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Dados mais gerais - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/08
Hoje, a pesquisa de emprego do IBGE é feita apenas em seis cidades. A partir de novembro, começarão a ser divulgados os dados de 3.400 municípios. O país terá pela primeira vez um indicador de desemprego nacional. Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, diz que a pesquisa já está em testes desde 2011: é a Pnad Contínua, um antigo projeto do instituto.
A PME é mensal e só é coletada no Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre. A Pnad traz dados do Brasil inteiro, mas só uma vez por ano. O esforço foi fazer algo com a periodicidade da PME, mas com a abrangência da Pnad. Inicialmente, os dados serão divulgados trimestralmente, mas, depois, passarão a ser mensais.
Cimar me contou isso numa entrevista que fiz com ele e a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Joana Monteiro, sobre um tema que frequenta sempre esta coluna: o alto desemprego de jovens, e, pior, o alto número de jovens que nem estudam, nem trabalham, nem estão procurando emprego. Cimar incluiu outro "nem": o IBGE tem perguntado aos jovens que não estão estudando ou trabalhando se eles estão fazendo algum curso de qualificação no momento. A maioria não está.
Os números estão exigindo das políticas públicas, dos especialistas, formadores de opinião, educadores, empresários uma dedicação maior ao tema. De 16 a 24 anos, são 15% os desempregados, ou seja, os que procuram emprego e não encontram. Já foram 22%, há dez anos, portanto, melhorou. Mas há dois pontos a considerar. Primeiro, havia caído mais, e agora voltou a subir. Segundo, quando a taxa era 22% era o dobro do desemprego médio da população; agora, que o mercado de trabalho está melhor, o desemprego dos jovens passou a ser o triplo da média do país. Uma boa notícia, contou Cimar, é que os jovens que entram no mercado de trabalho estão com um percentual maior, até 60%, de carteira assinada.
Joana Monteiro tem estudado o fenômeno dos nem-nem-nem. Não estudam, não trabalham, não procuram emprego. São 17% da população de 18 a 24 anos. A maioria, mulheres que tiveram filhos e ficam em casa cuidando deles.
- Mas se você exclui as mulheres com filhos, o grupo até aumentou a partir de 2006, de 8% a 10%. Esse grupo é muito representado por pessoas de baixa escolaridade e de famílias bem pobres. Entre as pessoas com até cinco anos de estudo, 30% não estão trabalhando, nem estudando, nem procurando emprego. Na minha opinião, é o grupo com o qual temos que nos preocupar mais, porque eles correm risco de permanecer sempre dependentes de programas de transferência de renda - diz a pesquisadora.
Se ficarmos apenas nessa faixa dos 18 a 24 anos, há quatro milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Há pesquisas que alongam a faixa etária até 29 anos, o que dobra o número desses jovens que não estão se qualificando nem estão dentro do mercado de trabalho.
Cimar Azeredo acha que esse fenômeno tem que continuar sendo monitorado e que a Pnad Contínua, ao dar informações mais amplas do país, poderá informar melhor os pesquisadores que se dedicam ao problema. Joana acredita que o fenômeno não está inteiramente entendido. Sugere que o IBGE faça mais perguntas para entender a cabeça desses jovens que, por desalento, falta de oportunidades, erros da política educação, barreiras no mercado de trabalho, não estão se preparando.
Por razões demográficas, o Brasil tem menos jovens entrando no mercado de trabalho a cada ano, em comparação com o passado. Mais um motivo para o não se perder a força e a capacidade desses jovens que, por uma falha coletiva, o país está perdendo.
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