GUEST POST: QUEM TEM MEDO DE MAMILOS PRETOS?
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GUEST POST: QUEM TEM MEDO DE MAMILOS PRETOS?


Fazer listinha de mulheres jovens para condenar sua sexualidade -- isso é antigo (e ridículo, e estúpido, e inclusive invejoso. Ou não parece coisa de quem não pega ninguém?).
Nossa, que nojo!
Agora, criticar mamilos de garotas porque eles são escuros? Taí algo que não existia na minha juventude (não que eu soubesse, pelo menos). Lógico que há um padrão de beleza pros seios, mas tem carinha querendo determinar que mamilo bonito só pode ser rosa? É isso mesmo, produção? E esses rapazes se consideram heterossexuais? 
Semana passada saiu uma notícia de uma lista pública esdrúxula feita na USP, campus Piracicaba. Marília Sampaio, que tem um blog e é militante da Marcha Mundial das Mulheres, escreveu sobre o tema, e autorizou que eu reproduzisse seu texto aqui:

Estava indo dormir ontem quando resolvi dar aquela última olhada na internet. Me deparo com a notícia “Ranking expõe intimidade sexual de alunas da USP e causa revolta”. Fui ler e o caso se trata de uma “brincadeirinha” que os estudantes (homens) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), no campus da USP em Piracicaba (SP) fizeram: criaram um ranking da vida sexual das meninas, afixado na área de vivência (onde há maior circulação de pessoas) para que, de maneira c o l a b o r a t i v a  os machinhos fossem marcando com quais delas eles já haviam transado. 
Não pára por aí. O ranking foi dividido em três categorias, que são elas: buceta fedida, teta preta (porque não bastar dizer que as mulheres transam -– como os homens -– é preciso dizer que nosso corpo é defeituoso, feio, fora do padrão. É aquilo: não somos apenas machistas: somos também racistas, homofóbicos…) e sociedade do anel.
Não sei como, mas ainda me surpreendo com o machismo. Fui dormir extremamente triste e pensativa. Me coloquei no lugar de cada menina que foi exposta, difamada e ridicularizada. E nem precisei fazer um grande esforço de sororidade porque eu mesma já fui vítima de ameaças nesse sentido. Certa vez tive meu aparelho celular furtado, meus e-mails e redes invadidas e o único objetivo do agressor era o de me ameaçar e chantagear através da MINHA vida intima e sexual.
Vivemos numa época em que transar ou ser livre depõe contra sua conduta, seu caráter, sobre o que você é. Comigo não funcionou, mas quantas mulheres são vitimas diariamente do revenge porn? Quantas já se suicidaram por terem sua intimidade, seu corpo, seu sexo exposto na internet? Quantas ainda serão punidas por exercer seu direito ao prazer, ao seu corpo?
Para além das consequências que esse crime na USP possa causar nas meninas é hora de parar para pensar o que significa esse ato machista. Por que esses estudantes “agroboys” quiseram ridicularizar as minas? Não gostaram do sexo? Como é: homens gostam de mulheres que transam, mas não gostam de mulheres que GOSTAM de transar? (Porque eles anotaram a quantidade de vezes em que “repetiram a dose” com a mesma garota).
Claro que gostam. Parece que o grande problema é a ousadia das mulheres quererem igualdade. Parece que é extremamente ofensivo para eles mulheres que gostam de transar sem compromisso porque assim, derrubam o mito de que elas, ou nós, sempre estamos à espera de uma relação e usamos o sexo para esse fim.
Certa vez, estava eu numa roda de conhecidos (homens) e eles falavam, de maneira bem machista que todos ali haviam “pegado” uma menina aí. Um soltou “ela rodou na nossa mão”. Apenas respondi: “Queridos, se ela pegou todos vocês, foram VOCÊS que rodaram na mão dela e não o contrário”.
Calma aí que preciso verificar
a cor dos mamilos do Denzel
pra ver se me sinto atraída
por ele ou não
Moças, transar não é errado. Muito menos gostar de transar. (Talvez a coisa errada nessa história toda seja a escolha dos caras com quem você transa. Um que te coloca num ranking não é uma boa escolha, definitivamente).
A outra coisa é a tentativa de ridicularizar nossos corpos e características.
Buceta fedida é nada mais, nada menos que a velha lógica higienista do machismo, que quer tirar de nossas vaginas os pelos e o cheiro. É a cultura do “sabonetezinho líquido” que nos empurram goela abaixo, naturalizando que mulheres não podem ter odores e fluidos, que temos que cheirar a floral. Olha só: pinto tem cheiro, buceta idem. Aceitem. Se você não gosta do cheiro natural de uma (não me refiro à falta de higiene), fique livre pra procurar algo que te agrade: talvez outro pênis ou uma boneca inflável.
Creme de clareamento anal
Teta preta é, além de racismo, um resquício da cultura do pornô. Vocês meninos que cresceram assistindo esses filmes (que vou contar pra vocês, ensinam tudo errado, viu?) que só tem mulher branca/europeia de mamilo (e c* rosa), acham que esse é o padrão, isso que é agradável aos olhos e excitante. Queridos, saiam da caixa.
[Lembrei de quando a Cléo Pires posou nua na Playboy e o grande comentário foi que seus mamilos eram escuros. Cléo, a típica brasileira, meio índia, linda… queriam que seus mamilos fossem rosados. Esse padrão de beleza híbrido (porque é impossível uma mulher só reunir todas as características “ideais”) é  também mais uma maneira de inferiorizar a mulher, como se o fato de ter mamilos escuros fosse algo ruim. Ei vocês, deixem nossos mamilos em paz].
A sociedade do anel é também um grande paradoxo. Homens, em geral, tem um grande fetiche com a relação anal. O bumbum é a preferência nacional do brasileiro (dizem) e parece que convencer uma mulher a fazer sexo anal é a meta de 8 entre cada 10 homens (de acordo com meu próprio instituto de pesquisa empírico, risos), mas se uma mulher gosta, pede, faz, aí merece ser constrangida em público.
Constrangida?
A grande arma contra o machismo e esse tipo de prática é naturalizar o que para eles é assustador: a gente gosta de sexo, a gente quer transar, a gente quer liberdade, a gente ama nosso corpo e ele não existe para agradar você homem. Nossa sexualidade não gira em torno de você. O mundo das mulheres não gira em torno de vossos paus. E é por isso que o ranking existe.
Fazendo um exercício de inversão: mulheres fariam um quadro em que julgariam os homens em categorias? Sei lá: pau pequeno, goza rápido e curte fio terra? Não. Porque NÃO existe opressão sobre a vida sexual masculina, nem ditadura para a estética do pênis, tampouco pelo cheiro que exala, muito menos que o que quer que ele faça entre quatro paredes interfira na sua imagem perante a sociedade. E mulheres não têm medo (ou inveja, né Freud?) da sexualidade dos homens.
E a resposta das minas da USP não poderia ser melhor. Se eles se assustam com liberdade, pois então que nem saiam de casa. Vai ter mulher livre, gozando e amando seu corpo. Ter uma vida sexual livre nunca foi e nunca será motivo de vergonha.
O ranking do machismo só escancarou o medo que o patriarcado e a sociedade em geral têm das mulheres livres. 
Enquanto eles escrevem em muralzinho, a gente PREFERE TRANSAR.
Não passarão.
E moças: libertem seus mamilos. Eles são lindos.




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