GUEST POST: FUGINDO DO CLICHÊ QUE CRIARAM PRA MIM
Geral

GUEST POST: FUGINDO DO CLICHÊ QUE CRIARAM PRA MIM


Talita é uma professora inteligente e capaz, adorada pelos alunos. Ao ler o post da Yohana, Talita, como todas nós, se identificou muito e me mandou este email, que eu perguntei se poderia publicar como guest post, já que ele amplia a discussão da falta de roupas para um ponto de vista mais racial. Ela consentiu, e aqui está:

Não sou gorda, mas me identifico muito com a questão de "não estar nos padrões". Não me encaixo em vários deles... Este do tamanho é um. Tenho 1,75m de altura, e peso 83 kg. Tenho ossatura considerada "grande". Já pesei menos, 76 kg é como me sinto mais saudável. Menos que isso sou puro osso.
Enfrento também uma batalha na compra de roupas: Calças que ficam curtas e não acomodam meu bumbum e quadris ― generosa herança africana. Blusas curtas na barriga, mangas que não chegam aos punhos, camisas que não abotoam.
E vendedoras que sempre se espantam quando as roupas da loja não me servem. Elas dizem: "Mas você não é gorda! Como não serviu?"
"Não, você não pode usar 48, vai ficar grande pra você!" (Isso quando há 48 na loja. Geralmente a numeração cessa no 44).
E depois...
"Ué... não é que precisa de um número maior mesmo?"
"Você é alta e tem um corpo bonito, não entendo!"
Uma mostra de que não há NADA DE ERRADO COM NOSSOS CORPOS. A indústria é que não fornece a variedade necessária para a diversidade humana. Não há como um mesmo manequim servir a todas as mulheres. Roupas são a nova cama de Procusto...
Também já escutei muita coisa desagradável em relação à minha aparência. Comentários de espanto pela altura são o de menos.
A impressão que fica é que todas nós mulheres somos encaixadas em determinados “rótulos” e estes sempre tem papel de grilhões, de prisão. Ai daquela que quiser ser mais que o clichê que lhe foi imposto. O que me incomoda mais é o estereótipo de "globeleza", "mulata do carnaval" (argh) como já ouvi. E como ouvi...
Uma amiga de longa data (cursamos faculdade juntas e ela convive comigo no meio profissional) disse: “As pessoas têm dificuldade em entender que uma mulher negra, bonita, considerada 'gostosa', possa ser inteligente e articulada.”
E que não, isso não me faz obrigatoriamente querer calçar uma plataforma purpurinada e sair me exibindo com pouca ou nenhuma roupa.
Quantas e quantas vezes já não ouvi acerca da minha escolha profissional: “Professora?! Ah, vai ser modelo! Com o corpo que você tem...”
Uma professora durante o magistério chegou ao cúmulo de falar "Vai pra Globo menina, que aqui você está perdendo tempo!"
E isso sempre me incomodou demais, porque nunca quis ser definida pelo corpo que tenho, por uma aparência que sei que muda, e após os 25 anos eu já estaria "velha" para o mercado de modelos.
Esta não era a única questão: ser vista como um objeto, um cabide no qual a roupa desfila, e todo o ambiente de menosprezo à mulher, não era o que queria para mim.
Cheguei a ser convidada para trabalhar como modelo aos 16 anos. Eu era incrivelmente magra ― coisas da adolescência, um corpo em formação, estirão de crescimento etc ― e pesava 20 kg a menos que hoje. Puro osso. Mesmo assim, quando fui à agência, o cara que ia avaliar falou que eu ainda precisava emagrecer mais, que onde eu pensava que ia com aquela barriga?
Eu tinha CERTEZA de que não tinha barriga coisa nenhuma, era magra até demais, e o cara querendo por nóia na minha cabeça. Fui embora e não voltei mais. Tinha certeza de que não queria aquela maluquice na minha vida.
Boa remuneração é bom? Com certeza. Mas a que custo? Sempre gostei muito de ler, de aprender, e sempre quis que o meu papel no mundo fizesse alguma diferença para melhor na vida das pessoas. Não quero ofender quem trabalha na indústria da moda, mas da maneira como está, do jeito como o sistema funciona, não é uma indústria a favor das pessoas e sim do capital.
Gosto de usar roupas bonitas, me enfeitar, pois aprecio a beleza em tudo o que me cerca, como aprecio a beleza de uma paisagem, de um pássaro ou de uma flor. Ninguém deveria ser considerado belo às custas da infelicidade de quem não é espelho.
Penso que eles não fabricam roupa para nenhuma mulher feliz. Há que ser infeliz para agradar a indústria da moda. E como as irmãs de Cinderela, cortar fora dedões e calcanhares para caber no sapatinho de cristal.




- Deixem As Gordas Em Paz: Deixem As Gordas Em Paz
"Você emagreceu!" é automaticamente interpretado como elogio. "Você engordou" é algo que ninguém aceita bem.Você emagreceu!  Você está leve, está linda, está fina. Elegante. Está fazendo exercícios? Está comendo melhor? Parabéns!Você...

- Guest Post: NÃo Quero Ser Reduzida Ao Meu Peso
A P. me enviou este email: Não te conheço, mas posso lhe dizer sem dúvidas que você tem sido uma boa amiga para mim. Nunca pensei em te escrever por não saber bem sobre o que falar. Nunca fui vítima de nenhuma violência física ou sexual, meu pai...

- Professora De InglÊs Tem Que Andar Bonita E Arrumada?
Camiseta feminista em modelo baby look A T. me enviou um email revoltado anteontem, que publico aqui. Eu respondo (na realidade, peço ajuda aos universitários) depois. Estou passando por uma situação que nunca nem sequer imaginei passar. Sou professora...

- A Calça
Tudo estava indo mais ou menos, até a hora da calça. O que está acontecendo? Que calças são essas que estão sendo vendidas por aí? - Querida, tem essa calça no número 48? A vendedora me olhou como se fosse anomalia. Número 48? Fez questão...

- Uma Pequena Defesa Do "não é Você, Sou Eu"
Não é você, sou eu. Eu acho gentil. Não quero ouvir que sou chata, que uso roupas estranhas. Não quero ouvir que é porque eu engordei ou porque agora quando eu sorrio umas linhas aparecem. Não quero saber se é porque eu sou teimosa ou se é porque...



Geral








.