A Super Terça foi ontem. 24 dos 50 estados americanos realizaram primárias. Eleitores escolheram quem querem que seja o candidato republicano e democrata à presidência, nas eleições de novembro que vão acabar (até que enfim – tem muita gente fazendo contagem regressiva) com o reinado de Bush Filho. Do lado dos republicanos, o herói de guerra John McCain ganhou, e agora está com uma ampla vantagem. Mas, por incrível que pareça, parte da direita cristã (base enorme dos republicanos) não crê que esse conservador, que disse que talvez os EUA permaneçam no Iraque pelos próximos cem anos, seja conservador o bastante. Mike Huckabee, que não acredita em evolução e quer mudar a constituição pra que ela fique mais religiosa, venceu em cinco estados, e se qualifica pra abocanhar a vaga de candidato a vice. O milionário mórmon Mitt Romney segue na competição. A surpresa da semana foi que a colunista direitista Ann Coulter declarou com todas as letras seu desdém por McCain e disse que, se a corrida ficar entre ele e Hillary Clinton, ela vai votar na Hillary. Ou seja, McCain ainda vai precisar rebolar muito pra conquistar os mais conservadores e unir os republicanos (que não fazem um só discurso sem louvar o deus Reagan).
Se a situação começa a se definir pros republicanos, pros democratas tudo continua confuso. O candidato precisa conseguir 2,025 votos dos delegados (cada estado tem um número de delegados, numa espécie de colégio eleitoral) para ser apontado como presidenciável oficial. Por enquanto, Hillary tem 845, e Barack Obama, 765. Ontem Obama venceu em 13 estados, e Hillary, em 8, mas ela ganhou na Califórnia (graças ao apoio dos hispânicos) e em Nova York, estados mais populosos e importantes. Obama levou boa parte do Sul, devido à grande presença de eleitores negros em estados como Georgia e Alabama. A população negra votou nele em massa (9 em cada 10). Mesmo as mulheres negras, que estavam mais divididas (afinal, querem o primeiro presidente negro ou a primeira presidente mulher?), acabaram indo com ele. Mas foi surpreendente que homens brancos também votaram nele. Obama tem muito apelo entre os jovens. Por causa do senador de 46 anos, várias pessoas que nunca votaram antes (não é obrigatório) compareceram às urnas.
Pelo jeito, os republicanos acham que é mais fácil ganhar da Hillary, que tem um alto índice de rejeição e é mais polarizadora, que do Obama. Se a corrida final ficar entre McCain e Obama, será o embate entre um veterano de 71 anos contra um “adolescente negro”, como disse um comediante. Se ficar ente McCain e Hillary, será entre um velhinho branco muito do retrógrado (menos que o Bush) contra uma mulher inteligente e forte – mas talvez forte demais pro gosto do americano médio. De todo modo, a indefinição pode se estender por mais alguns meses.