Por Carlos Bandeira, no blog Escrevinhador:Foram 11 horas de uma sabatina que parecia mais uma sessão de tortura. O centro das atenções era um advogado, com jeito e paciência de professor universitário.
Luiz Edson Fachin, indicado pela presidenta Dilma Rousseff para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), deu uma goleada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Não deixou nenhum flanco aberto para questionamentos. Alvo de perguntas, questionamentos e ataques, respondeu um a um de forma didática, clara e objetiva.
Por outro lado, a maior parte dos senadores deu um show de horrores. O tom agressivo, discursos sem sentido, com temáticas irrelevantes ou de um conservadorismo atroz, e perguntas redundantes marcaram boa parte das intervenções.
Aborto, casamento gay, legalização da maconha, redução da maioridade penal, relações com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e com o PT..
Fachin foi obrigado a beijar a cruz do conservadorismo. Não tinha alternativa, porque precisava provar que não era o que a campanha difamatória dizia que ele era. E assim o fez.
O que os senadores queriam era constranger o sabatinado e comprometer seus julgamentos no STF, caso seja confirmada a sua indicação, com as posições mais conservadoras.
Apesar de beijar a cruz, com base na lei, deixou uma margem para uma atuação progressista.
Fachin foi um gigante e saiu maior da sabatina no Senado, que encolheu diante do jurista. Assim, ele foi aprovado CCJ com 20 votos a favor e 7 contra.
Agora, falta a aprovação do plenário do Senado.
O desempenho na sabatina, casado com um currículo impecável e o apoio da comunidade jurídica, aponta como desfecho lógico a aprovação de Fachin pelos senadores.
No entanto, a racionalidade não manda nos processos que correm no Congresso.
Infelizmente, questões alheias aos fatos em debate que vão definir se o jurista será ou não ministro do STF.
O presidente do Senado Renan Calheiros, com sua influência e poder, é a peça chave.
Renan vai atender o pedido da presidenta Dilma? O que vai querer em troca? Ou dará um recado à Nação, dando uma demonstração de poder, vetando o jurista?
Uma questão está evidente: Fachin passou com folga pelo crivo da sabatina, que é um pré-requisito imposto pelo regime democrático.
Daqui pra frente, o que está em jogo não é mais se o jurista tem o perfil para ser ministro do STF, mas os interesses que se escoram em um sistema político que não tem qualquer racionalidade democrática.
Abaixo, veja o resumo publicado na Agência Senado:
Compromisso garantistaAntes de se abrir às perguntas dos senadores, Fachin, num discurso de pouco mais de 20 minutos, assumiu um “compromisso garantista” com os direitos fundamentais à família, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade listados pela Constituição. Ele relembrou a infância humilde a fez questão de destacar a importância da democracia.
- Sou defensor das instituições republicanas e da democracia. Trago posições às vezes controvertidas, mas nunca me escondi atrás das palavras que me fizeram questionar o que me parecia injusto – declarou.
Liberdade de opiniãoFoi esse viés polêmico assumido pelo jurista que acabou sendo explorado por muitos críticos a sua indicação. A sabatina foi aberta com a condenação de Aloysio Nunes à acumulação da advocacia privada com a atuação como procurador do Paraná.
– A lei é clara e não comporta duas interpretações. Como pode um edital de concurso prevalecer sobre letra expressa da Constituição? Acho que [vossa senhoria] deveria reconhecer que houve um erro, mas insiste em justificar algo, no meu entender, absolutamente injustificável – ponderou Aloysio.
É importante assinalar, entretanto, que a posição expressada pelo parlamentar tucano não foi unânime dentro do PSDB. Relator da indicação, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) agradeceu a liberdade dada pelo partido para defender uma candidatura “que reputo da maior qualificação técnica”.
– O Paraná está unido em torno do nome de Fachin. A trajetória dele é de independência – assegurou Alvaro Dias, observando que, ao mesmo tempo em que atribuíram ao indicado eventuais relações com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), seu currículo exibe participação na Câmara Arbitral da Federação das Indústrias de São Paulo e do Paraná.
Questões controversasFachin se confrontou com outras questões controversas durante a sabatina, muitas associadas a manifestações já feitas ao longo de sua carreira. Um exemplo teria sido a defesa dos direitos da amante (poligamia) ao prefaciar um trabalho jurídico de pós-graduação publicado em livro.
– A fidelidade é um projeto de vida e de estrutura da família. A Constituição é o nosso limite – afirmou sobre o assunto.
Limites constitucionais também foram invocados para responder a perguntas sobre o direito de propriedade e a desapropriação de terras improdutivas.
– O sistema a que devemos obediência é o que prevê a propriedade como direito fundamental e ressalva a propriedade produtiva – sustentou Fachin, reconhecendo, entretanto, controvérsia doutrinária sobre a função social da propriedade, elemento que norteia os processos de desapropriação.
Apontado como simpatizante de movimentos sociais como o MST, Fachin disse que defende manifestações desde que sejam realizadas dentro dos limites legais.
– As ações que são realizadas dentro da lei são ações legítimas. Algumas, em determinados momentos, desbordam. A lei, portanto, é o limite desse tipo de manifestação – defendeu.
Em relação ao aborto, perguntas lançadas pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e pela senadora Ana Amélia (PP-RS) o candidato foi enfático:
– Digo numa palavra: sou contra. Sei que há discussões atinentes à saúde pública [...] Eu sou um defensor da vida, da dignidade e da vida humana e estou dando minha posição pessoal de cidadão, cristão e humanista – disse.
MaioridadeAlguns senadores também pediram a opinião do jurista sobre temas importantes em debate ou aprovados pelo Congresso Nacional. Sobre a redução da maioridade penal, Fachin evitou ser incisivo, mas considerou uma possibilidade a eventual ampliação das regras de internação estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
– Todos temos a percepção de ausência de punição. De muitos que já estão encarcerados, há população idêntica com mandado de prisão a ser cumprido. Esse tema precisa ser debatido, inclusive, para que se discuta que sequela [a redução da idade penal] traria – considerou o indicado.
Em relação à PEC da Bengala – que estendeu de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria obrigatória de ministros dos tribunais superiores, do STF e do Tribunal de Contas da União (TCU) –, o jurista avaliou que a medida tem, no mínimo, coerência com a elevação da expectativa de vida da população brasileira.
PolíticaO candidato também teve de dar explicações sobre o fato de ter lido um manifesto em defesa da candidatura de Dilma Rousseff à presidência em 2010. O senado Humberto Costa (PT-PE) foi um dos que pediram para que ele esclarecesse a situação.
– Subscrevi um manifesto elaborado por alguns juristas de São Paulo. Fui convidado a fazer a leitura e não me furtei. Era um manifesto que eu havia assinado. Gostaria de salientar que não tenho nenhuma dificuldade, nenhum comprometimento, caso, eventualmente, venha a vestir a toga do Supremo, em apreciar e julgar qualquer um dos partidos políticos de nossa Federação – garantiu.
JustiçaIndagado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) sobre os longos pedidos de vista feitos pelos ministros do Supremo, o que resulta no atraso da conclusão dos processos, o jurista disse que é preciso seguir o que diz o Regimento da Corte. No caso, duas sessões subsequentes após o pedido.
– Por outro lado, o juiz também precisa formar sua convicção. Precisa elaborar seus fundamentos. Estou examinando em tese para dizer que a Justiça precisa ser célere, mas determinadas questões, pela complexidade, exigem tempo para elaboração de juízo de valor – ponderou.
O senador Jorge Viana (PT-AC), por sua vez, defendeu a proibição de ex-ministros do Supremo atuarem na advocacia privada após deixarem o Tribunal. Fachin lembrou que a quarentena abrange o campo moral também e não só jurídico, por isso ele concorda com a necessidade de limitações, sem que haja prejuízo à vida produtiva da pessoa.
O GLOBO - 10/05 Ao contrário do que alegam os apoiadores do jurista Luiz Edson Fachin à vaga de Joaquim Barbosa no supremo tribunal Federal, a proibição de procuradores exercerem a advocacia privada concomitantemente com a função de procurador do...
O GLOBO - 09/05 Quando o jurista Luiz Edson Fachin foi indicado pela presidente Dilma para a vaga aberta no supremo tribunal Federal com a aposentadoria precoce do Ministro Joaquim Barbosa, estranhei que ele tenha se anunciado partícipe de um grupo...
Por Luis Nassif, no Jornal GGN: A indicação do jurista Luiz Edson Fachin para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), pela presidente Dilma Rousseff, foi recebida com uma aprovação unânime do meio jurídico. Juristas de todas as linhas políticas,...
Marcelo Camargo/Agência BrasilPor Tereza Cruvinel, em seu blog: Nunca um nome indicado pelo ocupante da Presidência da República para integrar o STF despertou tanto interesse, tantos movimentos contrários e a favor como o do jurista Luiz Edson Fachin....
Por Luis Nassif, no Jornal GGN: Qualquer operador de direito minimamente informado sabe que, antes da Constituição, procuradores tinham autorização para advogar. Não se trava de um vácuo na legislação, mas de autorização expressa para advogar....