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Em busca de credibilidade - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 10/07
Hoje o Banco Central retomará quase sozinho seu contra-ataque à inflação. A reunião do Copom deverá elevar os juros, provavelmente em mais meio ponto porcentual, para 8,5% ao ano.
É um esforço cada vez maior da política monetária para um efeito relativamente pequeno, porque o resto do governo não ajuda.
Em junho, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou alguma perda de vigor, embora o avanço em 12 meses tenha saltado para 6,7%, para além da meta de 4,5% ao ano, mais o adicional de escape permitido, de dois pontos porcentuais.
Além da significativa desaceleração no custo dos alimentos, os números de junho mostraram de bom uma inflação menos espalhada na economia: o índice de difusão foi de 54,7%, contra os 63,0% de maio e 65,8% em abril.
Não dá ainda para comemorar, por quatro motivos: primeiro, porque o progresso é pequeno; segundo, porque a alta dos serviços ainda está forte demais, à altura dos 8,6% em 12 meses; terceiro, porque, em alguma medida, novos recuos do custo de vida serão influenciados pelas retiradas dos reajustes no preço dos transportes coletivos, fator que gera outras distorções; e, quarto, porque ainda é preciso avaliar o efeito da alta do dólar (de 12% nos dois últimos meses) sobre a cesta de consumo do brasileiro.
É verdade que o mercado prevê para este ano uma inflação em 12 meses abaixo dos 6%, ou de 5,67%, como aponta a Pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com cerca de cem instituições e consultorias. É, no entanto, um número alto demais comparado com a meta de 4,5%. Mais do que isso, concorre para que as expectativas permaneçam deterioradas.
Nesse campo, a principal missão do Banco Central não é propriamente garantir a virada das expectativas, algo que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem tentando à base de declarações infundadamente otimistas. A missão do Banco Central é recuperar a credibilidade perdida ao longo de tantos meses de mistificações e de submissão ao voluntarismo da presidente Dilma, cujo principal objetivo de política monetária era, até abril, derrubar os juros, custasse o que custasse.
Por isso, desde então, o Banco Central deixou de vender ilusões, passou a reconhecer problemas, especialmente na condução da política fiscal, e a puxar pelo único instrumento de que dispõe: a política monetária (política de juros), que consiste em retirar dinheiro do mercado quando a inflação aumenta e em expandir a moeda quando acontece o contrário.
Mesmo que seja eficaz nessa empreitada, não basta que apenas o Banco Central recupere credibilidade, se o resto da administração fica devendo. Quem é que, depois de tanta lambança contábil na execução das despesas públicas, acredita em que as metas fiscais, mesmo reduzidas por um PIB mais mirrado, sejam cumpridas pelos administradores da Fazenda?
Já foi dito e repetido que o governo Dilma precisa de um choque de credibilidade, até mesmo para salvar seu futuro político. Até agora, no entanto, não há sinais de que tenha se sensibilizado para isso. E esse é o fator que mais compromete o sucesso da luta contra a inflação.
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