FAÇAMOS O MELHOR PARA NÃO CRIAR ESTUPRADORES
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FAÇAMOS O MELHOR PARA NÃO CRIAR ESTUPRADORES


Esses dias a Amanda me enviou um texto muito bom da Eve Vawter do Mommyish (ou pelo menos uma parte). Pedi pra Amanda traduzi-lo, e ela, que é estudante de moda em SP e professora particular de inglês (além de ter um blog), me mandou a tradução rapidinho. Muitíssimo obrigada, Amanda!
O texto é necessário porque toda vez que dizemos “Ensinem homens a não estuprar, não mulheres a não serem estupradas”, vem alguém dizer que isso é ridículo, que é óbvio ululante que os homens sabem disso. Mas não sabem. Se na maior parte das vezes tantos homens (e muitas mulheres também) negam que um estupro foi estupro, como vão saber que não devem estuprar? 
As mulheres aprendem muito bem, desde muito cedo, o que devem fazer para tentar não serem estupradas. A ameaça do estupro é uma constante na vida da maior parte de nós. Pensamos nessa ameaça ao entrar num lugar deserto. Pensamos nisso ao sair sozinhas. Pensamos nisso o tempo todo, acredite. Este medo que nos é imposto ajuda para que sejamos domesticadas, para que sejamos controladas, para que saibamos nosso lugar na sociedade. É por isso que o estupro beneficia muito mais gente que o mero estuprador. A ameaça de estupro é uma forma de todo um gênero controlar outro gênero.
É engraçado como os homens que ficam revoltados com a frase "ensinem os homens a não estuprar, não as mulheres a não serem estupradas" não se revoltam com todo o discurso de que mulheres devem aprender a não serem estupradas. Porque, sabe, mulheres serem ensinadas a não ser estupradas não impede o estupro. Porque não depende de nós. Depende de quem estupra. Além do mais, somos enganadas. Ninguém fala pra gente que o que vemos como estupro-padrão (um estranho numa rua escura e deserta à noite) só representa uns 30% de todos os casos de estupro. A maior parte dos estupros é cometida por conhecidos (parentes, amigos, namorados, maridos) da vítima, e em sua casa. Isso não ensinam pra gente.
E ao mesmo tempo, o que é ensinado aos homens sobre estupro?
É muito fácil limpar a barra dos homens ao pensar que quem estupra é um monstro. Porque não é. É um cara que pode ser muito simpático em outras oportunidades, mas que aprendeu que “forçar a barra” não é estupro. Aprendeu que quando a mulher diz “não” ela só está se fazendo de difícil. Aprendeu que as mulheres adoram ouvir cantadas de teor sexual na rua. Aprendeu que mulher não gosta muito de sexo, então, se ele não insistir, não vai rolar. 
Aprendeu que sua masculinidade é medida pelo número de parceiras que tiver. Aprendeu que sair com uma garota e pagar o jantar significa que ela tem que transar com ele. Aprendeu tanta coisa errada que não é surpresa que a primeira pergunta de tantos (e só no caso dos estupros-padrões, na rua, à noite, por estranhos -- o único estupro que as pessoas acreditam que existe) é aquela, "O que ela estava vestindo?".
Está na hora de oferecer um outro aprendizado. É isso que Eve propõe no texto abaixo.

Todas nós adoramos nossos filhos. Não passa pela nossa cabeça que eles machucariam alguém deste modo, que seriam capazes de cometer este tipo de violencia. Mas o triste fato é que sim, eles são. E para cada mãe que já teve seu filho acusado de estupro, eu tenho certeza que a maioria delas se sentiu como eu e você: "Meu filho nunca seria capaz de fazer isto!". Nós não queremos que nossas crianças se tornem estupradores.
Pais e mães precisam estar envolvidos nesta conversa com seus filhos. Precisamos explicar aos nossos garotos como agir se eles estiverem numa festa e virem uma menina desmaiada. Precisamos dizer a eles de modo definitivo que, se houver hesitação por parte da garota, seja quando estiverem se beijando ou indo além disso, eles devem parar imediatamente. Precisamos nos certificar de que nossos filhos têm plena consciência de que pressionar uma menina para que algo aconteça nunca é ok, seja através de força física ou coerção verbal. Nós precisamos ser enfáticxs sobre isso. E isso precisa acontecer muito antes de nossos filhos começarem a pensar sobre sexo.
Quando meus filhos eram pequenos, eu e meu marido nos esforçamos em sempre focar num comportamento de empatia. Todos nossos filhos são como esponjas. Quando o seu filho é pego brigando com outra criança por ter que dividir um brinquedo e você pergunta “Como você se sentiria se alguém batesse em você?”, você está ensinando seu filho a não pensar somente em si mesmo. Quando você ensina empatia a crianças, você está evitando que elas se tornem adultos narcisistas, uma desordem que boa parte dos especialistas acredita estar presente na grande maioria dos estupradores. 
É preciso usar a mídia em seu favor. Quando seus filhos forem expostos a conteúdos violentos ou abusivos contra mulheres em filmes, videogames e música, você precisa parar e explicar a eles porque este conteúdo é errado. Também é necessário ensiná-los a respeitar mulheres e tratá-las com igualdade. Assim, se seu filho de 9 anos disser que uma menina da sua classe se veste como uma “vadia”, você deve chamar sua atenção, e explicar a ele que o modo como uma mulher se veste não é indicação nenhuma do valor dela como ser humano nem um indício de sua personalidade. Não que isso já aconteceu na minha casa...
Dizer aos nossos filhos “não estupre” não é suficiente. É necessário incluir muitos outros tópicos nessa discussão. Diga a ele: não repasse fotos íntimas que você receber de garotas para seus amigos. Não diga grosserias a meninas que passam por você na escola. Não dê álcool ou drogas para meninas em festas esperando que isso aumente as chances de que elas fiquem mais receptivas sexualmente. Não veja meninas e mulheres como seres sexuais desprovidas de intelecto, sentimentos e alma. Não chame meninas de vacas, vadias ou qualquer palavra similar. Não deixe seus amigos fazerem isso.
Quando nós falamos de sexo com nossos filhos adolescentes, além de pedir que eles não engravidem ninguém […], também conversamos sobre violência sexual. Espero que você também tenha essa conversa.




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