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FHC desenterra dogmas neoliberais
Por Altamiro BorgesEm sua coluna no jornal Estadão deste domingo (5), o ex-presidente FHC abriu o jogo. Ele propôs, sem meias palavras, o retorno ao receituário neoliberal – o mesmo que quase quebrou o Brasil em seu triste reinado e levou a uma das mais graves crises do sistema capitalista mundial – e ainda do complexo de vira-latas diante dos EUA. Especula-se que o grão-tucano foi sondado para ser vice de Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB, numa chapa puro sangue que repetiria a dobradinha café-com-leite – São Paulo e Minas Gerais. Seria ótimo para explicitar os projetos em disputa no Brasil. É bom guardar o texto de FHC, antes que ele peça para esquecer o que escreveu, como importante peça da campanha de 2014.
Entre outras medidas "urgentes", o ex-presidente prega que “é óbvio que a política externa brasileira precisará mudar de foco, abrir-se ao Pacífico, estreitar relações com os EUA e a Europa, fazer múltiplos acordos comerciais, não temer a concorrência e ajudar o País a se preparar para ela... Não devemos ficar isolados em nossa região, hesitantes quanto ao bolivarianismo, abraçados às irracionalidades da política argentina”. O texto parece ter sido escrito por algum assessor de Barack Obama, talvez com o objetivo de conseguir apoio financeiro das multinacionais estadunidenses!
Ou seja, FHC defende abertamente o retorno à política de “alinhamento automático” com os EUA e o distanciamento dos países dos Brics e do processo de integração soberana da América Latina. No seu governo, esta orientação colonizada travou o desenvolvimento do país e reduziu a diversidade dos parceiros comerciais. Caso estivesse em vigor em 2008, quando os EUA afundaram na recessão, o Brasil ficaria pendurado na brocha. A política externa soberana do ex-presidente Lula, mantida na essência por Dilma Rousseff, foi um dos fatores fundamentais para evitar que a crise mundial tivesse o impacto de um tsunami no Brasil. Mesmo assim, FHC finge-se de morto e prega o retorno ao passado.
Já no que se refere à política interna, o grão-tucano repete os velhos dogmas neoliberais. Defende que “já é hora de baixar os impostos” – dos capitalistas e não os descontados na folha de pagamento dos assalariados – “e de abrir mais a economia”. É a velha tese do Estado mínimo – mínimo para os trabalhadores e máximo para o grande capital. Em seu triste reinado, a tal abertura da economia quase quebrou a indústria e outros setores produtivos, reduzindo o mercado interno de consumo e resultando em recordes de desemprego. Já a carga tributária foi elevada para os assalariados e os banqueiros e grandes corporações empresariais receberam inúmeros socorros, como o famoso Proer.
FHC ainda insiste que é preciso acelerar o processo de privatização. “Noutros termos, fazer com competência o que o governo petista paralisou nos últimos dez anos e o atual, de Dilma Rousseff, se vê obrigado a fazer, mas o faz atabalhoadamente, abusando do direito de aprender por ensaios e erros, deixando no ar a impressão de amadorismo e dúvida sobre a estabilidade das regras do jogo. Com isso não se mobilizam no setor privado os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade. Mordido pelo DNA antiprivatista e estatizante, persiste o governo atual nos erros cometidos na definição do modelo de exploração do pré-sal”.
Com o artigo intitulado “Mudar o rumo”, o grão tucano tenta desenterrar velhos dogmas neoliberais. Estas ideias destrutivas e regressivas já causaram três derrotas seguidas do PSDB nas eleições presidenciais e transformaram FHC num dos políticos mais rejeitados da história do Brasil. Ao final do texto, o ex-presidente afirma: "É preciso redesenhar a rota do país. Dois terços dos entrevistados em recentes pesquisas dizem desejar mudanças no governo. Há um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente. Cabe às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas”. Concordo plenamente! A oposição demotucana e os novos oposicionistas devem, de fato, levar estas propostas para a TV.
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