Por Valdo Albuquerque, no jornal Hora do Povo:De janeiro a setembro deste ano, nada menos que 247 empresas nacionais foram adquiridas por multinacionais, um recorde, superando de longe o número de empresas desnacionalizadas (157) no mesmo período em 2011. O escândalo torna-se ainda maior quando comparado com todo o ano de 2011, que totalizou 208 empresas compradas por estrangeiros.
Os números foram extraídos da última “Pesquisa de Fusões e Aquisições” da consultoria KPMG. Eles correspondem às operações “cross border 1” (cb1), o que significa “empresa de capital majoritário estrangeiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no Brasil”.
Os números da consultoria, especialista em fusões e aquisições de empresas, apontam que a quantidade de empresas desnacionalizadas em nove meses de 2012 é superior a de um ano inteiro desde 2004, quando foi iniciada a pesquisa. Naquele ano 69 empresas nacionais foram compradas por multinacionais. Em 2005, mais 89; no ano seguinte, 115; em 2007, aumentou para 143; em 2008, mais 110; em 2009, mais 91; em 2010, pulou para 175; em 2011, saltou para 208. Ou seja, de 2004 até o terceiro trimestre de 2012 o número de empresas desnacionalizadas atingiu 1.247.
De acordo com a KPMG, “os estrangeiros foram maioria na ponta compradora, e compensaram com sobras a queda do número de transações domésticas neste ano”. “Nossa interpretação é a de que continua com força o interesse de aquisições pelas empresas estrangeiras no mercado local, o que tem mantido aquecido o segmento de Fusões e Aquisições no Brasil, apesar da crise internacional”, afirmou Luis Motta, sócio-líder na área de Fusões e Aquisições da KPMG no Brasil.
Na comparação dos três primeiros trimestres (janeiro a setembro), a cada ano, a trajetória também é de crescimento galopante, com uma ligeira queda observada em 2008 e 2009, principalmente, já com os Estados Unidos em plena crise, voltando a disparar em 2010, quando uma montanha de dólares já percorria o mundo, após as superemissões (“quantitative easing”) de dólares pelo FED, isto é, com a guerra cambial deflagrada pelos EUA.
Conforme a pesquisa, alguns setores nos quais as multinacionais adquiriram o controle de empresas nacionais no terceiro trimestre deste ano (entre parênteses o número de empresas desnacionalizadas): tecnologia da informação (33), serviços para empresas (20), empresas de internet (19), publicidade e editoras (10), alimentos, bebidas e fumo (10), mineração (9), óleo e gás (8), educação (7), shopping centers (7) e imobiliário (7). E assim ocorreu em outros segmentos – como supermercado e açúcar e álcool -, em um total de 35.
Nessa marcha batida – que já inclui até cachaça e churrascaria -, não vai sobrar nem carrinho de pipoca em mãos nacionais. E o pior é que a equipe econômica não só cruza os braços e fica olhando a banda passar, como aposta todas as suas fichas no ingresso de investimentos diretos estrangeiros (IDE) – capital para compra de empresas nacionais – para cobrir o rombo nas contas externas. Ou seja, mais desnacionalização, que implica em mais remessas para o exterior.
Resumo da ópera: quanto maior a desnacionalização, mais se transfere para o exterior as decisões sobre os rumos da nossa economia. O que implica em abrir mão de qualquer projeto de desenvolvimento nacional.
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