparecer um monte de reacinha mimado falando que não pode fazer piada com mais nada, mimimi, estão acabando com o humor, mimimi, politicamente incorreto está estragando tudo, mimimi... porque na cabeça desse povo, a única forma de humor que existe é aquela que ofende as pessoas. Parece que seus cérebros minúsculos não podem pensar em nada diferente disso. E na boa... desde quando fazer piada com grupos oprimidos é revolucionário e politicamente incorreto? Se não me engano, as pessoas vem fazendo isso há séculos, não tem nada de original nisso. Qualquer ameba consegue fazer esse tipo de humor e qualquer ameba é capaz de rir dele." (Mallagueta Pepper)
"Eu tive uma experiência bastante ruim no que se refere a preconceitos. Mas eu precisava tanto das aulas (só fazia porque tinha bolsa) que seguia em frente, um dia de cada vez. Uma vez teve um professor que resolveu brigar com um aluno que o provocava. O sujeito o xingou de 'filho da puta' e disse 'sua mãe está dando'. Claro, porque pra ofender um homem é a sexualidade da mãe dele que vira alvo.
Acho que o mais grave que aconteceu comigo foi um professor (o mesmo que havia achado surpreendente eu responder algo certo por ser mulher) ter me coagido a dar um beijo num moleque aniversariante. Eu não queria; mas ele insistiu tanto, disse que era só um 'ósculo', e eu acabei beijando só pra aquele tormento acabar. Hoje percebo que isso foi um abuso." (Patty Kirsche)
"Quando eu fiz cursinho, na Fortaleza do ano 2000, um professor de literatura ao 'analisar' o conto 'Preciosidade', de Clarice Lispector, disse: 'se eu passasse em um beco de madrugada e encontrasse uma mulher, eu também dava pelo menos uma dedada... Quem não daria, se não tivesse ninguém olhando?'. Aquilo me causou profundo mal-estar de imediato, e me senti bem pior quando a maior parte da sala riu. Nunca esqueci. Obviamente, hoje, eu não me calaria como me calei (e baixei a cabeça) há 14 anos." (Anônimo)
"No Anglo Tamandaré, as piadas preconceituosas eram frequentes e até incentivadas pelos professores. Lembro como era humilhante ouvir a sala toda cantando a 'música da visita', destinada a garotas de outras salas que vinham assistir à aula de determinado professor. Era uma letra cheia de xingamentos e convites a situações de caráter sexual. Imagine ouvir vários garotos cantando isso enquanto batem nas carteiras e olham pra você com olhar de deboche. Eu tinha que abaixar a cabeça enquanto ouvia 'senta na ponto do meu pau' em coro. Para muitos era apenas uma brincadeira, uma piada. Para mim e para tantas outras garotas, era humilhante." (Lidia)
"Eu tive um professor de matemática que vivia fazendo piadas preconceituosas. Humilhava especialmente um aluno que tinha cabelos crespos dizendo que a mãe dele devia gastar dinheiro demais com fronhas novas já que o cabelo dele rasgava todas. O surpreendente é que a própria turma se rebelou contra o professor e formalizou uma reclamação na direção, e o cara parou de palhaçada. Foi a melhor turma em que estive, nenhum colega sofria bullying! Estudei nessa escola só um ano porque era cara demais, mas foi uma experiência legal. Mais do que conteúdo eu aprendi muito sobre respeito!" (Anônimo) [Eu: adorei este comentário porque ele mostra como alunos muitas vezes fazem bullying "inspirados" por professores].
"Em um cursinho pré-vestibular eu tive um professor que foi precursor do Marco Feliciano. Ele disse que quando Noé amaldiçoou Cam, a pele dele se tornou negra e os cabelos ficaram crespos (não sei de onde ele tirou isso), e que a religião Candomblé tem origem nisso, no filho amaldiçoado Cam, de Candomblé (muita ignorância e burrice juntas). Um professor de geografia tão ignorante, que não sabe que uma palavra (Cham) tem origem no hebraico e nada tem com a palavra do continente africano de origem Bantu. Mas com certeza ele gostou dessa versão (por ser racista) e a adotou, sem procurar saber se era verídica. Mas ensinar em um cursinho pré-vestibular, enquanto ensinava sobre etnias é brincadeira. Claro que ele usou o famoso: 'de acordo com a Bíblia (uma grande mentira)'. Como aquilo me magoou, ainda mais quando lembro da expressão de deboche racista dele ao contar isso! Pena que eu não tinha conhecimento para debater com ele na época. Fiquei chocado, mas sem saber o que responder." (Eduardo Nobre)
"Eu tive um professor de Literatura no cursinho que dava a melhor aula de todas que eu já tive na vida. Nunca precisou fazer piada com quem já era pisado todo dia. Eu fechava o livro e viajava nas palavras dele. Sensacional. Em compensação, o professor de matemática, no primeiro dia, antes de começar a aula, 'provou' que mulher = problema. Eu, no alto dos meus 18 anos, nunca tinha namorado, poucos amigos, fiquei sem entender o porquê de eu ser um problema." (Luiza Original)
"Olha, Lola, faço cursinho no Anglo da Sergipe e posso dizer que o preconceito continua firme e forte lá. Mostrei a matéria da Folha pra uns colegas e todos a acharam ridícula e desnecessária. Antes de começar o cursinho ouvi de diversos amigos que os professores eram brilhantes, e foi impossível não me decepcionar quando comecei a perceber os preconceitos. A minha impressão é de que as aulas são ministradas por homens (brancos, heterossexuais, cis, de classe média-alta, o bonde da opressão todo) para garotos idem, durante as quais eles gostam de zoar aqueles seres não tão importantes: as mulheres, os homossexuais e os negros. Coisa mais comum é ouvir os profs falando coisas machistas e logo depois completar 'imagina, hein, não sou machista, é só brincadeira'. Já o racismo parte só dos alunos mesmo. Os que se incomodam com essas 'piadas' são minoria absoluta e, claro, sempre vistos como chatos estraga-prazeres." (Anônimo)
"Eu adorei ler essa notícia, trabalhei como professora de línguas em cursinhos e era um ambiente horrível. A maioria dos professores é homem e, pelo menos na época, muito machistas mesmos, não todos, felizmente. Uma vez uma amiga foi me substituir e ficou horrorizada: 'como você aguenta?'. Eu não passava muito tempo na sala dos professores para não ouvir as gracinhas, sim, além das salas de aula tinha também a sala dos professores. Eu fico muito feliz com esses jovens que reagem, que não engolem o preconceito. É bom pra todos, até para o próprio professor aprender que isso não é legal, pensar duas vezes antes de soltar a bobagem. " (Leila)
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