É hoje o Oscar, e a única vantagem da Guerra no Iraque é que a cerimônia será mais curta. Já é alguma coisa. Vamos ver se eles cumprem a promessa de dar todos os tapinhas nas costas em duas horas. O Oscar, como se sabe, é uma festa de auto-congratulação. É o jeito de Hollywood olhar pro seu próprio umbigo e dizer: cinemão, você está indo bem, hein?
Dos cinco indicados a melhor filme, o melhor, melhor mesmo, na minha modesta opinião, é “O Pianista”. Mas vai ganhar “Chicago”, que tem mais a cara da indústria. Com o favoritismo do musical, Rob Marshall, o diretor, começa a ameaçar Scorcese, que concorre por “Gangues de Nova York”. Scorcese pode levar a estatueta não porque “Gangues” seja um filmaço (não é), mas simplesmente porque ele é um dos Cineastas Importantes, com letras maiúsculas, que nunca ganhou. Polanski também não, mas até parece que a Academia vai premiar um cara proibido de entrar nos EUA. Se a vida fosse justa, Almodóvar receberia o troféu pelo deslumbrante “Fale com Ela”, faria um mini-discurso contra a guerra e teria o som do microfone cortado. Seria o momento polêmico da noite. Como ele tem chances na categoria de roteiro original, vamos torcer pra que nosso espanhol preferido tenha coragem.
Pra ator, o favoritismo do Jack Nicholson vem crescendo a cada dia. Contra ele, só o fato que parece que foi ontem que ele ganhou por “Melhor é Impossível”. Mas foi em 97. Se não for ele o vencedor, será o Daniel Day-Lewis, a principal razão de se ver “Gangues”. Adrien Brody está perfeito em “O Pianista”, mas o narigudo não tem cacife pra concorrer com quatro pesos pesados.
Já pra atriz, não vai ter pra ninguém. Desta vez a Nicole Kidman enfeita seu banheiro com uma estatueta. Julianne Moore é sempre muito elogiada e um dia a hora dela chega. Ela tem chances pra atriz coadjuvante, se bem que não se fala em outra coisa além da Catherine Zeta-Jones. Sabe quando você sente o clima de favoritismo no dia da entrega? Não dá pra explicar, não é algo tangível. Acho que a Academia está babando pra prestigiar uma beldade tipo Catherine.
De resto, minha previsão é que “Chicago” receberá mais de cinco Oscars, “As Horas” ficará com três ou quatro, “Gangues” com uns dois, “Senhor dos Anéis” idem, mas só em categorias menos relevantes, e “O Pianista”, coitado, sairá com as mãos abanando. Tomara que eu esteja errada, pois seria mais uma daquelas injustiças. Mas, numa época em que um país forte invade um fraquinho sem o aval de ninguém, falar de injustiça é piada.