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DEZ ANOS DO ATAQUE, E O BURACO É MAIS EMBAIXO
Ontem foi o décimo aniversário do ataque terrorista às Torres Gêmeas, e parece que, se não foi ontem, foi pelo menos anteontem. Este texto não será uma reportagem detalhada sobre o que aconteceu, ou o que mudou de lá pra cá. Será um relato das minhas impressões e memórias, muitas delas imperfeitas. Lembro que eu e minha mãe estávamos em casa em Joinville (ela vivia numa casa nos fundos da minha), mas nenhuma ligara a TV. Foi o maridão que chegou meio esbaforido da escola onde dava aula, após um aluno lhe informar que “tinha um avião pendurado num prédio em Nova York”. Incrível como hoje a informação já correria muito mais rápido que uma década atrás, naqueles tempos de internet discada, sem Twitter, e com blogs incipientes. Bom, na hora ligamos a TV e vimos, assombrados, um segundo avião atingir a segunda Torre. Ninguém sabia de nada. Enquanto era só a primeira torre, a hipótese mais comum em nossas mentes era de um acidente aéreo. Só quando a outra torre foi atingida é que não tivemos dúvidas: Nova York estava sendo atacada. Aliás, os EUA. Até aí já havia rumores (porque tudo era rumor) de que o Pentágono estava em chamas, e que outros aviões tinham caído ou sido derrubados. A confusão era geral. Ninguém podia imaginar que, menos de duas horas depois, as duas torres, aqueles arranha-céus de gosto duvidoso, 110 andares e 99 elevadores cada uma, estariam no chão. Não sei o que continua sendo mais chocante (porque essas imagens, ainda que tenham deixado de ser exibidas, vão ficar na cabeça pra sempre, como um trauma coletivo), se as imagens dos aviões batendo nas Torres, em câmera lenta, ou as dos muitos pontinhos negros pulando lá de cima (eram pessoas, e mais de duzentas saltaram para a morte), ou se as Torres desabando, como se tivesse sido façanha de uma implosão implacável, ou se os pedestres lá embaixo, zumbis andando desorientados, cobertos de pó, ou os cães policiais que passaram os dias seguintes cavocando os escombros, e encontrando montes de pedaços humanos. Aquilo tudo era terrível e grotesco ao mesmo tempo. Foi o primeiro ataque estrangeiro em solo americano na história. Tudo bem, Pearl Harbor tinha acontecido, mas era uma base militar no Havaí. Não um ícone arquitetônico (e civil) em Nova York.Demorei pra aceitar que os ataques haviam sido cometidos por terroristas muçulmanos. Afinal, o prédio detonado em Oklahoma ainda era recente (1995), e aquilo havia sido obra de um americano de extrema direita, Tim McVeigh (executado exatos três meses antes do ataque em NY). Foi só a partir de 2001 que Al Qaeda se tornou um termo corrente no vocabulário de todo mundo.Lembro de muita coisa logo depois do ataque. De emissoras de TV mostrando muçulmanos em festa nas ruas (depois soube-se que eram imagens de gente torcendo pelo Brasil na Copa). De lendas urbanas como o “Tourist Guy” (o email que circulou de um turista no alto de uma Torre, posando pra uma foto, sem notar um avião vindo em sua direção) e aquelas letras que você digitava e aparecia um avião e duas torres (na verdade, funciona até hoje, e é surpreendente. Digite as letras Q33NYC ― segundo a lenda , o número do voo do avião que bateu numa das torres ― num documento do Word, troque pra fonte Wingdings, e veja o que surge na sua tela). Quase 3000 pessoas mortas nos atentados, e são letrinhas, fotos e desenhos que não deixam minha mente em paz!Mas isso foi naquela semana fatídica de setembro de 2001. Em 2004 vi Fahrenheit 11 de Setembro, do grande Michael Moore, que esclarece muita coisa. Até hoje fico incrédula que só Michael teve a ideia de procurar uma filmagem do Bush recebendo a notícia do atentado terrorista. Como alguém pode ser reeleito quando leva sete intermináveis minutos para esboçar uma reação ao ser informado que o país que preside está sob ataque? Outros filmes se seguiram. A cena final de Munique, que trata da retaliação israelense ao terror islâmico das Olimpíadas de 72, revelando as Torres Gêmeas ao fundo, é inesquecível (veja uma montagem mostrando todas as vezes em que as Torres aparecem em filmes comerciais até 2001). E eu me comovi com o Nicolas Cage como bombeiro em As Torres Gêmeas, embora não tenha comprado muito a ideia apresentada em Voo United 93 (de que os passageiros decidiram derrubar o avião para que ele não se chocasse contra o Capitólio, ao invés da crença de que o exército derrubou o avião). Depois Michael atacou de novo com Sicko – SOS Saúde, em que ele denuncia que bombeiros heróis não conseguem tratamento para as muitas doenças que têm, ao contrário dos prisioneiros presos em Guantanamo, Cuba, esses com atendimento médico garantido.Entre 2007 e 2008 passei um ano nos EUA, e lá meus olhos se abriram. Primeiro pude aprender que é espantosa a quantidade de americanos que acreditam nas teorias conspiratórias de que foi o próprio governo Bush que armou todo o ataque, e não o Bin Laden, ou que foi o Bin com a ajuda do Bush. Eu fico com a opinião de um vizinho meu em Detroit, dono de uma loja de roupas vintage: “Não creio nas teorias conspiratórias porque o governo teria que ser competente demais”. Em janeiro de 08 eu e o maridão visitamos NY e passamos pelo sítio de reconstrução das Torres Gêmeas, hoje chamado de Ground Zero. Só dava pra ver escavadeiras e guindastes. Mas o que mais me surpreendeu foi o que vi ao entrar na galeria dos prédios, logo após o Ground Zero. Certo, eu sabia que a campanha lançada nos EUA depois do 11 de setembro era que a melhor resposta aos que queriam derrotar o império seria consumir. O símbolo era uma bandeira americana virada de cabeça pra baixo e com alças, imitando uma bolsa, com os dizeres “América aberta para negócios”. Mas nunca poderia imaginar que lá mesmo, tão pertinho dos escombros das Torres, haveria faixas dizendo “Compre. Divirta-se. Jante”. Parecia sacrilégico pedir que as pessoas se divertissem ao lado de um cemitério. Nove meses mais tarde, ainda em 2008, um novo ataque faria sacudir os EUA. E este não foi causado por terroristas barbudos e de turbante, mas pelos tubarões de Wall Street. Por causa dessa crise econômica (a pior da história?), empreendedores responsáveis pelo que está sendo feito no Ground Zero afirmam que as obras dificilmente terminarão antes de 2018 (e a gente acha que o Brasil é que tá atrasado pra Copa!). Lembro que quase todo mundo se solidarizou com os EUA naquele 11 de setembro. Mas o anti-americanismo nunca esteve tão forte quanto em 2003, quando Bush, ignorando todos os protestos (houve mais de 3 mil demonstrações no mundo contra a guerra), optou por invadir o Iraque, que nada tinha a ver com os ataques às Torres Gêmeas. De lá pra cá, 110 mil iraquianos já foram mortos, e calcula-se que três trilhões de dólares serão gastos na empreitada. Pelo jeito, mesmo que o império não tenha acabado, ele nunca mais será o mesmo. E não é realista responsabilizar dezenove terroristas por tão grande queda.
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