Por Altamiro BorgesSegundo relato do jornal Valor – uma parceria das famiglias Frias e Marinho –, a presidenta Dilma Rousseff voltou a ser alvo de protestos neste sábado (9). Um grupo de 20 pessoas – uma multidão na ótica da imprensa seletiva – bateu panelas e esbravejou diante do restaurante Leopolldo, no bairro nobre dos Jardins (SP), durante a festa de casamento dos médicos Roberto Kalil Filho e Claudia Cozer. Os “paneleiros” estão minguando e ficando cada vez mais hidrófobos, mas a mídia elitista – que esconde a greve e as gigantescas passeatas dos professores paulistas – faz questão de registrar até os seus mais minúsculos e ridículos protestos.
“Cerca de 20 pessoas, algumas delas batendo panelas, gritaram frases como ‘Fora, PT’ e ‘Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro’ e pedindo o impeachment da presidente. Alguns moradores das proximidades também bateram panelas nas varandas de seus apartamentos. Um dos manifestantes mais exaltados era o administrador de empresas Luís Alberto, que não quis dizer seu sobrenome. Ele disse que compareceu ao local para ‘exercer a cidadania’... Outro manifestante, Eduan Pinheiro, empresário, de 34 anos, disse que soube do casamento por uma rede social e se disse dos movimentos Acorda Brasil e Vem Pra Rua, mas que veio sozinho ao protesto”, registrou o jornal do empresariado paulista.
O administrador e o empresário, entre outros ricaços que exibiram as suas panelas vazias, estavam coléricos. Outro “abastado abestado” – conforme definição do jornalista Luciano Martins Costa – até esmurrou o carro da presidenta, que foi madrinha do casório. Os “midiotas” – segundo outra definição do editor do Observatório da Imprensa para se referir aos idiotas que se orientam pelas baixarias da imprensa – não criticaram o governador Geraldo Alckmin (PSDB), também presente, pela grave crise da água em São Paulo ou pela onda de roubos que atinge inclusive áreas nobres da capital. Eles nada falaram também sobre o cambaleante Aécio Neves, este sim barrado por bafômetros nas baladas cariocas.
Este ódio elitista talvez explique o aparente refluxo destas manifestações golpistas. A marcha de 12 de abril, organizada por inúmeros grupelhos fascistóides, já foi bem menor do que o protesto de 15 de março. Já o panelaço da semana passada, durante a exibição do programa do PT em cadeia nacional de rádio e tevê, ficou abaixo do alardeado pelas redes sociais. A própria mídia tucana registrou que o protesto atingiu 10 estados e se concentrou apenas nos bairros dos ricaços. Diante do risco dos panelaços e marchas da direita fascista minguarem de vez, num desserviço à jovem democracia que precisa explicitar os conflitos de classe existentes no país, apresento abaixo três dicas singelas:
1- Na semana passada, a empresa de comunicação “Casa de Ideias” apresentou um aplicativo que reproduz a imagem e o som de panelas com um simples toque no celular. O usuário do “iPanelaço” pode escolher desde peças um tanto enferrujadas até frigideiras antiaderentes. Para fazer com que o barulho seja ouvido de longe é preciso conectar o smartphone a um aparelho de som. “Este app permite a você levar a possibilidade de exercer essa forma de se expressar com a mesma intensidade, mas sem a necessidade de elementos físicos”, explica a descrição do software, por enquanto disponível apenas para usuários do sistema iOS, da Apple. Com este aplicativo, o golpista mais preguiçoso não ficará tão cansado!
2- Depois de procurar exaustivamente e de lidar com as panelas, algo pouco comum na vida dos ricaços, os manifestantes poderão reservar um jantar num dos restaurantes de São Paulo que servem comida banhada a ouro. Segundo notinha da revista Época, intitulada “Ricos paladares”, a mania está crescendo na rica capital paulista. “Em alguns restaurantes paulistanos, a crise parece estar longe. Tanto é que o ouro, metal-símbolo de riqueza, entrou para o cardápio. Na Osteria del Pettirosso, o risoto de açafrão leva uma folha de ouro de 24 quilates.... Quem quiser degustar o rico prato precisa fazer o pedido com quatro dias de antecedência”, relata a reportagem, que cita outros locais apropriados aos “paneleiros”.
3- Por último, caso os panelaços deem muito cansaço, existe a hipótese de simplesmente viajar a descanso para Miami – o paraíso dos abastados abestados. No ano passado, mais de 50% dos turistas que visitaram o local eram brasileiros. Segundo Willian Talbert, presidente do órgão oficial de fomento turístico do sul da Flórida (FMC&VB), além de ser a mais numerosa, a elite nativa também gasta mais nas lojinhas da localidade – em 2013, ela torrou quase US$ 1,7 bilhão. “O Brasil tem estado entre os cinco primeiros mercados emissivos de turistas para Miami ao longo de uma década. Isso se deve ao crescimento de sua economia”, afirma o empresário. Esta parte da explicação não deve agradar muito os “paneleiros”.
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