O sistema de votação deles é bem complicado. Primeiro há as primárias em cada um dos 50 estados, em que eleitores dos dois partidos escolhem seus candidatos. Não é que só existam dois partidos aqui, republicano e democrata, mas no fundo é como se fosse (o único independente que teve alguma representativade foi o Ralph Nader, mais à esquerda que os partidões. Ele foi culpado pela derrota do Al Gore duas eleições atrás, por ter tirado votos dos democratas. Agora são os republicanos que temem isso. A direita cristã, que não é pouca coisa – 25% da população – não considera nenhum dos candidatos republicanos realmente de direita, e ameaça lançar um presidenciável próprio). Os candidatos dos demais partidos são que nem o nosso Enéas, sem a menor chance de ganhar, com a diferença que ninguém vota neles por gozação.
Nas eleições em si, o voto não é obrigatório. Como a votação é sempre num dia de semana (e não vira feriado nem nada), dá pra concluir que os pobres, que precisam labutar, não têm como faltar ao trabalho. Sem falar que as filas de votação nos locais pobres são muito maiores que nos distritos ricos. Então, quem vota? Menos de 50% da população adulta. Entre essa minoria, há poucos eleitores pobres. E, por incrível que pareça, o presidente eleito não é quem recebe o maior número de votos. Em 2000, apesar do Al Gore ter vencido no voto popular, foi o Bush quem levou. Isso porque eles utilizam um sistema esquisitão em que vence quem chegar a 270 votos, com cada Estado valendo um certo número (Califórnia, Texas, Nova York e Flórida valem mais. Califórnia, por exemplo, entra com 55 desses 270 votos).
O que tá acontecendo agora são as primárias. Já houve quatro – cinco, se contar Wyoming, o estado com o menor eleitorado (mas eles não contam. Imagine como Wyoming se sente). Embora Iowa e New Hampshire sejam estados pouco representativos, ganham enorme importância por serem os primeirões a realizar primárias. E a gente sabe como são os americanos. Pra eles, competir e ser o melhor em tudo é a essência da vida. Portanto, quem sai na frente costuma levar vantagem. Na primária de Iowa, entre os democratas ganhou o Barack Obama (negro, jovem e simpático, mas com o pior timing do mundo pra ter um nome desses). Entre os republicanos foi o Mike Huckabee, um ex-pastor batista que não acredita em evolução. Na primária de New Hampshire, os vencedores foram diferentes: a democrata Hillary Clinton (que, se conseguir superar o Obama, será a primeira candidata mulher à presidência. Inclusive, o Obama seria o primeiro negro) e o republicano John McCain. Esse McCain é tido como herói da guerra do Vietnã (aquela que os americanos – ahn, deixa pra lá). Durante a guerra, ele foi capturado pelos malditos vietcongues e torturado durante cinco anos. Sobreviveu, mas tá velhinho. Já tem 71 anos. Se for eleito, será o presidente mais idoso de todos os tempos. Até mais que o Reagan! Lembro até hoje de uma amiga americana que se preocupava com a idade do Reagan. Ela se desesperava: “E se ele tropeçar e apertar o botão que começa uma guerra nuclear?”.
Com a graça divina, um republicano não conseguirá mais um mandato (meu orientador diz que um serial killer é preferível a um republicano). Mas mesmo entre eles há outros candidatos com chances de vencerem as primárias, como o Mitt Romney, bonitão e mórmon (seria o primeiro presidente mórmon. Quem você prefere: a primeira presidenta, o primeiro negro, ou o primeiro mórmon?), e o Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York (que, suponho, seria o primeiro presidente a estar no terceiro casamento). Entre os democratas, vai ser Clinton ou Obama mesmo. Por curiosidade, indaguei a uma amiga: “Por que o Al Gore não é candidato novamente?”. Ela respondeu que é porque ele já teve sua oportunidade, e perdeu. A segunda chance é um mito. O Gore recebeu o Oscar e o Nobel da Paz, mas a marca de “fracassado” ficou no seu currículo. Se o Lula fosse americano, jamais poderia concorrer quatro vezes. Mas enfim, a data fundamental é 5 de fevereiro, quando ocorre a Super Terça, em que mais da metade dos estados realiza suas primárias. Cada resultado é um carnaval de análises. E são 50 estados... Tanta informação pra, no final, cem milhões de americanos elegerem o novo chefe do universo.