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Encontro com a verdade - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 04/02
O que levou o governo a apontar a porta de saída para Graça Foster foi o mais errado dos motivos. Se houve um mérito no balanço da empresa divulgado na semana passada foi exatamente tornar público o que não podia ser escondido: os R$ 88 bilhões de rombo no valor dos ativos. Esse número foi encontrado pelas duas auditorias independentes contratadas. Era fato relevante. Tinha que estar lá.
No dia da longa reunião do conselho de administração, os ex-ministros Miriam Belchior e Guido Mantega não queriam que o número fosse divulgado. Deixá-lo registrado no demonstrativo financeiro, no entanto, foi o começo do encontro com a verdade. Foi justamente isso, um fato meritório, que levou a presidente Dilma a se enfurecer com Graça Foster. Não foram os erros que ocorreram na Petrobras. A presidente não gostou de Graça ter aceitado que fosse divulgado o que não poderia jamais ser escondido. Pelas leis do mercado de ações, se um elefante deste tamanho, encontrado pelas duas auditorias independentes em 31 ativos, fosse escondido, seria sonegação de informação.
A alta do valor das ações não deve ser entendida como sinal de que os analistas e investidores acreditam que a saída da presidente resolve o problema. A ação está com valor muito baixo, e o mercado opera no terreno especulativo. Da maneira que subiu pode cair. No mercado, em momentos assim, qualquer fato ou boato serve para alimentar movimentos dramáticos, para cima ou para baixo, que podem ser revertidos dias depois.
A coisa mais importante a se fazer para salvar a empresa não é encontrar outra pessoa para o lugar de Graça Foster, mas mudar a atitude do acionista controlador, dando um sinal forte de que começa um novo tempo. Se Belchior e Mantega forem mantidos como representantes do Tesouro no conselho será sinal de que o governo não quer, de fato, profissionalizar a empresa. Primeiro porque Mantega esteve lá durante todo o tempo em que houve decisões desastradas; segundo porque Miriam Belchior não representa a União, mas sim Dilma Rousseff. Está na empresa para defender o que pensa a presidente, e não o interesse dos contribuintes que são, no fim das contas, os verdadeiros donos da empresa.
O conselho é formado pelos representantes dos acionistas, mas não pode ser um órgão político. Tem que ser também uma instância de gestão, já que muitas decisões passam por lá, como se viu. É preciso profissionalizar a gestão e a direção da empresa para reconquistar a confiança dos investidores, dos credores, dos avaliadores, do país.
Uma mudança em toda a diretoria seria um bom momento para estabelecer o início de um tempo novo, com profissionais recrutados no mercado, com expertise de gestão de crise, mas não foi isso que aconteceu. Tudo depende de quem virá e de o governo se comprometer, de fato, em deixar a empresa ser administrada com o objetivo de ter mais transparência, mais prestação de contas aos acionistas.
É estapafúrdia a ideia de deixar a empresa com uma diretoria demissionária durante um mês, num momento em que a companhia está sob suspeição do mercado, auditores, credores, autoridades reguladoras do Brasil e exterior. Como a crise se arrasta há mais de ano, era tempo de o governo saber o que pretende fazer com antecedência e não criar mais uma crise que não sabe como gerir.
A presidente Dilma precisa demonstrar que entendeu o tamanho da crise da Petrobras e o risco que a empresa corre. A Petrobras precisa de um choque de confiança e uma mudança completa de rumos. Não pode ser administrada por mais um que dirigirá a companhia telefonando para a presidente da República.
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