Esse logo que a Starbucks ressuscitou para apenas um de seus produtos é baseado num de 1971. Não sei se dá pra você notar porque o desenho é pequeno e geralmente vem num copo embaçado, mas nesse logo de quase quarenta anos atrás o cabelo da sereia não cobria bem seus seios. Seus mamilos apareciam, ó tragédia! Nos EUA mamilos são um tabu sem tamanho, como a gente viu na TV quando caiu a alça de um vestido da Janet Jackson numa transmissão do Super Bowl. Foi por causa desse escândalo – afinal, a imagem de um mamilo pode destruir toda a moral e os bons costumes da civilização ocidental – que, hoje em dia, a transmissão de shows ao vivo pela TV não é mais ao vivo, e sim com alguns segundos de atraso. Sabe, pra evitar que algo assim ocorra novamente, porque seria o fim da América e, por consequência, do mundo livre. Antes do grupo religioso pregar boicote à rede, a Starbucks “corrigiu” o logo, cobrindo os mamilos, graças a Deus. Não foi suficiente.
Como feminista, não gosto muito de imagens de mulher pra vender coisas. Mas acho que nunca teria me dado conta do logo da Starbucks se não fosse a campanha contra. Até porque a marca da franquia é de uma sereia, que tem toda uma mitologia de atraiar homens, mas é uma sereia, não exatamente uma mulher. (Outro motivo que eu não teria reparado no logo é porque acho que entrei numa Starbucks uma vez, vi os preços, e saí rapidinho).
Existem vários motivos pra se boicotar uma Starbucks, como o fato de uma grande cadeia acabar com as lojas menores na região, e do preço ser um tanto salgado. Mas esse do logo não deve ser um deles. Um blogueiro americano disse que é um sinal da falta de educação sexual nas escolas e das campanhas pró-abstinência que um grupo religioso não consiga diferenciar um pé de uma barbatana.
Mas o legal daqui é que uma mulher não precisa abrir as pernas ou mostrar os mamilos pra levantar a ira dos conservadores. Tá vendo a foto abaixo?Chocante, não é? Eu nem sei quem é, uma tal de Rachael Ray num anúncio do Dunkin' Donuts. O problema aqui não é a falta de roupa, mas o oposto. Note o lenço/cachecol/sei lá (não entendo lhufas de moda), enfim, o troço que ela tem no pescoço. A direita cristã achou que o lenço parecia árabe demais. Pra ela, o treco no pescoço é um keffiyeh, “símbolo de terroristas muçulmanos”. A direita chamou isso de “hate couture” (cultura do ódio) num trocadilho à “alta costura” (eles sabem fazer trocadilhos!). Uma comentarista da Fox News explica que usar um lenço desses equivale a padronizar a violência, e que “na América pós 11 de Setembro, a vigilência nunca deve sair de moda”. A Dunkin' Donuts tirou o anúncio de circulação.
Não sei quanto a você, mas nessas horas eu penso naquele provérbio, “o ócio é a oficina do diabo”.