Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:
Quando era governador, Aécio Neves colocou aeronaves oficiais do estado de Minas para fazer com o dinheiro público o serviço que empresas de táxi aéreo deveriam fazer, transportando celebridades, empresários e cartolas de futebol para voos de natureza privada. Não era carona, com autoridades mineiras viajando junto. Eram voos alocados exclusivamente para atender o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, o apresentador Luciano Huck e a dupla Sandy e Júnior, o ex-executivo da Rede Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o falecido editor da revista Veja, Roberto Civita, os atores José Wilker, falecido, e Milton Gonçalves.
A denúncia - incompleta - é do jornal Folha de S. Paulo, que a partir de documentos obtidos pela Lei de Acesso à Informação publicou uma relação de voos solicitados pelo governador entre 2003 e 2010. Porém, o jornalão seguiu o mesmo padrão que adotou quando do escândalo do Suiçalão, ou seja, omitiu nomes de envolvidos. No caso das contas clandestinas na Suíça de que trataram aquele escândalo, o jornal passou semanas sem tocar no nome de Octávio Frias de Freitas - justamente o todo-poderoso da Folha - que é titular de conta no HSBC suíço.
Agora, no escândalo (sim, é um novo escândalo) dos voos do tucano mineiro, só publicou meia dúzia de nomes. E isso apesar de terem sido 1.423 vôos, sendo 198 deles sem a presença nem do governador nem de outra autoridade de Minas Gerais que pudesse caracterizar viagem oficial.
A Folha se limita a relatar que Aécio proporcionou vôos para vários políticos – com ou sem mandato – mas estranhamente não cita nenhum beneficiado, apesar do evidente interesse público. Isso permite nos darmos asas à imaginação. Seria FHC? Eduardo Cunha? Também fala de autoridades federais dos três poderes sem citar nenhum nome. Seria o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo? A Folha não diz.
Também não cita nomes de autoridades do poder Judiciário que viajaram às custas do governo de Minas durante o governo Aécio e nos 60 vôos cedidos pelo seu sucessor Antônio Anastasia, igualmente do PSDB. A reportagem fala em magistrados estaduais e ministros do STF, mas esconde nomes e destinos.
Sobre o atual governo petista de Fernando Pimentel, a Folha encontrou um único voo cedido e, diferentemente do tratamento dado aos dois tucanos, não blindou o nome do beneficiado: foi o presidente do STF, Ricardo Lewandovsky, de Belo Horizonte para São Paulo. A assessoria de Pimentel afirmou que Lewandovsky cumpriu agenda oficial promovida pelo governo de Minas, no dia em que recebeu o Colar do Mérito Judiciário Militar.
Aécio cedeu aviões também para comitivas de jornalistas. Mesmo sem citar nomes, o jornal confessa: "A Folha esteve em um destes voos para acompanhar uma agenda de Aécio em Lavras". Teria sido mais honesto se explicasse que agenda foi esta, em que data e as razões para aceitar ter suas despesas para material de interesse jornalístico pagas com dinheiro público.
A Folha também "não teve a curiosidade" de cruzar os nomes dos passageiros com os familiares de Aécio, já que denúncias de favorecimentos e de mimos para parentes durante o período em que Aécio governou Minas são abundantes. Também nada publicou, se teve ou não, vôos para o já famoso aeroporto de Cláudio, construído pelo seu governo numa fazenda de um tio.
Caldeirão da Globo
Aécio também cedeu helicóptero para o apresentador da TV Globo Luciano Huck gravar um quadro do programa Caldeirão do Huck. A emissora afirmou que o uso do helicóptero oficial foi parte de um acordo de "facilidade de produção". Porém trata-se de despesa de uma atividade empresarial, privada e com fins lucrativos paga pelo povo de Minas.
Parece que ambos os lados têm dificuldades em separar o público do privado quando se trata de levar vantagem às custas do dinheiro do povo.
Museu privado
Em 2010, pouco antes de deixar o governo de Minas, Aécio cedeu um helicóptero para o falecido dono da revista Veja, Roberto Civita, e sua mulher, visitarem o museu de Inhotim, na cidade de Brumadinho, no interior mineiro.
O museu é propriedade privada controlada pelo empresário Bernardo Paz, irmão do publicitário Cristiano Paz, condenado no mensalão. Desde 2009 conta com o patrocínio da Cemig, por meio da Lei de Incentivo Cultural.
Na época, Bernardo Paz já era devedor do fisco mineiro e réu por um esquema de sonegação de impostos em duas siderúrgicas suas. Segundo o Ministério Público Estadual, o esquema envolvia empresas fantasmas, laranjas e uso de notas falsas para pagar menos ICMS.
Agora em 2015, após a saída do governo tucano e a intensificação da força-tarefa para cobrar impostos em débito, Bernardo Paz reconheceu uma dívida tributária de cerca de R$ 120 milhões com o Estado e fez acordo para pagá-la. O fato reforça a inconveniência de ceder um helicóptero oficial para aquela visita.
Apesar de o museu a céu aberto ter seu valor artístico reconhecido, tanto pela coleção de arte contemporânea, como pelo projeto paisagístico da edificação, a origem dos recursos que o financiaram é controversa.
Bernardo Paz fez fortuna com mineração de ferro. Em 2009, o jornal O Estado de S. Paulo descreveu uma versão de Paz para a origem do museu. Um alemão amigo dele teria assumido a gestão de uma mina sua que "não valia nada". Conseguiu valorizá-la e muito.
Venderam por US$ 480 milhões na Alemanha. Paz teria que pagar cerca de US$ 100 milhões de impostos para repatriar o dinheiro. Em vez disso, criou a empresa Horizontes Ltda, cujos donos são a offshore Vine Hill Financial, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.
Outra empresa, no paraíso fiscal de Cayman, a Flamingo Investment Fund, emprestou US$ 126,4 milhões à Horizontes. Com esse empréstimo, a Horizontes comprou áreas em Brumadinho, fez obras, paisagismo e adquiriu obras de arte. Segundo o Estadão, Paz admitiu que o dinheiro dos paraísos fiscais veio da venda da mina no Brasil feita na Alemanha.
Em entrevista à revista Trip, Paz contou uma versão mais palatável ao Leão da Receita Federal e às autoridades. Disse que doou a mina aos alemães e, em retribuição, os alemães colocaram dinheiro no Inhotim.
Antes da visita de Roberto Civita, seu sobrinho e xará, conhecido em seu círculo como Bobby Civita, foi art planning do Instituto Inhotim, o que torna a visita do casal do ex-chefão da Veja de caráter mais pessoal ainda, desaconselhando o uso de aeronaves oficiais.
Estas trocas de vantagens nada republicanas de Aécio com os "barões da mídia" ajudam a explicar a camaradagem com que os tucanos são tratados pelos veículos de imprensa dos grupos Globo e Abril, mesmo diante dos mais escabrosos escândalos de corrupção em seus governos.
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