Diplomacia inerte e ação humanitária - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
Geral

Diplomacia inerte e ação humanitária - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR


GAZETA DO POVO - PR - 28/08

Ao organizar a fuga de Roger Pinto Molina, o diplomata Eduardo Saboia resolveu agir em defesa dos direitos do senador diante da inatividade dos governos de Brasil e Bolívia



A fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava abrigado na Embaixada Brasileira na Bolívia, causou mal-estar entre os dois países e já custou a cabeça do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. O diplomata que tomou a iniciativa de trazer Pinto Molina ao Brasil, Eduardo Saboia, foi afastado de suas funções por tempo indeterminado. Mas uma análise do episódio mostra que a razão está justamente com Saboia, que resolveu agir em defesa dos direitos do senador diante da inatividade dos governos de Brasil e Bolívia.

Na Bolívia, Pinto Molina era o líder da oposição ? palavra que desperta os instintos mais primitivos em bolivarianos como Evo Morales e seus colegas Rafael Correa, o falecido Hugo Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro. Acabou processado por dezenas de crimes, incluindo desacato, já que o senador tinha acusado o presidente Morales de ligações com o narcotráfico. Condenado por corrupção no ano passado, Pinto Molina buscou refúgio na representação diplomática brasileira, e Dilma Rousseff concedeu asilo político ao parlamentar ? reconhecendo, implicitamente, que ele não era um criminoso comum, mas vítima de perseguição política.

Com Pinto Molina recebendo o status de asilado, o governo boliviano não fez o que devia ? no caso, conceder salvo-conduto para que o senador pudesse ser levado ao Brasil. Isso levou a um impasse que durou exatos 452 dias. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Saboia deixou claro que nenhum dos dois países parecia muito interessado em resolver o assunto. Os brasileiros, aliados ideológicos de Evo Morales, já tinham irritado suficientemente o presidente boliviano ao conceder asilo a Pinto Molina e talvez não estivessem dispostos a piorar a situação. Morales, ao recusar o salvo-conduto, provavelmente pretendia vencer Pinto Molina pelo cansaço ou se apoiar na afinidade entre os partidos que governam os dois países, o PT e o Movimento ao Socialismo, em busca de um desfecho que lhe agradasse. Precedente havia: em 2006, militares bolivianos invadiram uma refinaria da Petrobras, nacionalizada por Morales. Como o então presidente Lula, o ministro Celso Amorim e o assessor Marco Aurélio Garcia preferiram o companheirismo ideológico à defesa do interesse nacional, ficou tudo por isso mesmo ? o episódio foi um dos muitos pontos baixos que vêm caracterizando a diplomacia brasileira nos últimos dez anos.

Mas nem Brasil, nem Bolívia imaginaram a iniciativa feliz de Eduardo Saboia, encarregado de negócios da embaixada. Com a saúde de Pinto Molina (abrigado em uma sala de telex, pela descrição do diplomata brasileiro) se deteriorando, e a falta de respostas do governo brasileiro a esse alerta, restou a solução da fuga: 1,6 mil quilômetros de carro até a fronteira brasileira, onde eles foram recebidos pelo senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e seguiram para Brasília.

Na prática, o que Saboia fez foi, diante de uma situação em que o Itamaraty estaria adotando a protelação como estratégia, aplicar por conta própria os princípios humanitários que sempre nortearam a política externa brasileira. Agora, o Ministério das Relações Exteriores pretende investigar a fuga e concentra suas atenções em Saboia, quando deveria também tentar descobrir como agiram seus demais funcionários ao longo de toda a negociação com o governo boliviano para que Pinto Molina pudesse deixar seu país com segurança, sem ter de recorrer a expedientes cinematográficos. Se é verdade que, como alegou Saboia na entrevista à Folha, o Itamaraty vinha ?empurrando com a barriga? um ?faz de conta? em que ?eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita?, enquanto fazia um asilado passar 15 meses em condições longe das ideais, há muito mais a apurar que o episódio do último fim de semana.




- O Vergonhoso Caso Molina - Editorial O EstadÃo
O ESTADO DE S.PAULO - 08/06 Somente a total falta de traquejo no trato dos negócios exteriores, revelada pela presidente Dilma Rousseff, além de sua submissão a compromissos ideológicos que nada têm a ver com os interesses nacionais, explica a notícia...

- Onde Está O Senador Roger Pinto Molina? - Maristela Basso
GAZETA DO POVO - PR - 06/06 Oposicionista do presidente Evo Morales, o senador Roger Pinto Molina tornou-se alvo de perseguição quando denunciou a ligação do governo boliviano com o narcotráfico. Passou a ser perseguido com acusações de corrupção,...

- Uma Fuga Inédita - Luiz Felipe Lampreia
FOLHA DE SP - 01/09 O Brasil deveria ter feito exigência mais enérgica da concessão de salvo-conduto pela Bolívia, em cumprimento ao direito internacional O caso da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina é inédito na história diplomática...

- Um Dos Piores Momentos Da Diplomacia Brasileira - Editorial O Globo
O GLOBO - 28/08 Salvo provas em contrário, o governo aceitou passivamente, de forma vergonhosa, o papel de carcereiro do senador de oposição ao companheiro Evo Morales Embora haja ainda muito a esclarecer sobre a história da retirada do senador boliviano...

- Justa Causa - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 27/08 O ministro Antonio Patriota errou muito, e por muito tempo, neste caso do senador boliviano. Deixou a situação ficar insustentável, permitiu que a Bolívia, desrespeitando leis internacionais, criasse uma situação inaceitável. A...



Geral








.