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Domar a inflação exigirá políticas sérias - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 08/02
O recuo para 0,55% do índice oficial (IPCA) em janeiro trouxe um alívio, mas a variação média dos preços permanece em patamar muito perigoso
Não deixa de ser um alívio o recuo do índice da inflação em janeiro, porque a variação média dos preços no Brasil tem se mantido em um patamar perigoso e sem margem para absorver eventuais choques de oferta ou demanda. No primeiro mês do ano, a inflação oficial ficou em 0,55%, abaixo do 0,92% de dezembro último e do 0,86% de janeiro de 2013. Em doze meses, a alta recuou para 5,59%.
Entre as causas da inflação no Brasil há fatores estruturais que não são de fácil solução no curto prazo. Por isso mesmo, ao adotar o regime de metas, há treze anos, foi instituído um intervalo de tolerância bem elástico em torno do alvo central. Esse alvo permanece em 4,5%, com uma tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Desde 2010 a inflação medida pelo IPCA, índice calculado pelo IBGE, tem ficado mais próximo do topo do que do centro da meta. Em função disso, na visão dos mercados as autoridades teriam abandonado o alvo central para mirar no teto. Como a formação de expectativas nos mercados financeiros influencia fortemente o comportamento dos demais agentes econômicos, para quebrar essa percepção o governo tem se esforçado agora em dar demonstrações de que o combate à inflação voltou a ser mesmo uma prioridade, prometendo executar em 2014 uma política fiscal austera, capaz de acumular efetivamente um superávit primário mais relevante (ultrapassando o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto). O Banco Central, por sua vez, elevou as taxas básicas de juros, contrariando prognósticos de que cederia a pressões políticas em face do ano eleitoral.
A inflação alta foi resultado da tentativa equivocada de se obter um crescimento econômico robusto no fim do governo Lula e nos primeiros anos da administração Dilma Rousseff. Tal crescimento não se concretizou, e o horizonte em relação à inflação continua sendo preocupante, devido a ajustes que terão de ser feitos, mais dia, menos dia, em preços como os da energia (combustíveis e eletricidade).
Além disso, o câmbio deixou de ser um aliado importante no combate à inflação. Em decorrência do aumento do déficit nas transações correntes (mercadorias e serviços) do país com o exterior ? sem falar na economia americana ?, o real se desvalorizou consideravelmente, tornando-se um fator de pressão sobre os preços internos. As importações estão encarecendo, e as exportações tendem a ser competidoras da oferta doméstica.
Então, para domar a inflação o governo terá mesmo de recorrer ao receituário cobrado há muito por estudiosos no tema: rédeas curtas na política monetária e austeridade na execução da política fiscal, com a acumulação de superávits primários mais calcados no controle das despesas do que pela arrecadação de receitas extraordinárias. Na mensagem que enviou ao Congresso, a presidente Dilma pede cooperação do Legislativo nessa tarefa. Ela realmente será muito necessária.
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