GUEST POST: NÃO QUERO SER REDUZIDA AO MEU PESO
Geral

GUEST POST: NÃO QUERO SER REDUZIDA AO MEU PESO


A P. me enviou este email:

Não te conheço, mas posso lhe dizer sem dúvidas que você tem sido uma boa amiga para mim. Nunca pensei em te escrever por não saber bem sobre o que falar. Nunca fui vítima de nenhuma violência física ou sexual, meu pai nunca foi agressivo com minha mãe, nunca tive namorados agressivos. Eu nunca nem tive namorados. 
Sempre fui uma menina gordinha, séria, nerd e com fama de brava. Aos 11 anos nenhuma das crianças na escola queria ser minha amiga. Porque eu era gorda. Uma vez cheguei em casa chorando muito e ao falar com meu pai pelo telefone ele me disse pra não chorar, que essas pessoas não mereciam minhas lágrimas. Desde então eu não chorei mais em público, e passei a revidar os comentários maldosos. 
Quando me diziam que eu era gorda, respondia: e você que é burro?! Que não vai passar de ano? Assim a escola que me odiava passou a me chamar de má -- porque eu não abaixava a cabeça aos abusos deles. 
Aos 14 anos e 97 kg eu vivi um dos piores anos da minha vida, todos da minha turma me detestavam, eu era vitima constante de piadas e abusos emocionais. Sentia vergonha de contar isso em casa, minha mãe dizia que eu precisava emagrecer, ser mais vaidosa, mas eu já havia desistido disso. Eu não queria mudar meu corpo, queria mudar a forma como as pessoas me tratavam. 
Isso aconteceu no ano seguinte com a entrada de um menino novo na escola. Ele era muito bonito e mesmo assim queria ser meu amigo. Todas as meninas queriam ficar com ele, mas era pra mim que ele guardava um lugar ao seu lado. Por ele me ver de uma forma diferente, as pessoas passaram a me ver assim também, e os meus últimos três anos na escola foram de popularidade e, surpreendentemente, de emagrecimento. No fim do terceiro ano eu pesava 74 kg. 
Algumas pessoas me perguntavam se eu estava doente, mas eu estava feliz. Ficava com caras, não era mais zoada por ser gorda. 
Pouco antes do vestibular eu perdi meu pai e fiquei completamente perdida na vida. Fiz o vestibular, passei numa universidade federal e comecei a morar numa república com colegas. Não estava magra, mas meu peso havia deixado de ser uma questão para mim até recentemente. 
Comecei a engordar descontroladamente. Eu não me preocupava, até que perdi todas as minhas calças jeans. Quando desisti de fazer com que elas entrassem no meu corpo, doei todas e segui em frente. 
No entanto, eu te digo que tem sido muito difícil. Não, as pessoas não me zoam na universidade. Pelo contrário, hoje eu tenho amigos maravilhosos. Mas todAs as minhas amigas vivem falando de dietas e regimes. Não importa quanto elas pesem, todas querem emagrecer. Três das minhas amigas mais íntimas estão em regimes radicais atualmente. Uma delas está tomando remédios tarja preta, outra perdeu 14 quilos nos últimos dois meses. Todas as conversas são monotemáticas. 
Eu não quero emagrecer, Lola. Eu estou no meu último semestre da faculdade, estudando freneticamente para concursos futuros, não tenho como investir nem tempo nem dinheiro para emagrecer agora, mas eu estou triste porque quando minhas amigas estão comigo, elas falam de como elas estão perfeitas agora, o que me diz indiretamente de quão eu estou desajustada. Eu sei que não é a intenção delas, mas é isso que está posto na nossa sociedade. 
Ontem fui numa aula e encontrei uma amiga que não via há muito tempo. Enquanto conversávamos, ela olhava incessantemente pra minha barriga. Eu disse a ela: eu sei que estou gorda, não precisa ficar olhando. Ela deu risada e me mandou fechar a boca.
Por que eu preciso fechar a boca?! Por que as pessoas não podem simplesmente cuidar de suas próprias vidas? Para evitar esse tipo de comentário e observação eu tenho evitado sair de casa, não vejo as pessoas com quem eu costumava sair, nunca mais fui a barzinhos e shows que eu gostava. Não quero que me olhem como se eu fosse apenas minha barriga. 
Evito todas as pessoas que me fazem bem porque algumas me fazem mal sem perceber. 
Eu sei que estou gorda, Lola. Estou 24 kg acima do meu peso ideal, mas o que anda pesando mesmo são as pessoas reduzirem tudo que eu sou a 24 kg.

Meu comentário: Não deixe de fazer as coisas que você gosta de fazer e de sair com quem você gosta por causa de meia dúzia de gente que te faz mal. É uma droga mesmo ser vista como "a gorda", mas certamente você tem amigas e amigos que não limitam você a sua barriga. Agora, essas conversas monotemáticas são um saco mesmo. Não é possível que até na faculdade só se falem peso! Acho que entre o pessoal mais politizado não é assim, ou é também?




- "nÃo Sou Bonita, EntÃo A Morte É A Única SoluÇÃo"
A C. me enviou este email desolador: Encontrei seu blog por acaso, e li uma história de uma garota que queria se suicidar, por isso resolvi mandar esse email. Eu estava na mesma situação, queria me matar, comprei até formicida, mas não consegui tomar...

- Guest Post: Minha FamÍlia, Meus Piores Inimigos
O triste relato da L.: Você precisa saber o quanto me ajudou e o quanto sou grata por você. Tenho 22 anos e minha até então jornada aqui não foi fácil, não é apenas drama como algumas pessoas me dizem.  Aos 12 anos eu comecei a sentir as...

- Guest Post: O Feminismo Reconstruiu Minha Autoestima
Relato da R.: Oi Lola, tudo bom? Meu nome é R., tenho 19 anos, e estou aqui, primeiramente, para te agradecer, e para isso contarei um pouco da minha história.Conheci o feminismo pelo seu blog. Após um dos atos do Femen fui procurar mais sobre o grupo,...

- Guest Post: PadrÃo, Esse MoÇo Bipolar
Uns dias atrás, publiquei o bingo da gordofobia, e veio gente dizer que as magras também sofrem. Acredito plenamente. O padrão de beleza cria expectativas irreais, impossíveis de serem alcançadas. E é justamente esse o objetivo: fazer com que mulheres...

- Estou ótima
Estou ótima. Estou ótima aqui com meus amigos e meus choppinhos. Estou ótima com meu emprego, estou ótima com minhas roupas novas. Estou ótima aqui com esse GI Joe dizendo "please, tell me if I'm too rough." Estou ótima porque ele não me conhece,...



Geral








.