GUEST POST: MINHA HISTÓRIA DE ALCOOLISMO
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GUEST POST: MINHA HISTÓRIA DE ALCOOLISMO


Falo pouco de álcool aqui no blog, até porque não bebo (só bebo água, e sem gás). Tenho um pouco de trauma com bebida porque, como tanta gente, convivi com o alcoolismo na família durante muitos anos. 
Mas também porque acho ruim o gosto das bebidas. E porque água é mais barato. E porque não gosto da ideia de perder o controle sobre mim mesma. Em suma, talvez, eu diria que não bebo porque não preciso. Pra que começar a fazer algo que, embora tenha seus benefícios (beber socialmente é uma tradição antiga), pode trazer tantos problemas?  
Por ano, 2,3 milhões de pessoas morrem no mundo por problemas relacionados ao álcool. É ele o responsável por quase 10% das mortes de gente jovem. Bebida mata mais que a Aids. Além do mais, o álcool contribui muito para os altos índices de violência doméstica.
Não faço campanha contra a bebida, mas jamais encorajaria alguém a beber. E devo confessar que fiquei com um sorriso no rosto quando uma leitora adolescente listou, entre as coisas que eu lhe influenciei, ter parado de beber. Porque esta realmente nunca foi minha intenção.
Bom, esta introdução foi só pra apresentar o guest post da I., que é alcoólatra.

Leio seu blog faz um tempo e gostaria de parabenizá-la pelo espaço. Foi através do que você escreve e das referências que dá que consegui pensar diferente e hoje sou feminista. Escrevo porque quero contar uma história e porque algo que leio como um dos "direitos" femininos muito me preocupa. 
Em diversos protestos feministas vejo o clamor pelo direito de "beber o quanto quiser sem ser estuprada". 
Concordo plenamente que a culpa do estupro é do estuprador, única e exclusivamente, mas acho que pode existir um errinho de interpretação aí sem que a maioria perceba. O que eu gostaria de discutir é o uso abusivo do álcool pelas mulheres. 
Todxs temos o direito de beber o quanto quisermos. É o nosso corpo e com ele fazemos o que bem entendemos. Mas eu gostaria de propor um exercício reflexivo: e se trocássemos a palavra "beber" por "cheirar" (cocaína)? Assusta, não? O ponto onde quero chegar é que existe uma geração (da qual faço parte) que bebe demais e acha isso normal, como se o álcool não fosse também uma droga perigosa. 
Meus pais foram alcoólatras. Minha mãe parou de beber há seis anos e meu pai morreu bêbado, aos 53 anos, quando eu tinha apenas cinco anos de idade. Atualmente, tenho 35 anos. Como em qualquer filme que aborda o tema, sofri todas as consequências de ter um familiar próximo que bebe demais. Apanhei muito; aos nove anos fazia meu almoço, passava meu uniforme e ia para escola, enquanto minha mãe permanecia desacordada. Experimentei bebida aos 10 anos, aos 11 anos tomei o primeiro porre, aos 12 bebia regularmente. 
Perdi a conta de quantas relações sexuais não desejadas já tive. Não chegavam a ser estupros, até porque eu queria na hora, mas eram relações que eu nunca teria se estivesse sóbria. Minha sorte é que sempre tive muito medo de DSTs e usava camisinha, na maioria das vezes. 
Sofri acidentes, destratei pessoas, agi como se não fosse eu. A nossa cultura sempre me acobertou: é somente uma cervejinha, eu merecia, havia trabalhado o dia todo, sou guerreira (como diz a propaganda). Pensava que só por eu ser mulher é que as pessoas achavam feio eu beber. Eu me enganei. 
Já li matérias sobre o efeito do álcool no corpo da mulher ser potencializado por sermos menores e termos um metabolismo diferente. Confesso que antes de escrever para você me perguntei até que ponto isso pode soar machista, ser apenas mais uma maneira de dizer que "mulher bêbada é muito feio". Mas, enfim, acho que o buraco é mais embaixo. 
Ao decidir parar de beber, fui fazer uma pesquisa na internet e não encontrei muitos grupos direcionados para o alcoolismo feminino. Ele sempre esteve aí, acobertado pelas tardes solitárias das donas de casa, pelos cargos de pouco destaque. Só que eu me pergunto: e agora? Saímos de casa, trabalhamos e obtemos destaque. Claro, ainda está muito longe do ideal, mas os olhos já podem nos ver. E onde está esse olhar? Como tratar essas mulheres? Será que temos o direito a um tratamento mais direcionado? Lola, ainda não tenho essas respostas e estou procurando. 
Tem outra: o que eu considerava, no passado, ser um comportamento sexualmente livre, hoje vejo como irresponsável. Eu transava com quem queria, nunca tive muitas neuroses, sempre fui livre, lidei com o bullying que sofri por ser considerada "bêbada e promíscua". Mas, sabe, se eu pudesse voltar atrás eu não teria feito muita coisa, e eu gostaria de deixar esse alerta, caso você julgue conveniente publicar meu relato no seu blog. 
Ao lutar pelo direito de termos nossos atos, mentes e corpos livres estamos lutando por uma causa acima: o respeito próprio, o direito de ocupar um espaço no mundo. Não acho que não pensar no corpo como parte do conjunto que nos torna indivíduo seja a melhor alternativa. Será que me fiz entender? Liberdade também é não precisar de drogas para nada. É poder tomar decisões conscientes.
Estou há três meses sem álcool. Posso afirmar que a vida ganhou sua graça novamente. E, sabe, eu não era o tipo de alcoólatra clássico: não bebia pela manhã, não escondia garrafas de vodca nas gavetas do trabalho. Eu era como a irmã, amiga ou mãe de qualquer um. Bebia vinho aos finais de semana, sozinha. Cerveja com amigos. Só que eu bebia quatro vezes por semana e em grande quantidade. Ressacas homéricas, apagões. 
Eu sou aquela amiga que sempre faz besteira bêbada. A mãe que come pasta de dente para esconder o hálito. A colega de trabalho que falta às segundas-feiras. A irmã que afirma que está tudo sob controle, que "vai parar de misturar bebidas e vai ficar tudo bem", e que bebe para não comer (a drunkorexia). Mulheres como eu existem. Elas estão escondidas, envergonhadas, escrevendo anonimamente para blogs, chorando na terapia, pensando se estava bêbada demais para dirigir com o filho no carro (!). Ou se queria mesmo transar com aquele cara. Morrendo de culpa, sozinhas. 




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