GUEST POST: O CONTROLE DA SEXUALIDADE DAS MENINAS
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GUEST POST: O CONTROLE DA SEXUALIDADE DAS MENINAS


Ritual de um baile da pureza nos EUA

Conheci a Helô em junho, na UFSC, e ela me falou do seu TCC, "Corte genital feminino: Tensão entre soberania e direitos humanos" (que infelizmente não está disponível online). Pedi pra ela escrever um guest post relacionado ao assunto, e ei-lo. Helô é mestranda em Relações Internacionais pela UFSC. 

A Mutilação Genital Feminina (MGF) é uma prática cultural, não ligada ao islamismo, que ocorre principalmente no nordeste africano. As meninas são chamadas a passar por um ritual que as introduz à vida adulta, sem saber os detalhes. A partir do dia do procedimento, é permitido que as meninas usem melhores roupas, reservadas às adultas, e usem joias mais chamativas. A vontade em ser reconhecida como uma mulher é o principal motivo das meninas quererem passar por essa mudança.
Dentre os vários motivos para a perpetuação da prática estão crenças de que uma mulher não excisada seria incapaz de gerar um filho homem, teria tendência à promiscuidade, e criaria uma imitação do pênis, o que causaria um constrangimento ao poder do marido dentro da família. 
A Mutilação Genital garante que as mulheres se tornem dóceis, puras, e tenham um comportamento sexual adequado. 
A idade de quem passa por esse ritual é tão baixa (a média aponta para a faixa etária de 9 a 12 anos) que se pode questionar se submeter-se a isso é um desejo delas ou dos homens.
No entanto, é um erro pensar que a MGF só acontece em países africanos. Ela também é praticada por imigrantes nos EUA e na Europa. Em 2000, estimava-se que 228 mil mulheres e meninas nos EUA tinham sido mutiladas, ou corriam risco de serem mutiladas. Por conta da tradição, vale tudo.
No Ocidente, porém, a castração de meninas costuma ser mais psicológica, já que o sexo é relacionado a algo sujo e impuro. Alguns anos atrás, por exemplo, cristãos americanos criaram e exportaram a ideia dos anéis de pureza, uma garantia que a menina que o usasse se manteria pura até o casamento (os anéis também são usados por alguns garotos). Não é apenas o controle da virgindade que se busca, mas do comportamento sexual das adolescentes em todos os momentos. 
Os anéis de pureza têm ganhado um arranjo mais complexo agora –- os chamados Bailes da Pureza. Nesses bailes, as meninas arrumam os cabelos com profissionais, usam um longo vestido branco, dançam com os seus pais e fazem um voto (para o pai) em que se comprometem a se manter puras até o casamento -– promessa firmada em um contrato. As meninas têm entre 9 e 18 anos.
Alguns dizem que essas festas se parecem demais com um casamento entre pai e filha. O fundador dos bailes de pureza, Randy Wilson, declarou que esses bailes não são feitos para as meninas, mas para os pais delas.
Algumas meninas americanas deram depoimentos falando sobre o peso que esse contrato colocava sobre elas. Nenhum relacionamento é permitido sem a aprovação prévia do pai, nenhum comportamento deve ofender ao que o pai deseja de sua filha. O resultado disso é crescer com medo e não se sentir confortável com o contato sexual, como se cada passo dado fosse uma traição ao seu pai.
A castração física da mutilação genital causa um trauma tão grande que o sexo se torna algo indesejável, incômodo e doloroso. Junto aos casamentos forçados, a prática sexual vira uma violência corriqueira. Já para as filhas dos conservadores do ocidente, o sexo se torna algo feio e passível de punição. Existem relatos de mulheres que se tornaram incapazes de consumar seus casamentos, pois ouviram por toda a vida que sexo seria um pecado mortal relacionado à luxúria.
No Brasil, ao que me parece, não existem tais bailes de pureza. Mas temos o movimento Eu Escolhi Esperar, formado em sua grande parte por jovens de famílias cristãs conservadoras para manter a pureza. Embora o movimento se estenda aos meninos, fica claro que maior importância é dada à virgindade feminina. Na página do Facebook, o movimento exalta a importância dos pais na educação das meninas, para que elas sigam puras até que encontrem um novo “rei” –- um esposo que cuidaria, a partir do casamento, do comportamento sexual delas.
O controle da sexualidade pela castração física ou psicológica ocorre de forma muito semelhante. A mulher passa a ser parte de um grupo seleto de pessoas puras, um orgulho para a família e para a comunidade que pertencem. E essas mulheres são as mais preciosas para os homens dessas comunidades, pois se tornam previsíveis, fáceis de controlar, dóceis. O prêmio para as mulheres se manterem puras não é delas, como bem lembrou o fundador dos bailes de pureza, mas dos homens conservadores. A vitória em ter uma mulher submissa não pertence a elas, objetificadas, mas aos homens que se imporão com facilidade sobre elas.
"O pastor passou um copo d'água e pediu para que todxs nós cuspíssemos dentro. Alguns meninos deram o melhor de seu catarro, e todo mundo riu. 
Então o pastor segurou o copo cheio de saliva e perguntou, 'Quem quer beber isso?' E todo mundo na multidão fez barulhos de asco e gritou de jeito nenhum, que nojento! 'É assim que vc é se faz sexo antes do casamento', disse o pastor seriamente. 'Você está pedindo pro seu futuro marido ou esposa que beba este copo'." (minha tradução deste relato).




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