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Duas histórias e uma questão fumegante - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
Valor Econômico - 01/08
Em junho passado, pela primeira vez desde 2009, houve aumento da taxa de desemprego em relação ao mesmo mês do ano anterior. Embora o ministro da Fazenda, fiel ao seu estilo "deixa-que-eu-chuto", tenha tentado associar esse fenômeno a uma flutuação sazonal (sem se dar conta que a comparação se referia ao mesmo período de 2012, portanto livre de sazonalidade), a verdade é que o número não foi bom.
O crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano atingiu apenas 0,5% na comparação interanual, não só uma taxa baixa, mas também o primeiro registro (desde 2009) de um trimestre em que o número de vagas criadas não acompanha o aumento da população em idade ativa (PIA), apesar do ritmo glacial (0,9%) desta última.
A questão a esta altura é entender as causas e implicações desse fenômeno, para as quais há aparentemente duas narrativas básicas. Uma aponta para o baixo crescimento econômico como o motivo central para o enfraquecimento do mercado de trabalho relativamente ao observado nos trimestres anteriores, quando o desemprego se manteve sempre próximo a 5,5% em termos dessazonalizados.
Se essa hipótese estiver correta, dadas as perspectivas de mais um ano de crescimento medíocre, as consequências seriam negativas: em que pese o baixo crescimento da PIA, a taxa de desemprego começaria a subir, lentamente, é verdade, nos levando no sentido de um mercado de trabalho menos apertado do que nos últimos anos.
Para ser sincero, é possível que essa hipótese esteja correta, mas o mero fato de eu tê-la apresentado antes da hipótese alternativa já indica certo desconforto com essa proposta. E, de fato, tenho dificuldade de comprá-la a valor de face.
O principal motivo dessa dificuldade pode ser ilustrado pelo gráfico. Nele mostro a relação entre o crescimento interanual do emprego e do PIB, este defasado em um trimestre.
Não é difícil perceber uma relação positiva entre estas variáveis, como expressa pela reta presente no gráfico. (Alerto, porém, que a reta foi colocada apenas para propósitos ilustrativos e não deve ser interpretada de forma alguma como uma relação estrutural entre crescimento do produto e do emprego).
É claro que a relação ali exibida não é matematicamente precisa; o que se vê é uma associação positiva entre as taxas de expansão do produto e da ocupação. Períodos de forte crescimento do PIB antecipam aumento vigoroso do emprego e vice-versa. Historicamente, o crescimento do PIB na casa de 2% vem acompanhado de aumento de emprego mais robusto que o observado no segundo trimestre deste ano.
Há, contudo, exceções importantes, como as marcadas no gráfico. De fato, tanto no segundo quanto no quarto trimestres de 2012 o emprego parece ter crescido muito mais do que seria normalmente associado à (baixa) expansão do PIB no período. Por outro lado o crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano não foi muito distinto do observado em 2009 quando o PIB registrava taxas negativas na comparação com o ano anterior.
Tais observações podem ser explicadas pela hipótese levantada ainda no ano passado por analistas que tentavam entender como o emprego podia ter um bom desempenho à luz de taxas de crescimento ainda menores do que as observadas atualmente. No caso propôs-se que os altos custos de contratação (inclusive treinamento) e demissão de trabalhadores no contexto de um mercado de trabalho apertado levaram as empresas a "entesourarem" seus empregados.
Em outras palavras, em vez de incorrer nos custos de demissão e nos riscos de não conseguir recontratar trabalhadores devidamente treinados quando a economia se recuperasse, empresas teriam decidido mantê-los, o que terminou produzindo taxas de crescimento do emprego maiores do que as que normalmente acompanhariam a fraca expansão do PIB.
Em contrapartida, mesmo com a (modesta) recuperação da produção no começo do ano, estas empresas não precisaram recontratar trabalhadores, o que explicaria o desempenho aquém do esperado da ocupação no segundo trimestre.
A valer esta história, a fraqueza extrema do emprego seria um fenômeno passageiro. Mesmo o crescimento medíocre esperado para 2013 e 2014 parece, à primeira vista, consistente com expansão do emprego a um ritmo algo superior ao aumento da PIA, levando, portanto, à queda (lenta) da taxa de desemprego a partir de algum momento no segundo semestre de 2013.
Caso isto seja verdade, a tendência do mercado de trabalho seria de aperto adicional, ainda que moderado, aumentando as pressões inflacionárias hoje existentes. O desempenho no segundo semestre será crucial para saber qual das narrativas está correta.
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