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Feridas de Honduras - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 30/11
O ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya prejudica a frágil democracia de seu país ao não reconhecer a vitória do governista Juan Orlando Hernández na eleição presidencial realizada domingo.
Com quase todos os votos apurados, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) proclamou o triunfo do candidato apoiado pelo presidente Porfirio Lobo. Na disputa de apenas um turno, Xiomara Castro, mulher de Zelaya, ficou em segundo lugar --seu marido, no entanto, a declarou "presidente eleita".
Não há motivos para levar a sério alguém que em 2009 tentou permanecer no poder por meio de um golpe plebiscitário de inspiração chavista e terminou legalmente deposto do cargo e indevidamente expulso de seu país.
Ainda que não fosse por seu histórico, Zelaya não mostra nenhuma evidência para comprovar a alegada manipulação de resultados; o processo, ademais, foi considerado legítimo por diversas missões internacionais de observação.
Terá havido, sem dúvida, abusos durante a campanha. Essa é a regra em praticamente toda parte; também o é, e talvez com mais força, num país onde cerca de 40% da população sobrevive com menos de US$ 1,25 por dia.
Clientelismo e uso da máquina estatal favoreceram Hernández. Sua legenda, o conservador Partido Nacional, distribuiu benesses --de cimento a cestas básicas-- às vésperas da eleição e compensou, por um instante decisivo, a baixa popularidade do governo. Mas isso não se confunde com suposta fraude comandada pelo TSE.
De resto, a agremiação de Zelaya, o Libre, conseguiu resultado notável. Fundado há apenas dois anos, rompeu o secular bipartidarismo entre o Partido Nacional e o Partido Liberal --além da votação expressiva de Xiomara, deve obter a segunda bancada no Congresso e diversas prefeituras.
O que interessa aos 8,4 milhões de habitantes a partir de agora é saber se o novo cenário político ajudará o país a enfrentar seus graves problemas. Basta dizer que Honduras detém a mais alta taxa de homicídios do mundo, 86,5 assassinatos por 100 mil (cerca de três vezes maior que a do Brasil), devido ao narcotráfico internacional e à atuação de gangues armadas.
O presidente eleito Juan Orlando Hernández promete combater a violência com o emprego de militares em tarefas policiais de rua. A medida, sempre temerária, é mais preocupante num país instável, com feridas de 2009 ainda abertas e um ex-presidente destemperado.
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