Geral
Esperar sentado - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 14/11
Mudança à vista viria dos juros americanos; no mais, cenário é de lerdeza no Brasil, na Europa e nos EUA
O QUE ESTÁ acontecendo? Nada.
É o que a gente diria se não fosse o risco de ser submetida a vexames pelo imponderável de almeida, o acaso: talvez o risco de um "crash" da Bolsa de Nova York num dia de céu azul, de um maluco explodir alguma parte dos Estados Unidos, de Israel despejar bombas no Irã, essas coisas incertas e outras ocultas e que ainda não foram espionadas.
No entanto, as engrenagens maiores da economia do mundo estão rodando devagar, quase parando, se não estão cheias de areia e engripando. Quase todo mundo está à espera do que vai ser da política econômica americana, aquela história já tediosa mas no fundo perigosa da redução do despejo de dinheiro na economia dos Estados Unidos.
O aperto monetário americano virá, daqui a algum momento do ano que vem. O fato de não se saber quando tal coisa vai acontecer indica por si só que a coisa anda malparada, que não se sabe bem a temperatura da economia americana (fria, no máximo morna) e nem mesmo se o governo deles (BC inclusive) tem muito mais instrumentos para apressar o passo da carruagem.
Uma fechadinha na torneira de dinheiro do Banco Central deles tende a reduzir o preço de ativos financeiros (preços de ações, de títulos da dívida do governo, de papéis privados etc.), entre outras coisas.
Não se sabe quão grande será o tombo. Pode não ser grande coisa. Pode ser. Nesse caso, causaria prejuízo a desavisados, com risco maior de um dominó de perdas.
O Brasil anda encalacrado por falta de meios para andar mais rápido, inflacionado, endividado e especialmente ineficiente que está.
O governo não teria muito mais como estimular a economia morna (afora por meio de desatinos), pois esgotou seus instrumentos.
Poderia começar a consertar a casa, o que não vai fazer para não correr riscos na eleição.
Desse mato não sai cachorro.
A Europa não estava se recuperando? Hum. Sair de uma recessão para o crescimentozinho estimado, porém incerto, do ano que vem já não seria grande coisa. Mas a eurozona corre risco de deflação, sinal de desemprego excessivo e crédito escasso, ambos crônicos.
O BC deles acaba de baixar a taxa de juros a quase zero, ficando à beira de não ter instrumentos, de não ter lenha para colocar na fogueirinha da economia. Enfim, mesmo que tudo "dê certo", a economia da União Europeia terá de esperar até 2015 ou 2016 para ultrapassar o nível de produção de 2007.
De volta ao Brasil, por ora a perspectiva é de no máximo de uma operação tapa-buracos. A estrada vai continuar ruim. Não é novidade.
O governo vem dizendo que pode remendar suas contas deixando de renovar algumas reduções de impostos (alta de custos à vista); que vai enfim vai remediar o problema da Petrobras com algum aumento de combustíveis; que vai repassar o custo represado da energia elétrica.
A inflação ficaria pois mais alta ou deixaria de cair, isso sem contar a alta do dólar que virá.
A taxa de juros continuará subindo mais um tico. O governo prometeu puxar o cabresto do crédito dos bancos públicos, que de resto já vêm dizendo que vão maneirar, daqui por diante. Não se trata bem de uma receita de aceleração do crescimento em 2014, mais um ano perdido, na melhor das hipóteses.
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