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Dia sem carro dá vez ao grito parado no ar - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 22/09
Um aumento de R$ 0,20 no preço das passagens do transporte coletivo em São Paulo fez o Brasil inteiro ir às ruas em junho. Tamanha mobilização chegou a ser festejada como o despertar do gigante adormecido. País afora, governadores suspenderam reajustes iminentes. A pauta do movimento logo abrangeu outras reivindicações, tirando mais autoridades da letargia. A presidente Dilma Rousseff reuniu os 27 chefes dos executivos estaduais e os prefeitos das capitais no Palácio do Planalto com o objetivo de propor cinco pactos nacionais destinados a apaziguar os ânimos. Um deles, o da mobilidade urbana. Pois bem, passado o clamor inicial dos protestos, já no mês seguinte o pacote que daria resposta ao primeiro grito dos manifestantes era congelado no ar, adiado para 2014.
O caso é exemplar da ausência de prioridade com que o Estado brasileiro trata o transporte público. Mas não único. Demorou 17 anos para o Congresso Nacional aprovar a Lei da Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/12), que fez um ano em abril. Analisado o período de mais de uma década para cá, menos de um quinto dos recursos previstos para o setor no Orçamento da União foram executados. É fácil entender. Numa análise a partir do início de 2012, quando quase R$ 31 bilhões foram disponibilizados para obras do gênero, percebe-se a prevalência da rejeição de projetos - 75% deles pecavam por inconsistência técnica. Enquanto isso, o ir e vir torna-se cada vez mais dramático nas metrópoles, estranguladas pela multiplicação da frota automobilística, sem que os modais coletivos acompanhem o crescimento populacional ou ao menos sejam mantidos a salvo do sucateamento.
É nesse contexto que cidadãos de norte a sul do Brasil celebram hoje o Dia Mundial Sem Carro. A ideia surgiu na França, 16 anos atrás, tendo aparecido por aqui no começo deste século, com a adesão de 11 cidades, para logo alastrar-se. De bicicleta, ônibus, metrô, patins ou a pé, importa que, hoje, as pessoas não tirem o veículo da garagem para circular. Mas que tampouco se deem por satisfeitas em atender esse primeiro chamado. Para que os efeitos da atitude ultrapassem as 24 horas da mobilização global, é preciso estar atento para a necessidade de conscientizar e sensibilizar o outro, do vizinho às autoridades. Cartazes, faixas, camisetas e discursos devem estar afinados para grande alerta sobre as repercussões da melhoria da mobilidade urbana na qualidade de vida e também na saúde econômica dos entes municipais, estaduais e federais.
De volta aos gritos de junho e ao pacote engavetado, vale lembrar que foi em nome da responsabilidade fiscal, com um corte de R$ 10 bilhões no Orçamento deste ano, que o pacto para desobstruir as cidades sobrou para 2014. O argumento cai no vazio se a conta do ajuste for confrontada com gastos com acidentes (alguns fatais, portanto, ao custo de vidas, o que não tem preço), doenças provocadas pelo estresse e a poluição, importação de combustíveis, perda de tempo. No fundo, o governo não sabia de onde tirar os R$ 50 bilhões anunciados, que deveriam ser rateados pelas três esferas governamentais. Que o dia de hoje dê, pois, um basta na retórica. É o que este jornal cobra mais fortemente desde 1996, quando desencadeou a campanha Paz no Trânsito, nesta data reforçada com o 1º Passeio Ciclístico da Primavera, no Eixão do Lazer.
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