DIÁLOGOS DO SÉCULO 21 - VERSÃO "DO LAR"
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DIÁLOGOS DO SÉCULO 21 - VERSÃO "DO LAR"


Eu e o maridão fomos a um escritório de advocacia. Não, não foi ainda pra providenciar o divórcio, e sim para entrar com uma ação contra as companhias telefônicas. Eu nem entendi muito bem. Compramos uma linha telefônica há uns onze anos. Uma daquelas, que custavam caro e levavam dois anos pra ser instaladas. Acho que pagamos R$ 1.200 por ela. Uns três anos atrás vendemos suas ações por uns 1.500. A linha ainda é nossa. Mas chegou ao nosso endereço uma proposta de processar as companhias por não nos passarem os juros dessas ações e, como não estou nem um pouco satisfeita com o monopólio que continua firme e forte após a privatização (onde moro, tenho toda a liberdade pra decidir entre a Brasil Telecom e a Brasil Telecom), tô dentro. Parece que o processo demora, leva mais de um ano e meio, mas no final dá pra receber uns 6 mil reais. O escritório de advocacia fica com 25%. E nós pagamos R$ 70 para as despesas iniciais. Já que setenta reais não é muito, e já que a chance de ganhar mais é grande, topamos. Fomos lá pagar os honorários. Um senhor que trabalha lá - acho que ele é o pai da advogada que move as ações - me perguntou (já que a linha está no meu nome):
- Qual a sua profissão? Preciso anotar aqui na ficha.
- Curso doutorado.
- Hã? Mas qual é a sua profissão?
- Estudante, imagino.
- Não, isso não tem rendimentos. Vou colocar aqui “do lar”.
- Tem rendimentos, ué. Eu recebo bolsa.
- Só porque você recebe bolsa e não paga a faculdade não quer dizer que tem rendimentos.
- Mas eu tenho! Além de não pagar um centavo, porque a universidade é federal, eu recebo um pouco de dinheiro. Sou paga pra estudar.
- Ih... Não, não dá. “Estudante” não é profissão.
- “Do lar” também não é.
- Olha, se você não trabalha fora e só estuda à noite, você é “do lar”.
- Eu não estudo só à noite, e não sou “do lar”, sou estudante.
Aí o maridão interrompeu o diálogo com uma pergunta sábia:
- E se o caso fosse comigo, eu também seria “do lar”?
Eu, percebendo o impasse, insisti com o senhor:
- Então, taí uma ótima pergunta: homem pode ser “do lar”?
- Claro que pode – respondeu o senhor. - Hoje em dia há muitos homens que trabalham como diaristas.
- Mas a gente não tá falando de diarista, que é uma profissão. Tá falando dessa denominação, “do lar”. Tem pra homem também?
- Não entendi – Perguntou o homem ao maridão, me ignorando. - Qual é a sua profissão?
- Não estou trabalhando no momento. Fico em casa.
- Como assim, não está trabalhando?
- Estou desempregado.
- Ah, então eu colocaria aqui, no seu caso, “desempregado”. Ou senão a sua profissão de antes de você ficar desempregado.
Eu: - E se ele estivesse exatamente como eu, fazendo doutorado?
- Aí seria estudante.
Donde se deduz que “do lar” é uma profissão unicamente feminina. Pena que nem profissão seja. E note como já perdeu a majestade faz tempo. Antes era “rainha do lar”. Sobraram apenas as últimas duas palavras, totalmente desvalorizadas. Enquanto isso, o homem segue sendo o rei do castelo? Porque, pelo jeito, o feudalismo não acabou com o fim da Idade Média.




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