GUEST POST: ENTRE A CRUZ E A ROSA LUXEMBURGO
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GUEST POST: ENTRE A CRUZ E A ROSA LUXEMBURGO


Manifestante ontem na Marcha das Vadias do RJ, em Copacabana


Ontem aconteceu a Marcha das Vadias do RJ (sábado que vem será a de João Pessoa, e eu estarei lá!). Foi um sucesso: muita gente, muita irreverência e alegria, características desses protestos.
Mas o que a mídia deu mais destaque foi a um casal que quebrou uma estátua da virgem, e "profanou" outros símbolos sacros. 
Minha opinião? Acho totalmente ignorante fazer algo assim. Depõe contra os nossos objetivos, que é também conquistar corações e mentes. Querendo ou não (eu não quero), somos o maior país católico do mundo. Muitos católicxs que poderiam ficar do nosso lado -- até porque, aleluia, os fiéis não são tão conservadores quanto a igreja que seguem -- se revoltam ao ver esse tipo de provocação, que não ajuda em nada. 
Mas dizer que a atitude do casal que destruiu uma estátua de santa representa toda a Marcha das Vadias do RJ, ou, ainda mais risível, que representa o feminismo como um todo, é como dizer que o fiel católico que cuspiu numa das manifestantes da Marcha representa o Papa, ou todo o catolicismo.
Nós feministas temos motivos de sobra para nos rebelarmos contra a igreja católica (e demais religiões). É uma igreja machista e homofóbica que não se cansa de se meter no Estado, que deveria ser laico. É principalmente graças à igreja católica que milhares de brasileiras (em sua maioria católicas e casadas) morrem todo ano em decorrência de abortos clandestinos. 
É também por causa da igreja que temos uma "educação" sexual repressora, que é contra o uso de métodos anticoncepcionais. Se depender dessa mesma igreja, o aborto será proibido em todos os casos (inclusive em casos de estupro e risco de vida pra gestante). E a pílula do dia seguinte também. E o divórcio. E basicamente qualquer avanço feminista conquistado nas últimas décadas.
Por causa desse histórico de opressão da igreja contra as mulheres, causa espanto que alguém, como a jornalista Monica Waldvogel, tenha a ingenuidade de perguntar no seu Twitter, sem ironia: "Quem tem alguma boa explicação sobre por que o catolicismo desperta tanta irritação?"
Não é questão de "se você não gosta da igreja, não a frequente". Eu não gosto, não a frequento, e mantenho uma distância saudável. Mas a igreja não me trata com a mesma cortesia. A igreja teima em frequentar meu Estado Laico. Aliás, se fosse apenas frequentar, como algo esporádico, ainda ia. Mas estamos muito longe de termos um Estado Laico. E é uma via de mão dupla: é o Estado Laico que garante a liberdade religiosa. 
Lembrando que o ocorrido ontem não foi o primeiro confronto entre feministas e católicos: mês passado, um padre mandou a polícia prender manifestantes da Marcha das Vadias de Guarulhos porque elas ousaram marcar como ponto de concentração o marco zero, a praça central, que fica em frente a uma igreja. 
Obviamente, este é um assunto polêmico. A estudante de jornalismo Thaís Macedo me enviou este texto para por mais lenha na fogueira.

Sou católica e sou feminista. E não, não acho que uma coisa exclua a outra. Na verdade, não posso deixar de ser nenhuma das duas coisas da mesma maneira. Meus conceitos ideológicos estão profundamente enraizados nessas duas coisas, e posso dizer que não sinto nenhum conflito interno. Arrisco dizer que são duas faces da mesma moeda.
Senti-me extremamente triste ao ver o confronto entre a Marcha das Vadias e a Jornada Mundial da Juventude ontem, sábado, dia 27/7. Não acredito em depreciação. Se tem uma coisa que tanto o feminismo quanto a religião me ensinaram é que a palavra-chave de tudo é TOLERÂNCIA.
Esse sempre foi o pilar principal do catolicismo. O amor, não o ódio. O ódio –- aos gays, ao aborto, ao que é chamado de pecado -– só veio séculos depois, na Idade Média. Mas lá, no princípio de tudo, no novo Testamento, tudo o que é pregado é o amor ao próximo, cada versículo de cada capítulo.
Mas, como qualquer instituição mantida por seres humanos, houve corrupção dos valores. Interesses pessoais entraram em jogo e o resultado é o que estamos tentando arrumar agora. Na última década, a Igreja pediu desculpas formais pelas atrocidades geradas durante a Inquisição. Mais do que um atraso de séculos, isso foi o início de uma mudança. A escolha de um Papa franciscano jesuíta é outra mudança.
A Igreja ainda é uma instituição milenar, entretanto. Mudanças são lentas, e mais algumas décadas vão correr antes que algum Papa diga que “it’s okay to be gay”. Mas, em algum momento, isso pode acontecer. O próprio Jorge Bergoglio, antes de virar Francisco, já havia dito que Deus não manda para o inferno quem ama de forma diferente. Vamos lembrar que a Bíblia foi escrita muito antes de existir a possibilidade do feminismo, logo seus conceitos em relação a gênero são, no mínimo, anacrônicos. 
Da mesma maneira, dificilmente veremos uma mudança no posicionamento contra o aborto ou a camisinha. Séculos de crença não mudam rápido assim. E esses dois assuntos são apenas uma bifurcação (distorcida) do amor à vida. O posicionamento da Igreja é, essencialmente, o de amar toda forma de vida, seja já existente ou apenas no início. Enquanto vivemos em um estado laico em que as bancadas católicas têm representatividade ao lado de evangélicos, espíritas, ateus e agnósticos, tudo o que a igreja pode manter é a sua ideologia entre seus iguais.
Apesar de toda essa polêmica, o que vemos nos discursos do Papa, nas homilias dos padres e nas salas de catequese não é esse posicionamento radical contra aborto e camisinha. Tudo o que vemos é o discurso de amar ao próximo, respeitar as diferenças e evitar a violência. Francisco chegou até a defender o diálogo entre povo e governo de forma bilateral.
E o que querem xs feministas? Amor livre, respeito às diferenças, fim da violência contra a mulher, diálogo com o governo. Não é nada tão diferente. Tirando fora todas as más interpretações, o que resta é o discurso do amor e do fim do preconceito.
O feminismo sempre foi, para mim, uma ideologia de respeito a todos e a todas. Por isso, quebrar uma imagem de Nossa Senhora é como uma declaração de intolerância e até hipocrisia. É desconsiderar todo o trabalho que as igrejas têm feito em favor da mulher.
Sim, a igreja também tem lutas feministas. A Pastoral da Mulher Marginalizada, por exemplo, luta para tirar as mulheres da prostituição forçada (por vícios, por exemplo) e as acolhe na comunidade. 
O acompanhamento social ajuda a denunciar casos de abuso. Na minha própria comunidade, um prédio de seis apartamentos é reservado para acolher mulheres em situação de risco, além de oferecerem transporte até a Delegacia da Mulher caso agressão física seja constatada. Uma palestra bimestral é dada às adolescentes do bairro para ensinar como prevenir gravidez indesejada -– e, acreditem, a abstinência é citada apenas como desejável, não obrigatória.
Por tudo isso, acredito que seja possível conciliar as duas ideologias. Também é possível se focar apenas nas diferenças, mas isso nunca vai levar à tolerância. E caso nada disso tenha te convencido, esqueça. O que um velhinho de 70 anos que mora do outro lado do mundo pensa sobre você e sua vida sexual não é tão importante assim.
Escrevo mais sobre a performance na Marcha das Vadias RJ aqui.




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