Futuro ameaçado - MIRIAM LEITÃO
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Futuro ameaçado - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 24/07

A juventude está em perigo em vários aspectos. A morte prematura dos rapazes ronda os jovens do mundo inteiro. O desemprego dos jovens é alto até no Brasil, em que a taxa geral está baixa. Na Europa, há o risco de haver uma geração perdida. E há os jovens que não trabalham nem estudam. A juventude sempre esteve exposta a riscos, mas agora eles se agravaram. 

Por isso o Papa Francisco acertou tão completamente quando chamou a atenção para os jovens. Falar deles é natural sendo a Jornada Mundial da Juventude, mas o conteúdo do que disse, tanto no avião quanto ao chegar ao Brasil, mostra que ele está antenado com as aflições que cercam os jovens e que ameaçam a todos nós, por serem eles os donos do futuro. 

O desemprego de jovens chega ao ponto calamitoso de 54% na Espanha. Na Grécia, quase 60%, em Portugal, 42%. A média da Europa supera 20%. Fora dessa devastação, só a Alemanha, com 7%, um número melhor do que o do Brasil, que, em maio, registrou 13,6% de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos. A taxa geral do país foi 5,8%. 

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um estudo recente mostrando que a taxa mundial de desemprego entre quem tem 15 e 24 anos está em 12,6%. Ao todo, são 73,4 milhões de jovens sem emprego. Como as estatísticas só registram os que procuram trabalho, o número é pior porque muitos jovens nem procuraram. O desalento, a gravidez precoce, as drogas são algumas das causas. Um estudo do Ipea registra que em 2010 havia oito milhões e oitocentos mil jovens brasileiros, de 15 a 29 anos, que nem estudavam nem trabalhavam. 

As gerações mais jovens no Brasil estudaram mais do que seus pais. Quem tem hoje entre 20 e 24 anos estudou mais do que quem tem entre 40 e 50 anos. E está com mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho. A frustração pode provocar traumas e inseguranças que a pessoa carregará a vida inteira. 

A morte de jovens do sexo masculino por violência é outro perigo imenso. Eles perdem a vida num percentual muito maior do que a média da população. O Mapa da Violência divulgado pela Secretaria da Promoção da Igualdade Racial mostra que em 2012 a taxa de homicídios, entre quem tem de 12 a 21 anos, sai 1,3 para 37,3 por 100 mil habitantes, entre os brancos, e sai de dois para 89,6 por 100 mil habitantes, entre os negros. Ela aumenta em todo o país, mas aumenta mais entre os negros. Essa tragédia exige dos pais, dos países, dos governantes, das escolas, das organizações não governamentais mais do que tem sido feito para protegê-los da exposição aos riscos. 

E muitas vezes eles nem se expõem ao risco; são vitimados sem qualquer explicação. Ficando apenas em um caso, e que ocorreu longe daqui, pense em Trayvon Martin: jovem, negro, indo para a casa da namorada, na Flórida, e com a cabeça coberta pelo capuz da jaqueta. Foi o suficiente para ele ser morto por George Zimmerman, que hoje está solto, inocentado e tendo direito a voltar a portar armas. A estatística de qualquer país mostra que os mais vulneráveis de serem vítimas de mortes violentas são os jovens, e os de minorias raciais. 

As pessoas que têm responsabilidade e poder no mundo, qualquer que seja a área de atuação - pode ser formador de opinião, empresário, professor, formulador e executor de política pública -, precisam entender que estamos errando dramaticamente com a juventude. O tema tem que ser pauta diária para se encontrar a solução. Nenhum país tem o monopólio dos erros na política para a juventude. O drama da juventude exposta ao risco de morte, desemprego ou desalento é mundial. E eles são o futuro, como disse o Papa Francisco. Hora de refletir sobre como melhorar as políticas de proteção.




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