TO SIR, WITH LOVE
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TO SIR, WITH LOVE


- Isso é uma coleira no seu pescoço ou você só está feliz em me ver?

Essa eu não conhecia. Foi a Cynthia que me avisou, porque eu lembrei que o Bond, James Bond do Sean Connery batia em mulheres (este vídeo dá uma boa idéia do machismo do personagem). Ela me passou um link pro blog da Denise em que ela, via feministing, cita uma entrevista que o Sean deu pra TV em 1987. Como eu não sabia, há chances que outras leitoras(es) minhas também não, então vou falar aqui, ainda que com dois anos de atraso (nunca fui conhecida pela minha agilidade). Parece que o Sean falou, quando ainda era jovem, que “um tapinha não dói”. E ele não tava falando de tapinha erótico, que pode doer bastante pra quem não é chegada, e sim de tapinha disciplinador. Assim, se um homem já esgotou seu poder de argumentação com esse ser irracional que é a mulher, e ela não aceitou a palavra final, que tem que ser dele, aí ele tem mais é que bater, entende? Não de punho fechado. Com a mão aberta. Pra ela aprender.
Como eu tento ir um passo além, encontrei a entrevista de 1965, dada à Playboy. O jornalista pergunta: “Como você se sente em ser duro com uma mulher, como Bond às vezes deve fazer?” (ênfase minha). E a resposta, na minha tradução:
Não acho que há algo particularmente errado em bater numa mulher - apesar de eu não recomendar fazer isso da mesma forma que se bate num homem. Um tapa de mão aberta é justificado - se todas as outras alternativas falharem e houver bastante aviso. Se uma mulher é uma vadia, ou histérica, eu faria. Acho que um homem tem que estar ligeiramente avançado, à frente da mulher - eu realmente acho. Pelo jeito que um homem é construído, se por nenhum outro motivo. Mas eu não me chamaria de sádico. Acho que um dos apelos que Bond tem com as mulheres, no entanto, é que ele é decidido, até cruel. Pela natureza delas, as mulheres não são decididas - “Devo vestir isso? Devo vestir aquilo?” - e se aparece um homem que tem certeza de tudo, ele é um achado. E, é claro, Bond nunca se apaixona por uma garota, e isso ajuda. Ele sempre faz o que quer, e as mulheres gostam disso. Isso explica por que tantas mulheres enlouquecem por um homem que não dá nada por elas.
No-jen-to,certo? Mas Sean teve mais de duas décadas para pensar nas suas declarações e, quem sabe, mudar de opinião. Em 87 a entrevistadora perguntou se ele se arrependia e ele disse que não, de maneira alguma. Lindo, né? Esse cara é um sir. Foi coroado pela rainha. Símbolo sexual geriátrico pra milhões de fãs. Belo exemplo que ele dá acerca da violência contra a mulher.
E pra quem acha que a palavra de um astro não afeta ninguém, vale a pena dar uma olhada rápida no que rapazes comentaram sobre o vídeo. Algo esdrúxulo como isso, publicado um ano atrás (minha tradução):
Connery está certo. Se a situação pede algo um pouco mais drástico que tentativas verbais, dane-se. É uma vergonha que as mulheres tenham que desproporcionar as coisas desse jeito. Ela pode chamar os tiras e fazer com que você seja preso por causa disso. [...] As mulheres têm lutado, e ainda lutam, por direitos iguais. De certa forma, elas levam vantagem sobre nós. Moral da história: escolha bem suas mulheres.
Mulheres assim, no plural. É, pelo jeito tem gente pra quem mulher é que nem cachorro (não que algum cachorro meu tenha recebido algo além de carinho): de vez em quando precisa de “algo mais drástico”. E como a vida é injusta! Um tapinha disciplinador e o homem pode ir pra cadeia, coitado! Sim, claro, vamos consultar mulheres vítimas de agressão pra constatar como é fácil prender o agressor! O que mais me cansa é essa inversão de que oh, a vida é tão dura pros homens, e oh, as mulheres têm muito mais direitos. É como o pessoal da direita cristã afirmando que racismo não é a Ku Klux Klan, mas o fato dos negros terem votado no Obama porque, afinal, votaram em alguém por causa da cor (ignorando a estatística que os negros americanos sempre votam no candidato democrata). Ou seja, se nós, mulheres, algum dia elegermos uma mulher pra presidente, estaremos sendo sexistas. Porque o justo mesmo é a gente fechar os olhos pra raça e pra gênero, fingir que essas coisas não existem - desde que os candidatos sejam sempre brancos e homens.
E vamos aproveitar e fechar os olhos também pros nossos amos disciplinadores, que só querem nos educar. Como a gente tá cansada de saber, violência contra mulher nem é violência - é amor!
Nessas horas eu penso seriamente em virar terrorista.




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