ENTRE BOLOS E NINJAS
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ENTRE BOLOS E NINJAS


Acabamos comprando o bolo de sorvete. Custou 22 dólares, e você pode ver algumas fotos do negócio. Mas admito que estou decepcionada. O bolo, que parece e é bonito, não chega aos pés do sorvete que comemos na loja. Aqui eles usam um troço chamado Devil's Food, comida do demo, que é um bolo de chocolate bastante enjoativo. Não entendi a diferença entre comprarmos uma caixinha de Devil's Food no supermercado (que eu já comprei e fiz, e ficou bem ruim), uma lata de sorvete de qualquer marca, e misturar os dois. Acho que sai igual, e muito mais barato.

Não sei, a lembrança que eu tenho de bolo de sorvete vem da minha infância. Na época, no Rio, pelo menos, a Kibon comercializava uns bolos desses, que eram uma delícia (pro meu paladar infantil). Nem eram de chocolate, e ainda assim eu gostava.

O que puxa uma outra memória. Minha irmã uma vez comemorou seu aniversário num salãozinho do prédio onde morávamos, em SP. Ela era pré-adolescente, e decidiu fazer seu próprio bolo. Não lembro se era de sorvete – acho que não -, mas por algum motivo ele foi colocado no congelador. Durante a festa, o pai de uma amiga dela apareceu. Completamente bêbado. Quando o japonês ia começar a fazer um escândalo, nosso amado pai interviu (por isso que acho que minha irmã era pré-adolescente. Ainda não tinha vergonha de ter os pais numa festa). E ficou conversando com o pai da menina durante um tempão. Eu só via os dois andando de um lado pro outro do salão, o cara falando muito, e meu papi, atencioso, escutando. Assim que o japonês deu uma folga, comentei com meu pai: “Puxa, que paciência, hein? Sobre o quê vocês tanto conversaram?”. E meu pai: “E eu vou saber? Ele tava falando japonês!”.

Aí chegou a hora de servir o bolo que minha irmã tinha feito. Cantamos parabéns, ela soprou as velinhas, pegou uma faca – e simplesmente não dava pra cortar o bolo. Ele tava congelado. A faca não entrava de jeito nenhum. Vários tentaram, como se fosse a lenda da espada do Rei Artur, ao contrário. Quem conseguisse pôr a faca dentro do bolo seria o rei. Houve um momento de pânico quando o japonês veio correndo e gritou: “Deixe eu tentar!”. Ninguém o queria empunhando uma faca.

No final, foi impossível cortar aquele cubo de gelo redondo, e as amigas mais solidárias deram uma mordididinha cada uma no bolo.

Enfim, quando eu voltar pra Joinville, minha mãe já avisou que fará seu glorioso Sacher Torte pra comemorar meu aniversário atrasado. Aquele é o bolo mais achocolatado que existe no mundo. Se minha mãe só faz meia receita, gasta dez barras de chocolate meio-amargo. Tô chutando, mas acho que é por aí. Na ocasião, tirarei fotos pra vocês compararem com o fajutinho bolo de sorvete. Infelizmente, não tenho fotos do bolo congelado da minha irmã. Ou do perigoso ninja.





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