Por Altamiro BorgesTodo mundo sabe que a mídia impressa corre risco de extinção. Nos EUA, mais de 120 jornais fecharam nos últimos doze anos. No Europa, até diários centenários passam por sérias dificuldades. No Brasil, vários jornais também já sucumbiram. Todo mundo sabe, ainda, que o oligárquico “Estadão” está em crise. Ela é antiga e não deriva apenas da explosão da internet. Ela decorre da sua perda de credibilidade e da incompetência gerencial da famiglia Mesquita, como historiou o saudoso jornalista Mylton Severiano no livro “Nascidos para perder”. Até aí, todo mundo sabe! Mas agora é um dos herdeiros do Estadão, o empresário Rodrigo Mesquita, que confirma a tragédia. “Os meios tradicionais de massa, do jornal à TV, estão mortos. É uma questão de tempo”, postou em seu Twitter na sexta-feira (20).
O lapso de sinceridade do empresário deve ter irritado os outros herdeiros do decadente grupo midiático, que não conseguem arrumar compradores para a massa falida. Bisneto do fundador do Estadão, Rodrigo Mesquita atualmente se dedica mais ao estudo das tecnologias da informação. Daí talvez ter chegado à drástica conclusão da morte dos veículos tradicionais. Ele também foi subeditor, editor e editor-chefe do “Jornal da Tarde” – que fechou em outubro de 2012. Daí talvez sua enorme decepção. Filho de Ruy Mesquita Filho, falecido em maio de 2013, ele é irmão de Fernão Mesquita – o maluco que carregou o cartaz “Foda-se a Venezuela” numa recente marcha fascista em São Paulo – e de Ruy e João Mesquita.
Famiglia golpista e incompetenteNo imperdível livro “Nascidos para perder”, publicado pela Editora Insular em 2012, Mylton Severiano desnudou a história do Estadão – “o jornal da família que tentou tomar o poder pelo poder das palavras e das armas”. Os relatos são chocantes, alguns até risíveis. O jornal, fundado com o nome de “A Província de S. Paulo”, em janeiro de 1875, foi criado por um grupo de 21 empresários – entre eles, dez fazendeiros do café e velhos escravocratas. Desde seu início, o jornal foi um porta-voz dos interesses da oligarquia paulista. Isto explica seu ódio visceral ao presidente Getúlio Vargas, à elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e à criação da Petrobras, entre outros avanços do governo trabalhista.
A sede do “Estadão” foi o quartel-general da fracassada “revolução constitucionalista” de 1932, quando a oligarquia paulista tentou retornar ao poder central. O livro mostra que a famiglia Mesquita chegou a armazenar metralhadoras para a conspiração militar. Derrotado e exilado, Júlio Mesquita nunca abandonou sua visão golpista. O “Estadão” também teve papel de destaque na crise política que resultou no suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e na preparação do golpe militar contra o presidente João Goulart, em 1964. Depois, engoliu o seu próprio veneno, sendo alvo de censura dos generais golpistas. Na fase recente, ele se tornou um porta-voz raivoso contra os governos Lula e Dilma.
Em vários momentos desta triste história, o jornal quase esteve para fechar, mas ele sempre foi salvo pelos cofres públicos – com empréstimos e outros favores do Estado. Mylton Severiano demonstra que estas várias crises decorreram da visão conspirativa e golpista da famiglia Mesquita, mas também de inúmeros erros de gestão – inclusive na megalomaníaca aquisição do prédio na Marginal do Tietê. Nas três últimas décadas, o império midiático da famiglia Mesquita afundou em dívidas. Agora, se confirmada a previsão apocalíptica do herdeiro Rodrigo Mesquita, o jornal poderá morrer devido ao advento da internet. Triste fim do centenário jornalão da oligarquia paulista!
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