DEVANEIOS DE NATAL
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DEVANEIOS DE NATAL


Eu entre meus dois irmãos, em algum natal do século passado.

Desculpem, mas, como não tenho um só osso espiritual no corpo (e, olhando daqui, nem parece que tenho mais ossos), natal, pra mim, é só consumismo. Não me lembro dos natais da minha infância, apenas que não gostava muito deles, porque ficava uma coisa meio pegajosa, uma obrigação de abraçar todo mundo. Minha mãe certamente montava lindos pinheirinhos decorados (só décadas depois fui saber como isso é anti-ecológico, porque desde quando árvore é descartável?) e, na minha condição de classe média, talvez, por um tempo, até classe média alta, é de supor que o pinheiro vinha com vários embrulhos perto do pote. Mas não me recordo de nenhum presente hiper marcante. Acho, não tenho certeza, que uma vez meu irmão ganhou um presente muito antecipado, e começou a brincar com ele, e o troço quebrou. Sabe, bem na noite de natal? E tenho a breve impressão que aquele momento foi traumático. Mas lembro vagamente que eu recebia mais livros e roupas do que brinquedos (pensando bem, eu tinha uma vasta coleção de Playmobil). E eu sempre pensava mais na véspera da véspera (dia 23), que na véspera em si. Dia 25 era apenas um feriado prolongado, com comida muito boa que havia sobrado da noite anterior, e com a vantagem de não ter tantas pompas. A ceia em casa sempre foi igual (não somos muito criativos), e nada convencional: uma enorme e deliciosa torta de frango, seguida por uma enorme e deliciosa torta que, acreditem, pros padrões brasileiros costuma ser ruim, porque tem chocolate demais (como chocolate pode ser demais, eu me pergunto), e é chocolate amargo, e brasileiro é parente próximo da formiga doceira, só pode, tamanha obsessão por açúcar. Era isso. Nada de especial pra beber. Eu nunca bebi nada que não fosse água. Sem gás, por favor, mas acho que na ceia de natal tinha gelo. E gelo é ótimo, eu mastigo e até agora nunca quebrei um dente por causa disso (mas já quebrei um comendo chocolate; notaram como o texto tá um tantinho dispersivo? Eu me sinto um narrador do Rubem Fonseca, sem a violência). Lembro do meu amado pai não deixando a gente começar a comer porque ficava pedindo brinde. E eu, de olho na torta de frango, brindava. Com água. Sem gás. Com gelo.
E aí não sei se sou só eu, mas a gente cresce, o pai morre, e o natal perde bastante da graça que já não tinha. Ainda mais pra quem não tem filhos e, ao contrário do que dizem as más línguas, não é uma dondoca consumista que passa seus dias num shopping (preciso rir com quem me lê e pensa que eu compro alguma coisa, ahn, qualquer coisa, a pão dura miserável que sou). Sou casada com um lindo que é quase tão sovina quanto eu. Mas não somos apenas pão-duros, somos não consumistas também, por uma total falta de criatividade. Tanto que uma vez, não sei se já contei pra vocês, perguntei pro maridão: “Se a gente fosse milionária, o que você compraria?”. E ele pensou, pensou, e respondeu, sem muita convicção: “Um mouse sem fio”. (Deem um desconto, já faz alguns anos). Eu questionei, indignada: “Ô amor, quer dizer que se a gente fosse rica você compraria algo que a gente poderia comprar agora, se realmente quisesse? Não é possível! Não tem mais nada que você compraria?”. E ele pensou, pensou, pensou um tempão, muito mais tempo que na primeira indagação, e finalmente disse: “Tem muita coisa sem fio que eu gostaria de ter”. Entendem o drama? É como o Controlador explicando pro Selvagem as vantagens do sistema no clássico Admirável Mundo Novo: “As pessoas são felizes. Elas recebem tudo que querem, e elas nunca querem o que não recebem”. Taí, resumiu a minha vida.
Não tenho ambições. Gosto de comer. Talvez, se eu pudesse e não enjoasse, comeria todo dia fora. Ou melhor, pediria delivery, porque não sou fã de restaurantes. E agora, que estou ganhando o ápice da vida de uma professora (só sendo professora universitária pra receber este salário), eu tenho vontade de gastar mais com comida. Mas minha índole não permite. No último final de semana, num arroubo de irresponsabilidade, decidi encomendar uma torta de frango de um supermercado que criou um catálogo para a ceia de natal. Mas pra comer antes do natal. Não foi fácil encomendar. O supermercado só aceitava pedidos acima de dois quilos. Mas a atendente reconheceu o maridão: “Você é aquele que sempre compra tapioca aqui, não? Vou falar com a gerente”. Como a gerente deixou, pedimos um quilo. Veio 1,3. Custou 35 reais aquela torta. Só eu que acho caro? E nem tava tão boa. A massa tava boa, mas o recheio é aquele peito de frango sem gosto e sem molho de sempre. Enfim. Aí, dois dias depois, passamos em frente a um restaurante anunciando maminha por 15 reais o quilo. Maminha é muito mais saboroso que torta de frango! E tava quase metade do preço! Por que não comprei? Mas isso não tem nada a ver com natal, tem a ver com meu consumismo. Aliás, meu pão-durismo. Minha índole. Com a idade adulta, acabou-se a árvore natalina. Panetone nunca gostei (mesmo os de chocolate têm gosto esquisito). Papai Noel, nunca acreditei. A ceia continua. Mas não nos presenteamos há anos. Também, dar o quê pra quem já tem tudo? Feliz natal pra vocês também.




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