Deflação: armadilha europeia - GILLES LAPOUGE
Geral

Deflação: armadilha europeia - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 16/11

Boa notícia: a Europa sai, enfim, da crise da dívida. Má notícia: apenas o céu começava a desanuviar, novas nuvens começaram a escurecer o horizonte, com um nome assustador: a deflação.

Prova de que a Europa virou a página da crise: o grupo do euro aprovou, na quinta-feira, o fim do planos de ajuda a Espanha e à Irlanda, implementados nos dois anos após o naufrágio de seu setor bancário. Isto quer dizer que a austeridade que causou tantos desgastes nos país e em toda a Europa meridional vai enfim ser abandonada.

Isto era motivo para todo o mundo ficar contente, mas uma nova sirene tocou para anunciar um renovado perigo: a deflação. Este ano, a inflação média na zona do euro caiu para 0,7% enquanto o Banco Central Europeu (BCE) tinha a missão de manter a inflação média em 2%. Na França, ela está em 0,7%, mas na Espanha caiu para zero. Na Grécia, está negativa, em - 1,9%.

A deflação é um inimigo muito perverso porque as pessoas não compreendem que ela injeta veneno nas veias da economia. Um efeito da deflação? Uma queda duradoura e generalizada nos preços. É bom que se diga que as famílias e os consumidores acolhem uma queda nos preços como uma bênção. Eles gastariam menos para fazer suas compras ou adquirir eletrodomésticos. Mas a deflação elimina o crescimento.

As famílias adiam suas compras na expectativa de novas quedas de preços, o que reduz as encomendas das empresas, penalizando com isso os salários, os investimentos e, por conseguinte, o crescimento. E por um efeito automático, a queda dos preços infla o custo do financiamento dos Estados. Em suma, a dívida pública, em vez de cair, continua a crescer.

Como explicar que a Europa, no exato momento em que reencontrava um pouco de fôlego, fosse assaltada por este novo inimigo, a deflação? Um fator pesou fortemente aqui: a queda dos preços da energia (na França, por exemplo, eles caíram 1,7% em um ano). Mas há também um fator específico desta "máquina infernal" que é a zona do euro.

De fato, como a moeda única (o euro) administrada pelo BCE substituiu as moedas nacionais, cada país perdeu a soberania de sua moeda. Por conseguinte, ele não pode desvalorizar. A Grécia, por exemplo, quando foi sacudida pela crise da dívida, teria podido se safar desvalorizando sua moeda, o dracma.

Agora isto está fora de questão, infelizmente: o drama não existe mais. Ele foi substituído pelo euro. O que fizeram então os países estrangulados? Procederam o que se costuma chamar de uma "desvalorização interna".

Procuraram reconstruir sua competitividade - as vezes com sucesso - reduzindo os salários e os preços. Aí se origina a espiral da deflação.

Um dos encantos da economia e, sobretudo, das teorias econômicas, é que a todo momento escutam-se da boca dos especialistas e dos banqueiros tudo e o seu contrário. Por exemplo, há economistas muito sérios que defendem a teoria oposta. Os alemães têm em geral uma grande ternura pela deflação. Michael Heise, economista-chefe da seguradora Allianz, em Munique, longe de maldizer a deflação a aceita e quase a deseja. "A redução dos preços na zona do euro é uma boa coisa." E ninguém duvida que a chanceler Angela Merkel tenha a mesma opinião. Tudo, menos inflação! Ante essas advertências, o campo dos "antideflacionistas" responde citando um exemplo contemporâneo: o poderoso Japão se debate há 20 anos nas areias movediças da deflação. Ao que parece, ele está começando a se livrar de seu abraço mortal, mas depois de quantos anos perdidos e quantas cicatrizes em todo o tecido industrial do país! / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK




- Economia Brasileira Na Contramão Do Mundo - Editorial O Globo
O GLOBO - 17/10 Se a economia externa explicasse tudo o que ocorre no Brasil, não faria qualquer sentido haver riscos de deflação lá fora e o país estar com uma inflação de 6,75% Os mercados mundiais passam por turbulências que há algum tempo...

- Entenda A Deflação - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 19/11 A inflação aleija e pode matar; a deflação, também. Depois de passar meses a fio temendo os efeitos da inflação sobre a economia, os europeus agora temem o contrário (veja o gráfico). Primeiro, o conceito. Muita gente...

- O Euro Forte - Gilles Lapouge
O Estado de S.Paulo - 07/11 A moeda comum europeia é insuportável. Faz o que dá na cabeça. Adora paradoxos. Ao mesmo tempo em que a economia da zona do euro encontra dificuldades para deslanchar, o euro continua a mostrar sua força. No mesmo dia...

- Quatro Coelhos De Uma Cajadada
Como mostra este quadro do Financial Times, o câmbio euro-dólar aproxima-se da paridade, mercê de uma desvalorização do euro (cortesia do BCE ao inundar o mercado com euros todos os dias) e de uma simultânea revalorização do moeda norte-americana....

- Notícias Da Crise
«Inflação na zona euro inverteu em Fevereiro tendência de queda». Se não for um dado acidental, pode ser uma boa notícia, significando o fim da contracção da procura (sem a qual não haverá retoma económica) e o afastamento do perigo da deflação....



Geral








.