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FACEBOOK, UM BOM LUGAR PRA ODIAR
Meu post sobre a insanidade do Facebook fez com que eu recebesse dezenas de comentários e links pra outros desequilíbrios, digamos assim, cometidos pela maior rede social do mundo. Já falei que não tenho FB e que, pelo andar da carruagem, não terei? E que sou grata pelo FB ser responsável por 20% das visitas deste meu bloguinho? Então.
(Assange: Dou informações confidenciais sobre corporações pra vc de graça, e sou o vilão. Zuckerberg: Vendo informações confidenciais sobre vc pra corporações, e sou o homem do ano).
Semana passada, eu e muitas outras pessoas denunciamos uma página asquerosa com 60 mil seguidores, a Lobo da Insanidade. Entre outras barbaridades, a página fazia apologia ao estupro, com várias imagens encabeçadas pela palavra no imperativo “estupre”. A Lobo já havia sido denunciada, e a resposta do FB era sempre a mesma -– que a página não feria nenhuma regra. E o autor da Lobo, a cada denúncia, mais ameaçava. Uma leitora comentou que, quando se faz a denúncia de uma página, o FB disponibiliza pra página a identidade de quem fez a denúncia. Logo, assim que fez a denúncia, essa leitora recebeu do Lobo a seguinte mensagem: “Be raped, bitch!” (Seja estuprada, p*ta!). Legal, né?
Mas a Lobo da Insanidade, que tanto se vangloriava de que não podia ser removida porque pagava (?) pro FB, e que dizia não ter medo de ninguém, foi finalmente removida. Não pelo FB, óbvio, que parece não ver problema algum com discursos de ódio. Mas pelo próprio autor, aquele valentão anônimo.
A Mirella informou que a Lobo foi removida “menos de 18 horas depois que a Polícia Federal disse que estava encaminhando o caso para a divisão dos crimes cibernéticos. Não deu tempo de fazer BO, a página saiu antes. Pelo jeito, a PF não concorda com aquilo de 'não gostou, não acesse'.” Ainda assim, mesmo que essa Lobo tenha sido removida, há várias outras com o mesmo nome e conteúdo, embora com menos seguidores. E essas são apenas a pontinha do iceberg de inúmeras páginas de ódio que, mesmo denunciadas, continuam a pleno vapor na rede do Mark Zuckerberg.
Os problemas gerados pelo FB são tantos que só me resta torcer para que apareça uma rede social rival com maior transparência e menos ganância. Aqui há várias denúncias. Algumas me parecem fraquinhas, como a queixa da falta de privacidade. A irmã do Zuckerberg reclamou que uma foto que ela mandou pra amigos próximos no FB rapidamente ganhou todas as redes. Ela disse que divulgar fotos de amigos sem permissão seria falta de decência humana. Um articulista ironizou que a irmã de “uma empresa que tem feito bilhões reunindo informações pessoais das pessoas e usando essas informações para vender anúncios” venha falar em decência humana. Mas há denúncias bem mais sérias. Uma delas é que a pornografia infantil corre solta no FB. A imagem que uso pra ilustrar este parágrafo (desculpa, gente) foi tirada da página de um “pedobear”, como se autointitulam os pedófilos. Diz uma petição exigindo o fim da pedofilia no FB: “Pela primeira vez na história, pedófilos de todo o mundo podem se reunir nas sombras das redes sociais para trocar imagens e vídeos abusivos de crianças”. Mas imagens e vídeos pornôs com crianças não só deveriam ser vistos como inapropriados pelo FB, mas também como crime, certo?
Bom, o FBI descreve o FB como “pouco cooperativo” no combate à pedofilia. Como disse meu leitor Anderson: “se os americanos, que estão bem mais adiantados em matéria de leis e segurança na internet, não estão conseguindo conter isso, o que sobra pro Brasil que ainda engatinha nesse assunto, e as autoridades só tomam providência quando tem gente famosa envolvida?" Pois é.Em compensação, enquanto o FB age vagarosamente para combater coisas sérias, ele é uma proeza para banir páginas mais progressistas. E só volta atrás depois de muita pressão. Alguns exemplos:Este casto beijo gay, tirado de uma novela britânica, Eastenders, foi removido. Como o FB aceita a postagem de beijos héteros muito mais calientes do que este, houve reclamações. O FB permitiu que a imagem voltasse. Ano passado o FB tirou do ar um post da Women on Web, grupo que ajuda mulheres em países não é legalizado a realizar um aborto químico (com base no remédio pra úlcera Cytotec). Esta imagem ao lado, por exemplo, foi considerada inapropriada. Após protestos, FB pediu desculpas e restaurou a página.
Mas o FB é tão rigoroso contra mamilos (só femininos, masculinos pode) que proíbe fotos das Marchas das Vadias e de mulheres amamentando. Ano passado, um grupo de mães fez um mamaço em Austin, a cidade mais prafrentex de Texas, em frente a um escritório do FB.
Mas o FB não aprende. Seios continuam banidos mesmo quando eles já não estão mais lá. Esta mulher quis colocar a foto de sua mastectomia. O FB proibiu.
Já uma página no FB com um monte de baboseira racista contra aborígenes só foi retirada após um abaixo assinado.
Esta imagem numa página islandesa tinha esta imagem, com os dizeres “Mulheres são como grama, precisam ser batidas/cortadas regularmente”. Apesar de várias denúncias, o FB decidiu mantê-la no ar. Só depois de protestos ela foi removida. FB pediu desculpas por ter mantido a imagem.
Diante de tantas discrepâncias, o FB fez um mapinha sobre o que é feito quando alguém denuncia uma página. Essa é a versão oficial. Boa sorte para entendê-la.
A versão não oficial é que quem monitora as páginas (e encarrega-se de fazer – ou não -- alguma coisa com as denúncias) são pessoas de países pobres. Elas não trabalham diretamente pro Facebook. São terceirizadas, e ganham cerca de um dólar por hora. O Google também adota essa tática, e há uma certa competição pra ver quem tem o pior emprego, quem tem que enfrentar mais horas de imagens e palavras podres, se os terceirizados do FB ou os do Google.Um desses terceirizados, um indiano, acompanhou mais uma alta de ações do FB, comparou seus rendimentos de um dólar por hora pra trabalhar pra empresa, e revoltou-se: decidiu divulgar as regras do que o FB proíbe e o que permite. No que concerne conteúdo de ódio, está escrito que devem ser retirados (minha tradução): 1) ofensas ou comentários racistas de qualquer tipo; 2) ataques baseados em categoria protegida; 3) símbolos de ódio; 4) mostrar apoio a organizações e pessoas conhecidas principalmente pela violência; 5) mostrar símbolos conhecidos pelo ódio e violência; 6) fotos versus fotos: fotos comparando duas pessoas lado a lado [que foi justamente a primeira atividade que Zuckerberg promoveu, segundo o filme A Rede Social]; 7) qualquer imagem fotoshopada de pessoas, ainda que negativa, positiva ou neutra; 8) imagens de pessoas bêbadas, inconscientes ou dormindo, com coisas escritas em seus rostos; 9) vídeos com brigas na rua, bares ou escolas. Nota: humor vale mais que discurso de ódio a menos que palavras ofensivas estejam presentes ou o humor não seja evidente”.
Custa crer que alguém realmente foi a uma página como a do Lobo da Insanidade, viu atrocidades como “Adoro recém nascidos. Eles são tão apertadinhos”, e achou que estava tudo ok. Por isso, tem muita gente que crê que os padrões do FB são feitos justamente para censurar páginas de conteúdo progressista e liberar aquelas de conteúdo reacionário.
O fato é que é muito difícil lutar contra um gigante que aceita palavras e imagens de ódio, e que não presta atenção a denúncias. Eu gosto de redes sociais e quero mais é que elas proliferem (seria bom que houvesse concorrência, em vez de monopólios). Mas seria pedir demais que o espaço para pedofilia e discursos de ódio ficasse restrito à Deep Deep Web?
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