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Trabalho em debate - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 25/05
Os números do mercado de trabalho que saíram nos últimos dias deixariam eufóricos certos países europeus. Em abril, o IBGE captou 5,8% de desemprego, e o mercado formal criou 200 mil vagas. É o lado bom de uma economia que está crescendo pouco e com inflação alta e resistente. O Brasil não está sozinho na boa notícia: a América Latina também está com desemprego baixo.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) registraram que na América Latina a taxa média de desemprego do ano passado foi de 6,4%. No México, a taxa média foi de 5,9%; Uruguai, 6,2%; Chile, 6,4%; Peru, 6,8%; Equador, 4,9%. Mas nem toda a região vai bem: Venezuela, Argentina e Colômbia estão com taxas mais altas.
A OIT e a Cepal explicam que o círculo virtuoso começou com o crescimento da economia, aumento dos salários, expansão do crédito e do consumo. O problema, dizem, é a falta de investimento para manter esse movimento.
No Brasil, como se pode ver no gráfico abaixo, depois da queda abrupta de 2009, por causa da crise, a criação de empregos formais se recuperou, mas está em forte desaceleração. Este foi o pior abril desde 2010. No ponto mais alto deste gráfico, o país estava criando 2,2 milhões de empregos, no acumulado de 12 meses, e agora está em 778 mil.
No caso da PME, o desemprego de 5,8% em abril ficou praticamente igual ao do mês passado, 5,7%, mas houve aumento em São Paulo, de 6,3% para 6,7%. O curioso é que o Caged mostrou aumento do emprego na indústria e o IBGE mostrou queda no emprego industrial. Eles não medem o mesmo fenômeno, nem usam os mesmos dados, mas é interessante terem dado tendências opostas.
O emprego está no meio de um debate entre os economistas. Há os que acham que o mercado de trabalho
aquecido é parte do problema da inflação. O rombo nas contas correntes e a inflação estariam provando que
não falta demanda na economia. O problema seria de oferta. Falta investimento. Mas o Ministério da Fazenda
tem usado mecanismos de desoneração e elevação de gastos para incentivar o consumo,como se o problema
fosse de falta de demanda.
Os dados, no entanto, mostram que o mercado de trabalho não está piorando, mas o ritmo de crescimento do emprego está em queda. Caiu 9% em abril, em relação ao mesmo mês de 2012, e vem desacelerando o total dos empregos criados num período de 12 meses. O modelo estaria se esgotando.
De qualquer forma, resta a boa notícia de que os empresários não estão demitindo, apesar do baixo crescimento. Estão cortando horas trabalhadas, mas mantendo o quadro de funcionários. Isso pode indicar que o empresariado está com expectativa de que a economia vai se recuperar, retomando o crescimento. Que seja através de mais investimento.
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