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GUEST POST: AGRESSÃO A IDOSOS VEM DE FAMÍLIA
Luana me enviou este relato sobre um tema comum, mas que ainda não foi tratado neste blog: a agressão aos idosos. Leiam, e antes de decidirem culpar uma ou outra pessoa individualmente, pensem no todo. Na nossa sociedade, qual o valor dado a pessoas mais velhas? Na enorme maioria dos casos, a quem cabe cuidar dos idosos -- aos filhos ou às filhas? Quando minha mãe se separou do meu pai, ela, minha irmã e eu fomos morar com meus avós e com a minha tia, irmã de minha mãe. Minha mãe sempre foi uma pessoa difícil de conviver. Amarga, vivia reclamando que seu passado havia sido difícil, trabalhando pesado no campo, e que tudo isso era culpa de minha avó, que explorava os filhos fazendo-os trabalharem como escravos. Não sei até onde isso é verdade, mas as minhas tias não reclamavam tanto desse passado como ela. A minha avó por sua vez também era uma pessoa difícil de conviver. Criada sem muito amor e também trabalhando duro desde a infância, não foi capaz de oferecer todo aquele suporte emocional para a família. Por causa disso, não fomos criados para nos dar carinho uns aos outros. Abraços eram extremamente raros e demonstrações de afeto, idem.Como eu fui morar lá desde muito pequena, era comum todos os dias eu ouvir minha mãe gritar com a minha avó, dizer que ela cheirava mal, e que as roupas que ela usava eram ridículas. À medida que a minha avó foi envelhecendo, a situação piorou. Com a idade avançada, minha avó começou a andar mais devagar, deixar de fazer certos serviços domésticos por cansaço, e por causa disso as agressões verbais eram mais frequentes. Consequentemente, eu e a minha irmã passamos a tratar minha avó da mesma maneira. Minha irmã pegava os calçados dela para usar e não devolvia mais, empurrava ou dizia que ela precisava morrer logo, pois era uma inútil. Nenhum carinho era dado, apenas gritos e ofensas. Minha avó retrucava com as palavras dela, mas não podia fazer mais que isso, pois nós gritávamos mais alto. Meu avô e minha outra tia ficavam em silêncio, pois também não tinham muito que fazer. Um pai não iria expulsar a própria filha e as duas netas de casa, então as coisas ficavam por isso.Os anos se passaram nessa mesma situação, e um dia, felizmente, eu acordei. Em uma briga corriqueira, minha irmã quase bateu em minha avó. E eu percebi o que muita gente que frequentava a minha casa via e ficava chocada. Éramos violentas com ela e a agredíamos em sua própria casa. A partir daí eu comecei a defender minha avó com unhas e dentes, e por isso eu e minha irmã viramos inimigas. Se minha irmã falasse alto com a minha avó, lá estava eu para mandar a minha irmã ficar quieta. Por causa dessas brigas, muitas vezes eu e minha irmã partíamos para a agressão física. A minha mãe continuava a maltratar a minha avó e dar razão para a minha irmã. As coisas tornaram-se insuportáveis para mim. Todos os dias eram cheios de brigas e nós não tínhamos nenhum clima de família. Depois de algum tempo a minha irmã casou e teve filhos, mas isso não a fez parar com as agressões; ela sempre ia em nossa casa e maltratava a minha avó.Há cinco anos, minha mãe faleceu em um acidente de carro. A partir daí as coisas mudaram da noite para o dia. Não posso dizer que a morte da minha mãe foi boa, pois para mim foi a pior coisa que já aconteceu, mas tudo se resolveu. Minha irmã deixou de ser a pessoa violenta que era, e meus sobrinhos, que já estavam começando a maltratar a minha avó e a minha mãe, também melhoraram muito. Desde a morte da minha mãe, a minha avó também já não é mais a mesma, ela teve depressão e agora está com mal de Alzheimer, recebendo o cuidado que até pouco tempo atrás lhe era negado.O motivo de eu estar contando essa história, além do desabafo, é para dizer que ao contrário do que as pessoas pensam, a violência contra o idoso não é caso isolado e nem praticada apenas por psicopatas ou sociopatas. Eu não sou nada disso. Sou uma pessoa boa, faço trabalhos voluntários porque quero ajudar o próximo, respeito ao máximo as pessoas e tenho carinho pelos animais. Não estou me excluindo da culpa, pelo contrário, não tem um dia sequer que eu não me arrependa de tudo, mas por anos isso foi uma coisa normal do nosso dia-a-dia. Nos foi passado pela minha mãe, assim como outros valores. Eu agradeço por ter enxergado sozinha, mas em muitas famílias nesse exato momento ainda acontecem agressões verbais, físicas, roubos de aposentadoria, e até mesmo a recusa de alimentar seus idosos, deixando-os passarem fome, deixando-os sujos em cima de uma cama. E como eles não podem se defender, não dizem nada para não apanharem ainda mais. Só esperam os dias passarem.Grande parte da culpa também é da nossa sociedade que é levada a acreditar que velhos incomodam, não têm mais utilidade. Na China ou na Índia, eles fazem a lei da casa e são ouvidos pela família toda por serem mais sábios e experientes, mas em muitos países como o Brasil, muitos moram com os filhos e precisam se contentar com o que lhes é oferecido. Isso precisa ser mudado, e as únicas pessoas que podem fazer algo a respeito são os próprios familiares, reconhecendo a importância que o idoso representou durante toda a nossa vida e fazendo com que ele viva os seus últimos anos dignamente. Porque eu sei, por experiência própria, que as vozes deles estão abafadas demais para fazerem seus direitos serem ouvidos.
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