Do cinismo democrático aos lobos e hienas
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Do cinismo democrático aos lobos e hienas


Rodrigo Constantino

A democracia depende de instituições que, por sua vez, dependem de pilares culturais. Quando esses pilares se mostram de areia, quando a maioria começa a condenar "tudo isso que está aí", jogar tudo no mesmo saco, ridicularizar a própria democracia, a política em si, é porque estamos sob o risco de uma aventura autoritária.

Acreditar não que a democracia é fantástica, um Deus ou algo do tipo, mas que ela é aperfeiçoável, que por meio de reformas podemos melhorá-la, parece-me uma condição fundamental para sua própria sobrevivência. Quando seu descrédito é total, o que virá em seu lugar é uma incógnita, mas com elevada chance de mudar para algo pior. 

Por isso condenei aqueles que votaram no palhaço Tiririca nas últimas eleições, como um voto de protesto contra a própria política, o Congresso como um todo. Esse tipo de postura ajuda a minar a confiança no sistema, que pode ser bastante imperfeito, mas que não pode ser substituído por poções mágicas, por soluções milagrosas. 

É essa a mensagem que acabo de ver em trecho de A Civilização do Espetáculo, de Mario Vargas Llosa. Estou em boa companhia, pelo visto. Eis o que diz o Nobel de Literatura:

É essa atitude pessimista e cínica, e não a ampla corrupção, que pode efetivamente acabar com as democracias liberais, transformando-as numa casca esvaziada de substância e verdade, aquilo que os marxistas ridicularizavam com o apelido de democracia "formal". É uma atitude inconsciente em muitos casos, que se traduz como desinteresse e apatia em relação à vida pública, ceticismo em relação às instituições, relutância em pô-las à prova. Quando consideráveis parcelas de uma sociedade devastada pela inconseqüência sucumbem ao catastrofismo e à anomia cívica, o campo fica livre para os lobos e as hienas.

Que cada um possa refletir sobre isso, e compreender aquilo que Churchill resumiu tão bem: a democracia é o pior modelo, exceto todos os outros que já foram testados. Vamos deixar o espaço livre para os lobos e as hienas? Ou vamos lutar para ocupá-lo com pessoas minimamente decentes, razoáveis, capazes? 




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