Gasolina na fogueira - VINICIUS TORRES FREIRE
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Gasolina na fogueira - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 03/12

Reajuste dos combustíveis não resolve crise na Petrobras e cria mais problema para o governo


O PREÇO DAS ações da Petrobras caiu cerca de 10% ontem, um massacre. Caiu assim porque, na prática, o governo reafirmou que a empresa mais relevante do Brasil serve de instrumento de política econômica, política de resto ruim.

Na sexta-feira, o governo decretou o reajuste de 4% do preço da gasolina. Isto é, a Petrobras ainda vai continuar a vender combustível a um preço abaixo do custo.

Tal sangria vai prosseguir porque o governo quer na prática maquiar a taxa de inflação: quer impedir que o IPCA deste ano seja maior que o de 2012, 5,84%, e não, sei lá, 5,98% ou 6,03%.

Não faz diferença, no que diz respeito à política econômica; o povo vai ignorar o "sucesso" de conter centésimos de inflação.

Qualquer cidadão que acompanha o noticiário econômico elementar sabe que a inflação apenas não superou o teto da meta (6,5% ao ano) porque os preços controlados pelo governo estão reprimidos.

Em suma, o governo não vai enganar ninguém. Pior, cria ainda mais problemas. A história toda não faz sentido algum.

Além de decretar um reajuste insuficiente, o governo na melhor das hipóteses não deu pista alguma de como vai ser a políti- ca de preços e de como vai evitar que, faturando menos, a Petrobras se endivide ainda mais ao fazer os investimentos necessários (aliás, a empresa já está perto de seus limites).

Ou seja, o governo desacredi- ta ainda mais sua política econômica (contém preços com tabelamentos mal disfarçados), arrebenta uma empresa gigante e crucial para o país e na esteira disso causa distorções em outros setores da economia, como a indústria sucroalcooleira, para citar um apenas.

O governo além do mais estoca problemas para o ano que vem. Há risco razoável de disparadas do dólar em 2014, devido a mudanças na economia americana (e à eleição no Brasil). Dólar caro e combustível barato arrebentam ainda mais a Petrobras. Dilma Rousseff está dando chance para o azar.

Ontem foi dia de alta do dólar e de juros no Brasil, pois os juros na praça do mercado americano subiram. Desde junho temos vistos esses ensaios do que pode acontecer em 2014. O tumulto não está maior devido às intervenções do Banco Central, as quais acalmaram um pouco as coisas entre o final de agosto e o final de outubro. Mas desde então os tremeliques no mercado voltaram, mesmo com a oferta de dólares do BC.

Há quem diga que juros bem mais altos no Brasil tendem a compensar parte da propensão à fuga de dólares quando os juros subirem mais nos EUA. Quem sabe. Mas não é razoável pagar para ver.

O Brasil está angariando má fama (risco de fazer investidor perder dinheiro) por causa da inflação persistente, da piora nas contas do governo e do deficit externo em alta ruim (fermentos de desvalorização do real).

É muito difícil atribuir a notícias pontuais sobre esses indicadores os pulos do dólar, muito associados na verdade aos pulinhos dos juros nos EUA. Porém, se e quando a temperatura americana aumentar, o caldo vai entornar aos montes por aqui devido também ao mau estado geral da economia.




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