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GUEST POST: HOMENS "HUMANISTAS" QUE REJEITAM O FEMINISMO NÃO SÃO HUMANISTAS
Meu querido Robson, de Recife, autor do ótimo blog Consciência (agora de layout novo) e do inspirador Veganagente, sempre me envia textos seus que fazem pensar, e que são publicados aqui como guest posts.
Desta vez Robson contesta o humanismo de gente que fala aquele velho clichê "Não sou feminista, sou humanista". Você sabe qual é.
Muitos homens, ou por desconhecimento sobre o que é realmente o feminismo ou por machismo mal disfarçado, dizem com todo gosto: “Não sou machista nem feminista, sou humanista”, ou “Não apoio o feminismo, mas sim a igualdade”. Alguns fatos mostram, porém, que esse tipo de homem pode ser qualquer coisa, menos humanista e pró-igualitarista (considere-se “igualitarismo” e “igualdade” aqui como referente aos direitos de pessoas de todos os gêneros e identidades de gênero, às garantias de que esses direitos serão verdadeiramente respeitados, e ao tratamento social).
Quando se rejeita apoiar o feminismo -– considerando-se que existe uma enorme polêmica sobre se homens podem ser propriamente feministas ou simplesmente aliados do feminismo -–, está-se rejeitando uma luta contra a opressão, pelos direitos humanos, pela derrubada de um sistema de hierarquização moral de seres humanos. Por isso, recusar apoio à causa feminista é rejeitar a dignidade de aproximadamente metade da população humana do mundo. E isso não pode ser visto como humanismo e pró-igualdade.
Não é nada humanista tentar minimizar ou silenciar a luta das mulheres contra o patriarcado, o qual é um sistema de valores e costumes que justamente impede que os seres humanos de todos os gêneros sejam tratados com a mesma dignidade. Rejeitar uma luta cujo objetivo é abolir uma tradição multimilenar que considera mulheres inferiores aos homens é tudo menos igualitário. Da mesma forma, nenhuma pessoa realmente humanista vai tentar negar e desconsiderar a luta dos negros contra o racismo estrutural e cultural, seja ele velado ou explícito; nem irá rebaixar mentalmente à irrelevância a luta do movimento LGBT contra as tantas discriminações e rompantes de ódio heterossexistas (homo, lesbo e bifobia e intolerância contra assexuais) e transfóbicas a que seus integrantes são cotidianamente submetidos.
Nem está de acordo com os princípios da ética do humanismo secular equiparar o feminismo, um movimento antiopressão e pró-libertação, com o machismo, uma ideologia de opressão e dominação. Achar que o feminismo é “anti-homem” tal como o machismo é antimulher é tão ilógico e distorcido quanto acreditar que o movimento negro luta para que os negros passem a ser os opressores dos brancos, e ambas as crenças não só revelam que seus acreditadores não são nada humanistas, como também escancaram que eles sequer sabem o que é o humanismo e em que consiste sua ética. Dizer “Não sou feminista, sou humanista”, mesmo sem a crença de que o feminismo é “anti-homem”, é algo que muitos reacionários costumam fazer na tentativa de negarem portar privilégios em função da combinação de categorias de raça, (identidade de) gênero, classe social, religião, orientação sexual etc a que pertencem. Essas pessoas, em especial homens cis [que sempre se identificaram e foram identificados como homens], tentam ignorar a existência de todo um sistema integrado de hierarquização moral, opressão e discriminação, e acreditam ingenuamente que todos os seres humanos já são hoje tratados com igualdade e sem a interferência de preconceitos e intolerâncias.
Nessa imaginação, as violências sofridas, por exemplo, por mulheres negras, pobres e lésbicas seriam as mesmas que aquelas a que homens brancos heterossexuais de classe média estão sujeitos.
Em outras palavras, essa frase se assemelha muito ao ditado reacionário “Não precisamos de consciência negra, e sim de consciência humana”. Silencia da mesma maneira o sofrimento e as demandas das tantas minorias existentes por libertação. |
Do Think Olga |
Portanto, quem é adepto dessa crença de que é possível ser “humanista” sem apoiar o feminismo está, nada mais, do que dando carta branca para a ocultação e perpetuação do patriarcado e de suas tantas opressões, e isso não é nada humanista e pró-igualdade. Quem nega apoio às causas libertárias das minorias políticas, como o feminismo, está sendo não humanista, e sim anti-humanista. Está em oposição diametral aos propósitos do humanismo, que é apoiar as lutas de todos os seres humanos oprimidos pela sua libertação coletiva do multissistema de opressões que os inferioriza perante as categorias dominantes e, como consequência, por uma sociedade em que não haja mais desigualdades em função das características que hoje “justificam” a hierarquização moral das pessoas.
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Feminismo ensina meninas a serem alguém ao invés de serem de alguém |
Portanto, todo homem humanista precisa apoiar o feminismo e as demais causas libertárias das minorias políticas. Caso contrário, ao continuar com frases paradoxais como “Não apoio o feminismo, mas sim o humanismo”, está jogando fora qualquer apoio às verdadeiras causas e objetivos humanistas e, assim, se comportando não como um entusiasta ou militante do humanismo secular, mas sim como um reacionário que acha ruim que estejam tentando transformar seus privilégios em direitos universais.
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