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Falta explicar - CELSO MING
O ESTADO DE S. PAULO - 21/10
Se não consegue emplacar suas metas, o Banco Central poderia ao menos dar coerência a suas explicações.
Ninguém espera que a reunião do Comitê de Política Econômica (Co-pom) desta quarta-feira altere os juros básicos (Selic) que estão estacionados a 14,25% ao ano, um dos mais altos do mundo, numa situação em que os principais bancos centrais do mundo trabalham com juros próximos de zero por cento.
Mas o mercado interno monitorado pelo Banco Central enfrenta um punhado de distorções que envolvem diretamente a política monetária (política de juros).
A mais importante é a inflação que caminha quase inexoravelmente em direção aos dois dígitos, sem que a megadose dos juros básicos consiga baixá-la.
Há dez meses, o compromisso firme do Banco Central é chegar ao final de dezembro de 2016 com a inflação em 12 meses no centro da meta (4,5%). Mas ninguém mais acredita nisso. O Boletim FociiSy onde o Banco Central registra as projeções de cerca de 100 instituições do mercado, mostrou nessa segunda-feira que a média das projeções aponta para uma inflação, ao final de 2016, de 6,12%, número algo abaixo dos 6,16% apontados pelas top five, as cinco instituições que se notabilizam pelo acerto nas projeções levantadas nessa pesquisa. Este não é desvio irrelevante. Mostra que o Banco Central não vem conseguindo gerenciar as expectativas, um dos objetivos mais importantes no sistema de metas de inflação.
Sobre essa discrepância, o Banco Central tem três caminhos a seguir: ou assumir que não conseguirá entregar a inflação na meta, como garantiu até agora e, nesse caso, terá de rever seus prazos; ou acenar para novo reforço de dose dos juros, para que o cumprimento da meta se torne outra vez possível; ou, então, demonstrar com argumentos sólidos que as projeções do mercado estão erradas e as dele, corretas.
A segunda discrepância é o impacto da desordem orçamentária sobre a inflação. Por meses a fio, o Banco Central tem repetido que a política fiscal caminha inexoravelmente para ser neutra, "no horizonte relevante", em relação à inflação, ou seja, falta pouco para que a relação entre receitas e despesas do setor público se equilibre a ponto de não produzir inflação.
Essa postura irrealista vem tirando credibilidade do Banco Central. O principal fator de inflação é o desequilíbrio das contas públicas: as excessivas despesas do governo criam renda, renda cria demanda e, pelo efeito oferta-pro-cura, demanda aquecida cria inflação.
Alguns economistas de peso têm advertido que o momento é de dominância fiscal, situação em que a política monetária perde capacidade de combater a inflação. Não é o que pensa o Banco Central, na medida em que continua acenando para o cumprimento da meta de inflação ao final de 2015.
Por isso, falta também apontar qual é o equívoco desses analistas que vêm apontando esse desvio e o que o Banco Central pode fazer para que o risco de que sobrevenha a dominância fiscal seja revertido.
CONFIRA
Nem desconfiava
A ex-presidente da Petrobrás Graça Foster declarou ontem ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, que não desconfiava da conduta dos então diretores da Petrobrás, Paulo Roberto Costa (Distribuição), Renato Duque (Serviços) e Jorge Zelada (Internacional).
E, no entanto, enquanto era presidente da empresa, Graça avisou mais de uma vez que desmandos como os que aconteceram nas refinarias Abreu e Uma e Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) não poderiam se repetir. Ou seja, ela tinha noção de que havia coisa errada pelo menos nesses investimentos.
Sem condutor
Na edição dessa terça-feira, o "Financial Times" publicou matéria em que dá conta de que a mineradora anglo-australiana Rio Tinto passou a usar caminhões com pilotagem automática em duas de suas minas de minério de ferro, no Oeste da Austrália. É experiência pioneira no gênero, que deverá servir de guia para outros investimentos até mesmo fora do setor de mineração.
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