GUEST POST: O CQC ME ASSUSTA
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GUEST POST: O CQC ME ASSUSTA


Tenho recebido tantos emails nos últimos dias que nem dá tempo para respondê-los (ainda mais no final do semestre letivo!). Anteontem chegou este, da Luiza. Gostei muito e pedi para publicá-lo aqui como guest post.
Na segunda-feira eu sinceramente me muni de uma enorme dose de paciência e tentei assistir ao CQC pela primeira vez na vida. Não aguentei mais que cinco minutos. Que coisa horrível! Como sobreviver àquelas vozes impostadas, àquela empolgação artificial? Depois leitor@s me enviaram um vídeo de 47 segundos em que os três integrantes falam de amamentação, e eles todos se dizem a favor. Claro, né? Quem seria contra a amamentação? Essa não é a questão, pô! Nem eu nem ninguém disse que eles são contra a amamentação. Apenas contra a amamentação em público! O que eles afirmaram no CQC 3.0 da segunda retrasada foi que mães devem procurar um banheiro na hora de amamentar, que elas querem se exibir, que ainda por cima são as feias que põem suas tetas pra fora em público, entre outras barbaridades. Vivemos num país em que a média de tempo em que um bebê é amamentado é de apenas 54 dias. Recomenda-se que seja 180 (seis meses apenas de leite materno). Com os membros do CQC debochando das mães que amamentam em público, e dando um passe livre para um bando de adolescente dizer "Eca, isso é nojento!", colabora-se para que essa média de 54 dias aumente ou diminua? É "neutro" esse tipo de humor? Não afeta a sociedade de uma maneira totalmente nociva e conservadora?
Ontem o Conselho Estadual da Condição Feminina de SP divulgou nota de repúdio a Rafinha Bastos pela sua piada de que estupro é uma ótima oportunidade para uma mulher feia fazer sexo, e que tal estuprador não merece cadeia, merece um abraço. Uma leitora minha no Twitter, fã ardorosa do CQC, achou absurdo que existisse um Conselho da Condição Feminina. Pra quê seria preciso um troço desses? Outra instituição igualmente inútil, segundo essa leitora, a Secretaria Especial de Mulheres, também está oficializando uma resposta. A Marcha das Mulheres de SP já deu a sua. Acuado, a pobre vítima do mundo moderno, o homem branco hétero que só está fazendo humor, enviou um tweet a seus seguidores:Ontem também saiu uma reportagem bem interessante entrevistando algumas pessoas que vão ao show de stand-up comedy de Rafinha e Danilo. Vale a pena ler para ver o que essa gente pensa. Eu não me espanto nem um pouco que CQC e afins tenham público. O pessoal não paga pra ver o Charlie Sheen ao vivo? Quer dizer, qual a diferença?
Bom, já escrevi demais. Fique com o guest post da Luiza.

Li seu blog por acaso. Um amigo postou o "Liberdade Relativa" no Facebook e eu, desavisadamente, parei de estudar para ler suas inteligentíssimas palavras. Mal sabia eu que não ia mais conseguir estudar naquele dia. Um post levou a outro, e o outro levou a um outro... e por aí foi!
Eu gostaria de ser mais como você. Sou muita cheia das opiniões, mas tenho uma dificuldade tremenda em me expressar tão inteligente e calmamente (ou o termo seria elegantemente?) quanto você, principalmente quando o assunto me enerva.
Eu tenho uma verdadeira aversão ao CQC. Eu acho que eles são ainda pior do que um Bolsonaro qualquer. Porque de um Bolsonaro qualquer a gente sabe o que esperar, a gente sabe o que vai sair por aquela boca insípida e até mesmo o grau de "preguiça" que vamos sentir na próxima frase dele. Mas não há uma máscara, as ofensas e a estupidez são claras. Ao contrário do CQC, que diz coisas hediondas veladas sob o véu do humor. Não que o Bolsonaro não seja nocivo, pelo contrário, mas dele sabemos exatamente o que filtrar e o que combater.
O CQC é mais pernicioso, me assusta. Porque ao mesmo tempo em que ridicularizam os alienados, é uma máquina de alienação por si. As pessoas se deslumbram com o ar "modernéte" dos apresentadores, com o formato "jornal-crítico-humorístico-cara-de-pau". Eles se apresentam como intelectuaizinhos de estilo contemporâneo, "super in" nas ondas internéticas e vibes da galera. Muito inovadores...
Mas eles insultam a inteligência das pessoas com piadinhas babacas, e se escondem atrás da nova moda do 'humor de improviso", como se o tom irônico e o ar de "sátira inteligente" (aham... senta lá, Cláudia) dessem respaldo a qualquer coisa que falam. É fácil deixar os nossos políticos constrangidos, todo mundo gosta e não precisa pensar demais.
A impressão que eu tenho é que eles se colocaram numa posição acima do "povão", acima de nós, "pessoas". Afinal, eles são (rufem os tambores!) o CQC! Eles, sim, têm aval para se esquivar da ética em prol da "crítica bem humorada".
Agora, quem é você para criticá-los?! Eles, do alto (ou do baixo, mais provável) do pênis deles, têm muito mais direito (sim, direito) de criticar, de se expressar livremente. Afinal, eles sim têm inteligência, bom senso, educação e opinião dignos para tais coisas.
O tom que eles usam de "foi só uma brincadeirinha" rouba o direito que as pessoas têm de se sentirem ofendidas, invadidas ou desrepeitadas. Pelo menos é no que eles acreditam.
Sobre o mamaço, eles falam que nunca é uma "Gisele Bündchen" que tira "o peitinho bonitinho" pra dar de mamar (porque uma Gisele Bündchen tem "peitinho", nós temos "tetas"). Quer dizer então que mulher bonita tem mais direito amamentar em público, afinal, elas estão "dando de mamar" e não "enfiando a teta na cara das pessoas". Porque se você tem um belo peito, você não precisa "enfiar na cara" de ninguém, não é mesmo?
Eles nem devem notar que embutido nesse discursinho asqueroso está a ideia de que a mulher bonita tem mais respeito. E, claro, merece mais respeito. Não me venha você com esse rocambole na minha fuça (não é na fuça do bebê, e sim na deles), mas se a mocinha ali do peitinho em pé precisar dar de mamar, são outros quinhentos. É até uma pena que ela não enfie na fuça de alguém, digo.. de algum macho. E quem melhor que os integrantes do CQC para dizer qual "modelo e marca" de mulher merece mais respeito? Logo eles, tão belos!
Eu tive a desarrozada sorte de ver o Rafinha falando sobre o estupro da mulher feia. Eu juro que pensei que fosse haver algum auê depois, mas não houve. Eu mesma pensei em começar esse auê, mas infelizmente não posso, por motivos profissionais.
Quando Rafinha diz que uma mulher feia deveria agradecer ao seu estuprador por ter sido estuprada, ele equivale o estupro ao sexo. Tem que ser muito ruim de cama pra não ver a diferença óbvia: uma coisa é sexo. A outra não. Não é simples?
Pois é, Rafinha, nós mulheres já descobrimos o quão SEXO é bom, o quanto ele pode ser prazeroso e o quanto e como nós gostamos. Sim, nós somos donas do nosso corpo, das nossas zonas erógenas, do nosso tesão e do nosso prazer. E não, não é porque você tem um pinto, que ele necessariamente irá proporcionar prazer a uma mulher, apenas pelo ato ou efeito de "metê-lo" nela. É... é difícil entender que vocês, tão fortes, tão poderosos, tão sexo forte... não têm esse poder tão arrebatador sobre nós, não?
Esse é o tipo de pensamento de um cara que, quando não consegue fazer uma mulher gozar, sai xingando a moça de frígida. Enquanto ela, a coitada, só passou por uma foda mal-dada.
Para eles "feminista" é uma mulher de TPM eterna, berrando coisas quaisquer, usando roupa de homem e queimando sutiã em praça pública. Para eles ainda é difícil assimilar que feminismo não é desapego da vaidade, não é ser (necessariamente) lésbica, ser chiliqueira-sem-causa. Ser feminista significa não subjulgar sua integridade pelo "azar" de ter nascido mulher. Uma pena que as asneiras desses babacas reflitam o pensamento da maior parte da nossa sociedade...
Peço mil desculpas por ter escrito tanto, mas andava tão desesperançosa, que você veio como um bálsamo. Eu ficava doente por dentro sem entender como as pessoas podiam engolir isso sem a menor revolta, ou pior, sem o menor juízo de valor.
Mais do que domesticar essas bestas humanas do CQC (e as tantas outras à solta por aí), precisamos de pessoas esclarecidas como você para ajudar a educar as pessoas. Para ensinar as pessoas a aprender. Ética se aprende. Respeito também.




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