GUEST POST: "UMA PESSOA PODE SER FELIZ TENDO ALGUMA LIMITAÇÃO FÍSICA"
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GUEST POST: "UMA PESSOA PODE SER FELIZ TENDO ALGUMA LIMITAÇÃO FÍSICA"


Hoje é Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, e pedi para Andressa escrever um texto. 

Começo falando da minha independência pessoal e profissional, na luta que foi para eu poder andar sozinha mesmo tendo visão reduzida, ou seja, não tenho perda total da visão. 
Recordo como se fosse hoje das primeiras vezes que discuti com familiares para andar dentro da cidade. Isso porque na mente de muitos a pessoa com deficiência é um bibelô que deve ficar cercado de superproteção e cuidados, estando ali para ser bajulado e assumir o papel de coitadinho, o que prefiro chamar de bobo da corte. 
Minha mãe dizia que tinha formigamentos nas mãos quando alguma pessoa vinha lhe contar que no instante em que saí sozinha, por ainda estar aprendendo o caminho, me perdia entrando por ruas diferentes da pretendida. Chantagem emocional é um dos joguetes das famílias. Tive algumas conversas e enfrentamentos com minha mãe e outras pessoas da família, que diziam que minha mãe era doida. Tem quem diga até hoje que ela é doida por me deixar viajar e ter minha vida própria, como se eu não trabalhasse e pagasse minhas contas ou não tivesse um cérebro perfeito e pensasse só com os olhos que veem pouco. 
As opiniões são das mais engraçadas às mais absurdas, além das perguntas descabidas: você pode escolher suas roupas? Como cego faz sexo? Tem aqueles que ficam apavorados ao pensar que deficientes podem viajar, trabalhar, transar e ter filhos, ou então até errar, usar drogas e ser um malandro. Porque na maioria das vezes a sociedade vê o deficiente como um ser enviado de Deus ou alguma coisa do além para ser uma pessoa perfeita e exemplo de superação em tudo que faz. Lavar uma louça, fazer um bolo ou tocar um instrumento musical é motivo de admiração exagerada, como se fizéssemos água se transformar em vinho. 
Ou: a pessoa com deficiência é uma coitada, que tem de receber tudo na mão, como se fosse um peso morto. Na visão religiosa de muitos, nós precisamos receber um milagre sobrenatural para termos felicidade plena, como se viver com algumas adaptações e até tendo lutas diárias não fosse algo digno de um ser humano, como se todos os deficientes quisessem receber a cura. Eles ficam pasmos e até revoltados quando digo que estou feliz assim. Não entendem que uma pessoa pode ser feliz não enxergando ou tendo alguma limitação física.
Sabe Lola, é muito gratificante ver e saber que há pessoas que nos admiram por carinho e respeito, sem aquela pontinha de pena da gente.
No trabalho eu não tenho muito do que reclamar, apesar de ver muitos companheiros de luta sofrendo preconceitos nas empresas que recusam contratar pessoas portadoras de necessidades especiais (termo politicamente correto usado hoje, embora eu não ligue de ser chamada de pessoa com deficiência). 
Como as empresas são obrigadas a pagar altas multas diárias quando o Ministério Público constata que 5% das vagas destinadas a nós não estão preenchidas, elas contratam aquela pessoa que tem uma deficiência simplificada, em que não é necessário fazer quase nada de adaptação no ambiente de trabalho. 
As que possuem deficiências mais atenuadas, como um cadeirante ou um cego, vão ficando em segundo plano. Isso porque, para os cegos e pessoas com visão reduzida ao extremo, é preciso a instalação de softwares específicos de acordo com o grau da deficiência, como leitores de síntese de voz, que transformam os componentes da tela em texto falado, ou softwares para ampliação de texto e complementos de programas para tornar a tecnologia mais acessível. 
No caso dos cadeirantes, rampas, adaptações em banheiros e afins são empecilhos usados contra nós para nosso progresso profissional em empresa privada. A saída é fazermos concurso público. Foi onde eu me encaixei, e muitos têm grande sucesso profissional na área pública, apesar de brigas na justiça por melhores condições de trabalho e acessibilidade.
É ruim ver que há pessoas com deficiência que se acomodam com a superproteção familiar e têm medo de lutar pelo direito de ir e vir, de viver a vida de acordo com suas próprias vontades. Em nosso meio ocorrem opressões e ameaças da família por conta do benefício de prestação continuada, o BPC, oferecido pelo governo com muita humilhação na previdência social. 
Há famílias que manipulam o deficiente e escondem documentos e cartões bancários. Já aconteceu de muitos fugirem escondido com ajuda de amigos, parentes e vizinhos, como se fôssemos selvagens, escapando do cativeiro para poder respirar um ar florestal. Recentemente aconteceu de um casal de deficientes visuais ser proibido de levar o bebê recém nascido para casa. Uma assistente social não muito esperta da maternidade onde a moça ganhou o neném alegou que só os dois seriam incapazes de criar o filho, e a maluca colocou o bebê para adoção. O movimento VCB (Visibilidade Cegos Brasil) entrou em ação e mudou esse quadro. Felizmente a moça pode levar sua filha e ser feliz como qualquer outra mamãe.
Mas a luta é constante: para acessibilidade em transporte coletivo, empresas, ruas, shoppings... Se eu for falar de tanta coisa que já aconteceu comigo e vi acontecer com outros colegas, não termino o texto. 
É pela luta constante para melhores direitos para nós que foi instituído o dia internacional da pessoa com deficiência. Hoje, 3 de dezembro, é uma data comemorativa internacional promovida pelas Nações Unidas desde 1998, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência. Procura também aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração das pessoas com deficiência em cada aspecto da vida política, social, econômica e cultural. A cada ano o tema é baseado no objetivo do exercício pleno dos direitos humanos e da participação na sociedade, estabelecido pelo Programa Mundial de Ação a respeito das pessoas com deficiência, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 1982.
O acesso às tecnologias de informação e de comunicação cria oportunidades a todos na sociedade, mas principalmente às pessoas com deficiência, pois nesse meio desaparecem as barreiras sociais geradas pelo preconceito, pela infraestrutura, e pelos formatos inacessíveis que impedem a participação. 
Quando disponíveis a todos, tecnologias da informação permitem que as pessoas alcancem seu potencial pleno, e permitem que pessoas com deficiência contribuam para o desenvolvimento da sociedade. 
No primeiro encontro mundial sobre a sociedade da informação, em 2003, os governos expressaram seu compromisso de construir uma sociedade da informação inclusiva, centrada na pessoa e voltada para o desenvolvimento, onde todos pudessem criar, acessar, utilizar e compartilhar informação e conhecimento. Apesar disso, muitas pessoas com deficiência permanecem impossibilitadas de utilizar os recursos da internet plenamente, já que a grande maioria dos websites continuam inacessíveis a quem tenha impedimentos visuais, cuja navegação é altamente dependente do uso do mouse, e os cursos para iniciar pessoas ao uso da Internet nem sempre são acessíveis a todos. 
Muitas pessoas com deficiência não têm acesso às tecnologias de informação. Mesmo aquelas com acesso não podem utilizá-las de forma eficaz, porque o equipamento adaptável disponível não acompanha o ritmo das inovações. 
Fazer tecnologias de informação acessíveis a todos não é somente uma matéria de direitos humanos, como também uma oportunidade de bons negócios. Os estudos sugerem que os websites acessíveis aparecem melhor cotados nos rankings dos sites de busca e podem reduzir custos de manutenção. Permitem também a companhias o acesso a um maior banco de dados de clientes. 
Muitos websites, entretanto, permanecem inacessíveis para pessoas com deficiência visual. Um estudo recente realizado no Reino Unido mostrou que cerca de três quartos dos sites comerciais não conseguiram níveis básicos de acessibilidade. O tema de 2006 para o dia internacional das pessoas com deficiência é acessibilidade às tecnologias de informação, e o dia será chamado de dia da E-Acessibilidade. 
As Nações Unidas têm como objetivo enfatizar os benefícios significativos que a acessibilidade pode trazer tanto para pessoas com deficiência quanto para a sociedade e divulgar isso entre os governos, as empresas e o público em geral.




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