Fora do campo - MERVAL PEREIRA
Geral

Fora do campo - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 06/06
"A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas"
A frase famosa do escritor e pensador inglês do século XVIII Samuel Johnson "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas" volta e meia retorna ao debate quando governantes se utilizam do sentimento patriótico para encobrir seus erros. Parece que chegamos a esse ponto.
A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas na tentativa de reduzir os danos que já estão sendo causados pelo trânsito impossível em São Paulo, devido à greve dos metroviários ontem, e a diversas manifestações nos últimos dias, que prometem se repetir hoje no jogotreino da seleção.

Ganhar a Copa também fora do campo virou mantra das autoridades brasileiras, a começar pela própria presidente Dilma. Infensa a entrevistas, a presidente anda procurando programas de televisão em todos os canais para falar bem da organização da Copa do Mundo, e pedir apoio da população para que tudo corra bem.

Não se cansa de repetir "nosso queridíssimo e saudoso" Nelson Rodrigues para dizer que a seleção é a pátria de chuteiras. Interessante que a hoje presidente renda homenagens a um dos maiores autores brasileiros, mas que sempre foi um reacionário de carteirinha.

Certamente a "guerrilheira" Dilma deveria considerar Nelson Rodrigues um direitista repulsivo, e a citação a ele não passa de ação de marketing para tentar uma aproximação com os torcedores. Nelson era dos que considerava que torcer pela seleção brasileira é um ato de patriotismo, e Dilma, embora tenha confessado que em 1970 torceu pelo Brasil mesmo sem querer, necessariamente pensava de maneira diversa antes de chegar ao poder.

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mistura política e futebol da mesma maneira que os grevistas oportunistas, que aproveitam a visibilidade do país no mundo para encostar na parede seus empregadores na área estatal.

Quando Cardozo diz que é necessário projetar uma boa imagem do país, está dando a dimensão geopolítica que a organização da Copa do Mundo (e também das Olimpíadas) tem, e que o governo menosprezou, ao dar mais importância a ganhar a Copa do que a realizá- la, na análise correta do secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke.

Já o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, está preocupado com manifestantes e grevistas, que oficialmente são o público- alvo de seu ministério.

É ele o responsável pela ligação com os chamados "movimentos sociais", que o PT cevou com dinheiro público e tratou com leniência até recentemente, imaginando que eles tivessem o "bom senso" de ajudar o governo numa hora como essa da Copa.

Mas o movimento dos sem-teto, que organiza manifestação em São Paulo para hoje, já ameaçou impedir que os torcedores cheguem ao Itaquerão para ver o jogotreino da seleção brasileira.

Falando em tom quase épico, Gilberto Carvalho pediu "uma trégua cívica" aos grevistas que paralisam serviços essenciais nas cidades-sede dos jogos da Copa.

Ora, quando o governo do ex-presidente Lula decidiu considerar de interesse nacional disputar a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, pensavase que se tratava de uma estratégia de política internacional que o governo havia montado para ressaltar a presença do Brasil nos Brics e, em consequência, no mundo.

A seu tempo, também Rússia, China e África do Sul assumiram esse papel. À importância geopolítica da tarefa não correspondeu, porém, à maneira desleixada como ambos os governos petistas trataram a realização dos eventos, e só na undécima hora veem nossas autoridades apelar para o patriotismo do povo brasileiro.

Surpreendentemente, o povo tão amante do futebol está separando a disputa em si dos erros do governo.

O desânimo que se reflete na falta de ruas enfeitadas certamente dará lugar à alegria dentro dos estádios.

Fizeram bem os jogadores e a comissão técnica em evitar uma ligação mais politizada com as autoridades governamentais e políticos de maneira geral.

Uma vitória do Brasil dentro do campo dará uma alegria à população, mas dificilmente fará o ambiente político se desanuviar. Uma derrota no futebol vai exacerbar os ânimos já exaltados. A vitória fora do campo está cada vez mais difícil.






- Não Basta Xingar - Ricardo Balthazar
FOLHA DE SP - 15/07 SÃO PAULO - Uma nova rodada de pesquisas dirá nesta semana se a humilhação sofrida pela seleção brasileira e o fim da Copa do Mundo tiveram algum efeito sobre o humor do país e a disputa eleitoral. A oposição acha que a presidente...

- Trégua Da Copa - Merval Pereira
O GLOBO - 05/07 Mesmo sendo o Brasil "o país do futebol", os resultados das Copas do Mundo nunca influenciaram as eleições para presidente da República, que de quatro em quatro anos coincidem com os campeonatos desde 1994. Sendo este ano realizado...

- Mistura De Estações - Dora Kramer
O ESTADÃO - 13/06 Quando o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo, a ideia era que a euforia tivesse vida longa e que o governo estivesse agora sendo tão festejado quanto a seleção que ontem entrou em campo para derrotar a Croácia por 3...

- Uma Nova Pátria De Chuteiras - Ronaldo Helal
O GLOBO - 12/06 Já se foi o tempo em que a vitória ou derrota da seleção era vivenciada como derrota ou vitória de projetos de nação brasileira Um espectro parece rondar o país: o silêncio em relação à Copa. Qual a razão deste silêncio?...

- Para Frente Brasil, Salve A Seleção - Luiz Carlos Azedo
CORREIO BRAZILIENSE - 09/12 De certa forma, uma insatisfação difusa está instalada e se traduz de forma bem-humorada no jargão "padrão Fifa", que passou a ser adotado, ironicamente, nas críticas populares a tudo o que há de errado nos serviços...



Geral








.