Dólar em alta, capítulo dois - VINICIUS TORRES FREIRE
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Dólar em alta, capítulo dois - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 12/11

Corridinha do dólar nos últimos dez dias tem o mesmo jeitão da disparada havida entre junho e agosto


O DÓLAR SOBE quase sem parar faz uns dez dias. Tal como entre junho e agosto, o preço do dólar aqui acompanha o passinho das taxas de juros no mercado americano (menos imprecisamente: o retorno dos títulos de prazo de dez anos do governo americano, negociados no mercado).

O dólar subiu ontem também, mesmo com feriado nos EUA.

O dólar aqui e os juros no mercado americano sobem desde que voltou o zum-zum sobre a mudança na política monetária americana. Isto é, sobre a possibilidade de o Fed, o banco central deles, passar a "imprimir" menos dinheiro, em tese chancelando uma altinha de juros de longo prazo no mercado.

O zum-zum ficou mais forte na sexta-feira, quando saiu um balanço mensal do mercado de trabalho americano, lido por muita gente como um bom resultado. Quanto mais forte estiver a economia americana, maior a possibilidade de o Fed começar a fechar sua torneira de dinheiro, diz o senso comum da praça.

Bem, o resultado de um mês apenas não quer dizer grande coisa, ainda mais um mês de resultados poluídos pela bagunça causada pelo fechamento de parte do governo norte-americano.

Além do mais, a economia deles anda devagar, deve crescer por volta de 1,7% neste ano, por aí. A renda do trabalho cresce mal e porcamente. A inflação anda pela casa de 1%, baixa demais. Isto é, a economia quase sofre de hipotermia, tão desaquecida que um de seus termômetros principais, a inflação, marca menos de 36ºC, abaixo do recomendável.

Ainda assim, segue a conversa sobre o aperto da torneira do Fed, que deveria ter ocorrido em setembro passado, parecia ter ficado para algum momento entre março e junho de 2014 e talvez, especula-se, literalmente especula-se, agora pode ser "antecipado".

Tem gente falando em "bolha" também. Isto é, o Fed despejou tanto dinheiro na praça que os ativos financeiros (ações, por exemplo) estão exageradamente caros para os retornos que podem oferecer. O despejo do dinheiro não estimulou a economia o suficiente, apesar de causar inflação de preços no mercado financeiro (não na economia "real", de produtos e serviços, investimentos "reais"). Ou seja, a riqueza está inflada, a economia está tísica, o que não costuma prestar.

Seja como for, a conversa de donos do dinheiro grosso e de seus porta-vozes voltou a ser a de aperto da torneira do Fed, o que por ora elevou os juros nos EUA. Isso tira algum dinheiro de países emergentes, como o Brasil. O dólar sobe (os juros da praça aqui também sobem).

Os porta-vozes e os oráculos dos donos do dinheiro grosso dizem que o tumulto será menor desta vez do que em agosto (a corrida do dólar seria mais comedida).

Pode ser. Como da outra vez, o real brasileiro se desvaloriza mais que as moedas de países emergentes mais importantes, pois nosso mercado financeiro é grande, "sofisticado", e porque temos uma inflação pouco sofisticada (relativamente alta) e um consumo externo (deficit) sofisticadamente exagerado. Como cereja desse bolo ruim, temos toda essa explosão de impaciência com as contas do governo.

Sim, o BC tem um esquema para atenuar a turbulência do dólar e seus efeitos piores. Mas, como estamos mal das pernas, efeitos haverá.




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