FEMINISTAS FAZEM FACEBOOK ADMITIR QUE NÃO COMBATE MISOGINIA
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FEMINISTAS FAZEM FACEBOOK ADMITIR QUE NÃO COMBATE MISOGINIA


Esta tem tudo pra ser uma ótima notícia. A maior rede social do mundo, hoje com 1.1 bilhão de usuárixs, finalmente admitiu que não lida nada bem no seu controle da misoginia. O Facebook prometeu melhorar. Se vai mesmo fazer isso, só vendo. Obviamente, vamos torcer que sim, porque a situação chegou a um ponto insuportável.
A boa notícia mesmo é que foram as feministas que fizeram o Facebook ver o óbvio. Várias organizações feministas em língua inglesa escreveram uma carta aberta exigindo que a rede social assuma a existência de inúmeras mensagens de ódio e que faça alguma coisa para não tolerar tal conteúdo, que treine moderadores para perceber e remover discursos de ódio referentes a gênero, e que ensine aos moderadores que esse ódio não afeta igualmente homens e mulheres. 
As feministas foram além e, na carta, cutucaram o FB onde mais machuca: no bolso. Anunciaram uma campanha para conscientizar empresas a deixarem de anunciar na rede social até que o time de Mark Zuckerberg tome alguma atitude contra a misoginia. Afinal, é absurdo, e deveria ser inaceitável para qualquer empresa, que seu anúncio apareça ao lado de imagens como "Divirta-se: estupre uma mulher e suas amigas". Cerca de quinze corporações, entre elas a Nissan do Reino Unido, assinaram o boicote ao FB. 
Esse treinamento de moderadores é muito importante porque, como diz Soraya Chemaly, só tirar as páginas de ódio não é suficiente, já que as imagens voltam a aparecer em outro lugar com muita rapidez. Moderadores precisam treinar seu olhar para desobedecer ao senso comum, que vê violência contra a mulher como algo à toa, insignificante, banal. 
Em janeiro, tratei dessa política permissiva do FB. Falei de uma página em particular, que faz imagens com "estupre", assim, no imperativo. Não só o FB não removeu a página, como algumas mulheres que a denunciaram passaram a ser alvo de "terrorismo" do autor, com muitas ameaças e divulgação de seus dados pessoais. E o FB não removeu nada disso.
Esse post fez com que um monte de gente me enviasse links de como o FB é incapaz até de combater crimes reconhecidos, como a pedofilia. E de como os moderadores são terceirizados (quase sempre pessoas de países pobres), ganham a mixaria de um dólar por hora, e seguem regras que não são nada claras, porque mal recebem treinamento.
Se o Facebook, em seu regulamento, proíbe discurso de ódio, então por que permite discurso de ódio contra as mulheres? Não é exclusividade do FB, lógico. A misoginia é tão espalhada e tão aceita na nossa sociedade que as pessoas têm dificuldades em enxergá-la. Se alguém explodir uma bomba numa sinagoga ou numa igreja majoritariamente negra, o ataque será visto como um crime de ódio. Mas, se um cara invade uma aula de aeróbica e abre fogo contra as participantes (todas mulheres), se um outro cara entra numa escola e mata dez meninas e dois meninos, os ataques são tratados pela mídia como "massacres", não como crimes de ódio. Mesmo que os assassinos fossem frequentadores de sites e fóruns que sistematicamente pregam ódio contra mulheres. A mídia sequer trabalha com o termo feminicídio, por exemplo.
Parece algo pessoal do FB contra todo um gênero, se considerarmos a origem da rede social (como mostrado no filme, Zuckerberg começou fazendo página sexista comparando a aparência de universitárias), o fato que o FB bane um montão de coisas legítimas (fotos de mastectomias, imagens de mamilos de mulheres -- de homens tudo bem -- protestando na Marcha das Vadias, quadros famosos, organizações de direitos reprodutivos etc), ao mesmo tempo que não veja nada de mais em páginas de ódio. 
Óbvio que o que está nas redes sociais é apenas um reflexo de uma cultura misógina. 
Não é o FB que coloca imagens de mulheres feridas ou de mensagens de estupro passando por piadas. Mas é ele que, apesar de tantas reclamações, permite que essas imagens continuem no ar. E sabe, não é piada. Não é engraçado. A ONU aponta que, em todo o mundo, sete em cada dez mulheres serão vítimas de violências físicas e/ou sexuais ao longo da vida. O secretário-geral classificou o quadro como uma pandemia. O FB concorda com este quadro assustador? Está fazendo alguma coisa para tentar mudá-lo, ou está sendo cúmplice na propagação do ódio? 
Desculpe, mas nisso de combate à violência contra a mulher, ou você está contra, ou você está a favor. É difícil ter um meio termo. Se você conta piadinha de como estupro é uma grande oportunidade de sexo pra mulher, se você duvida da vítima, se você diz que nem todo estupro é estupro, se você pergunta "o que ela estava vestindo?", se você diz "ela estava pedindo", se você acha que violência doméstica é um excelente material pra diversão, se você vive repetindo a frase de Nelson Rodrigues ("nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais") como se fosse verdade, se você defende o velho "vigiar e punir" para a sexualidade feminina, se você não vê essas agressões como uma violação de direitos humanos básicos -- enfim, não só você é machista, como você também aprova a violência contra a mulher. 
Uma violência que não oferece nada de bom pra civilização. Muito pelo contrário. 
O Facebook apontou pela primeira vez que não pretende mais trilhar esse caminho. E você?




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